quarta-feira, 24 de novembro de 2010

ÔNIBUS EM MANAUS: UM MUNDO SEM LEI

Em Manaus, capital do Amazonas, o transporte coletivo é caso de polícia. A prefeitura reclama de uma "herança maldita", manifestando total descaso e impotência, beneficiando grupos paralelos que passam explorar o serviço sem nenhuma qualidade. Dados oficiais dão conta que dos 350 ônibus que a empresa Eucatur faz circular na cidade todos os dias, 80 quebram em serviço, denunciando a insegurança e abandono em que se encontra o povo. A solução está longe de ser encontrada pelos caminhos burocrático. Mas, a corda está para romper porque a paciência tem limite e o povo saberá a hora.

Ellza Souza (*)

Não é de hoje que observo os serviços de transportes coletivos em nossa cidade. Já denunciei, já briguei com motoristas mal educados e nunca vi melhora nenhuma. Observo sim que o serviço está cada dia pior. Houve um tempo que até aconteceu uma melhora. Parece que as empresas nesse período bom ao admitir um motorista escolhiam sempre o melhor. Havia até amizade entre o condutor do veículo e o usuário. Ao descer do ônibus as pessoas faziam questão de agradecer, dar bom dia e um até logo. Isso por que o atendimento era realmente melhor. Foi por pouco tempo.

A coisa começou a descer uma ladeira de maus serviços, péssimos funcionários, ônibus velhos, falta de respeito com os idosos, não atendimento ao sinal de parada do usuário como se estivessem fazendo um favor. Por exemplo o 123, que a gente não sabe mais a quem pertence esses veículos pois os cacarecos não tem nome da empresa legível, se restringem a meros 4 ônibus segundo apurei. Isso significa que a espera na parada é longa e no final de semana não saia, vá a pé é mais humano. Pegar ônibus nos finais de semana é algo desumano em Manaus. E assim querem receber Copa do Mundo. Como, se nem transporte adequado nós temos. É o mínimo para um evento desses. Se não dão conta de organizar o transporte coletivo como vão se adequar e por ordem ao caos vergonhoso que se transformou a outrora Manaus sorridente.

Como não gosto de dirigir e mesmo tendo “o carro” na minha simpática garagem (um fusca que já me prestou bons serviços) tento ir para os lugares de coletivo que é o mais lógico para diminuir a catástrofe que se instalou nas estreitas ruas da cidade. Nada desafoga o trânsito pois é muito carro para pouca rua.

Hoje na parada do Hotel Amazonas, no centro histórico da cidade, com as mãos cheias de sacolas, achei esquisito o movimento dos ônibus. Não queria o meu bom e velho 123. Pensei vou ficar na parada do Plaza Shoping na avenida Djalma Batista e vou ter muitas outras opções. Começou a dificuldade. Só parava ônibus que ia pela Constantino Nery. Perguntei do ambulante e ele falou que ali só o 123 ia pela Djalma, para pegar outros eu teria que ir para o ponto do Garajão.

Sem alternativa fui arrastando as sacolas de compras do mercado até o ponto informado. E lá nada. Passava um bando de veículos velhos que muito me lembrava os latas velhas da ilha de Margarita onde o pobre sofre e muito com esse mesmo problema. Fui perguntar a outro ambulante. Ele disse “passa sim”. Os números tais e tais e desfiou alguns que eu poderia pegar. Mas durante a espera comecei a observar que o cenário dos coletivos está da seguinte maneira. Com a longa espera caiu a ficha. Clareou meus pensamentos e sentimentos.

É o seguinte. O nosso sistema coletivo é composto de ônibus velhos, sujos, deprimentes e uma passagem extorsiva de 2,25. A “outra opção” são os chamados executivos. Era o que passava aos montes. Sempre lotados. São pequenos ônibus sujos, caquéticos, fechados por causa de ar condicionado inconveniente para o nosso clima, com cortinas que nunca foram lavadas e portanto cheias de ácaros e o pior ao preço de 3,00. Três reais minha gente. Eles têm coragem de cobrar 3,00. Como a população não tem opção é obrigada a pegar esses asquerosos executivos ao abusivo preço de 3,00. É o fim da picada.

Reclamar pra quem não sei mas não é possível que nossos vereadores que deveriam estar alertas para esse tipo de problema não percebam essas artimanhas, esse engodo lastimável que é o nosso transporte coletivo. Autoridades, será que a mãe de vocês estariam bem servidas circulando num veículo desses que servem aos lesos barés que não perceberam ainda que essa é uma forma de ganhar mais sem melhorar em nada o sistema. O que tem nesses “executivos” que lhes dá o direito de cobrar mais caro? Nada a não ser a cara de pau desses empresários do ramo que se sentem acima do bem e do mal. Estão colocando no nosso bem devagarzinho. Já pegaram o voto dos bestas agora que se lixem. E a solução, excelentíssimos vereadores, está nas paradas de ônibus. Conversem com as pessoas que pacientemente esperam seus ônibus. Todos têm uma resposta adequada ao problema que enfrentam. É revoltante a situação.

(*) É jornalista, escritora e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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