segunda-feira, 29 de novembro de 2010

CAPITAL DO DESEJO

Gilson gil (*)

Pegando de empréstimo o título do consagrado filme de Win Wenders (Asas do desejo), gostaria de indagar qual a capital – Manaus – que desejamos?

É óbvio que todos (penso nas pessoas de boa fé) desejam uma cidade com mobilidade, sem engarrafamentos, em que pegar um simples ônibus não seja uma provação. Porém, também é interessante pensarmos em uma cidade na qual formas alternativas de locomoção, como ciclovias e balsas, estejam incluídas. Da mesma forma, é bom que tenhamos uma cidade moderna, com arquitetura arrojada, verticalizada em certos bairros e planejada no geral.

Por outro lado, não é bom vermos avenidas inteiras virarem um paredão de concreto (penso logo no Passeio do Mindu), repletas de prédios descomunais. A experiência de cidades como RJ ou SP deve ser bem-vinda. A modernidade pode e deve ser conjugada a valores éticos, ambientais e cívicos. Um suposto impulso “civilizatório”, que acharia sua efetivação nos edifícios, é um equívoco conceitual e de resultados danosos às futuras gerações.

Por isso, é interessante que discussões como aquela sobre o tombamento do Encontro das Águas sejam acompanhadas por toda a sociedade civil. Temáticas distintas, tais como turismo, economia, bem estar, cultura e qualidade de vida estão envolvidas nesse debate. Valorizar os pontos de referência de uma cidade, os marcos de sua identidade, não é mero saudosismo ou conservantismo.

Unir o que de melhor a modernidade oferece com aquilo que a tradição possui de mais forte é o segredo para cidades inovadoras e com elevado padrão de vida. Nesse sentido, é salutar que haja o tombamento do Encontro das Águas e também o do Centro histórico. É lógico que Manaus precisa do monotrilho e de novos portos. Entretanto, qual o custo social e cultural de tais empreendimentos?

Este é o ponto que as autoridades precisam considerar. Achar saídas inovadoras e que respeitem o passado, mas construam o futuro, é o segredo. Manter o passado pelo passado também não é o que desejamos.

Outro tema polêmico da cidade está na informalidade predominante das ruas de Manaus. Os anúncios oficiais falam em milhares de empregos, bolsas, casas populares e oportunidades. Porém, as ruas enxergam crianças vendendo doces, ambulantes com frutas nos sinais, vendedores de churrasquinhos “de gato” e esfihas se proliferando. Há algo errado: ou as propagandas se equivocam ou essas pessoas estão ali sem necessidade. É mais do que hora de escolhas serem feitas nesse setor, com coragem (e sinceridade).

Saiba mais: http://redeci.ning.com/profiles/blogs/proposta-futurista-de?xg_source=msg_mes_network

(*) É professor doutor da UFAM.

Nenhum comentário: