Os igarapés - caminho de rio - que teimam a circular por toda a teia da cidade de Manaus incomada até hoje os governantes que pautam sua gestão na especulação do solo urbano. Por isso promovem a barbárie, aterrando ou cimentando esses caminhos para facilitar a expansão da indústria imobiliária. Não satisfeitos, procuram ainda apagar da paisagem os ícones tribais para "parecer branco" no reino endocolonial. A pavulagem dessa gente é tanta que ignoram em suas falas internacionais a presença da densidade indígena no Amazonas. No entanto, quando lhe é conveniente para captação de recursos junto às agências internacionais usam e abusam da imagem dos índios e da floresta. Até mesmo os vídeos comemorativos sobre a cidade procuram não inserir na tela a cara de índio de sua população e passam a mostrar uma cidade vazia e sem alma. A cronica de Ellza Souza é o protesto lavrado contra a morte dos igarapés, que historicamente vem sendo sugados pelos oportunistas e aventureiros que fizeram dessas barrancas acampamentos, saqueando os recursos naturais e explorando a força de trabalho de nossa gente aliados com filhos ingratos que matam a mãe e depois clamam pelo desamparo.
Ellza Souza (*)
Pra que tanto igarapé? Dizem que eram mais de cem. As autoridades que deveriam cuidar dessa terra ao longo desses quase 350 anos, devem ter feito muitas vezes essa pergunta. A resposta sempre foi: extinção de todos eles pois igarapé atrapalha o desenvolvimento da cidade. E pensa pra lá, pensa pra cá, foram secando, aterrando, poluindo e pasmem, acabaram com todos eles. Não eram poucos os límpidos igarapés que se entrecortavam no lugar onde cresceu a cidade de Manaus.
A começar pelo Espírito Santo que ficava onde hoje é a Avenida Eduardo Ribeiro. Muitos outros nessa área sumiram do nosso mapa. Até outro dia tinha um que circundava o Palácio Rio Negro na Avenida 7 de Setembro. Mesmo poluído eu gostava de ficar olhando para ele com aquelas águas tão negras, belas e plácidas. E não fazia mal a ninguém. Nós é que fizemos a barbaridade de aterrar águas tão preciosas, transformando-as em barro, cimento, casas que mais parecem poleiros. Seria tão bom se ao invés de matar tivessem revitalizado os pequenos rios, tirassem as casas de suas margens e os barquinhos voltassem a circular por eles.
Os igarapés de Manaus ou estão profundamente poluídos ou não existem mais. Na cidade que era considerada o ponto de encontro de todos os igarapés do mundo, o ser humano teve a capacidade de destruir a todos. Mindú, do Mestre Chico, de Manaus, do Quarenta, do Franco, do Japiim, do São Raimundo, da Ponte da Bolívia e muitos outros que as gerações futuras não vão conhecer nem de nome.
Por todo canto passava um desses riozinhos que aliviava o nosso chão, as nossas árvores, o calor sufocante das nossas ruas e casas hermeticamente vedadas a asfalto e cimento. Agora o que vemos é destruição, muito lixo e mau cheiro nos que restaram. E nenhum dos incontáveis governantes que tivemos ao longo desse tempo todo, teve alguma idéia brilhante que salvasse a humanidade, salvando esses igarapés.
Os habitantes da cidade têm sua parcela de culpa. Nunca fizeram uma manifestação para evitar que fossem aterrados e o que é pior alguns foram construindo suas casas na beira deles e sem nenhum senso de preservação da natureza foram transformando-os em lixeira a céu aberto. Pronto, veio o poder público e sentenciou: vamos acabar com eles. E assim fizeram desde o governador Eduardo Ribeiro até os de agora, numa seqüência inexorável de dar inveja a qualquer exterminador do futuro.
É, parece que daqui a pouco só nos restará beber lama, já que água limpa por aqui está ficando cada vez mais difícil. Tenho até medo das boas idéias que podem aparecer. A parceria do descaso é perfeita entre a população e o poder público. Parece que todos concordam que o crescimento de Manaus depende do fim dos igarapés, das árvores, dos animais... da vida humana. Ou será que o homem escapa à sua própria sanha de destruição e morte.
(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.
Ellza Souza (*)
Pra que tanto igarapé? Dizem que eram mais de cem. As autoridades que deveriam cuidar dessa terra ao longo desses quase 350 anos, devem ter feito muitas vezes essa pergunta. A resposta sempre foi: extinção de todos eles pois igarapé atrapalha o desenvolvimento da cidade. E pensa pra lá, pensa pra cá, foram secando, aterrando, poluindo e pasmem, acabaram com todos eles. Não eram poucos os límpidos igarapés que se entrecortavam no lugar onde cresceu a cidade de Manaus.
A começar pelo Espírito Santo que ficava onde hoje é a Avenida Eduardo Ribeiro. Muitos outros nessa área sumiram do nosso mapa. Até outro dia tinha um que circundava o Palácio Rio Negro na Avenida 7 de Setembro. Mesmo poluído eu gostava de ficar olhando para ele com aquelas águas tão negras, belas e plácidas. E não fazia mal a ninguém. Nós é que fizemos a barbaridade de aterrar águas tão preciosas, transformando-as em barro, cimento, casas que mais parecem poleiros. Seria tão bom se ao invés de matar tivessem revitalizado os pequenos rios, tirassem as casas de suas margens e os barquinhos voltassem a circular por eles.
Os igarapés de Manaus ou estão profundamente poluídos ou não existem mais. Na cidade que era considerada o ponto de encontro de todos os igarapés do mundo, o ser humano teve a capacidade de destruir a todos. Mindú, do Mestre Chico, de Manaus, do Quarenta, do Franco, do Japiim, do São Raimundo, da Ponte da Bolívia e muitos outros que as gerações futuras não vão conhecer nem de nome.
Por todo canto passava um desses riozinhos que aliviava o nosso chão, as nossas árvores, o calor sufocante das nossas ruas e casas hermeticamente vedadas a asfalto e cimento. Agora o que vemos é destruição, muito lixo e mau cheiro nos que restaram. E nenhum dos incontáveis governantes que tivemos ao longo desse tempo todo, teve alguma idéia brilhante que salvasse a humanidade, salvando esses igarapés.
Os habitantes da cidade têm sua parcela de culpa. Nunca fizeram uma manifestação para evitar que fossem aterrados e o que é pior alguns foram construindo suas casas na beira deles e sem nenhum senso de preservação da natureza foram transformando-os em lixeira a céu aberto. Pronto, veio o poder público e sentenciou: vamos acabar com eles. E assim fizeram desde o governador Eduardo Ribeiro até os de agora, numa seqüência inexorável de dar inveja a qualquer exterminador do futuro.
É, parece que daqui a pouco só nos restará beber lama, já que água limpa por aqui está ficando cada vez mais difícil. Tenho até medo das boas idéias que podem aparecer. A parceria do descaso é perfeita entre a população e o poder público. Parece que todos concordam que o crescimento de Manaus depende do fim dos igarapés, das árvores, dos animais... da vida humana. Ou será que o homem escapa à sua própria sanha de destruição e morte.
(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.
Um comentário:
Parabéns pela sua iniciativa, deficilmente vemos alguém erguer a voz para defender o meio ambiente em Manaus, que é constantemente atacado por covardes que só visam o lucro pessoal.
Pois você tem um parceiro nesta luta. Estou criando, juntamente com o meu sogro que também é um amante da natureza, um blog voltado à conscientização ambiental e organização de denúncias e ações visando a conservação do meio ambiente. Por enquanto ainda temos pouco conteúdo, mas dentro em breve estaremos com força total.
O endereço é http://www.vivamazonia.blogspot.com/ , faça uma visita. Estamos precisando de colaboradores como você, com senso crítico e ideais.
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