terça-feira, 2 de novembro de 2010

O PLANETA EM RISCO

Ellza Souza (*)

Os cursos de água doce, grandes ou pequenos, correm perigo em todo o planeta. O que pode ser o fim do mundo. Até o Danúbio com suas histórias do começo da civilização, com seus contos de fadas, com sua longa travessia pela Europa, de azul viu-se tingido de vermelho por um “acidente” vindo de uma usina de alumínio no interior da Hungria.

O rio tão encantador que já inspirou grandes contadores de belas histórias vive momentos de puro terror. Ao longo desse rio uma lama vermelha e fedorenta arrasta o que tem pela frente e ao invés de embelezar, agora segue emporcalhando as cidades e pessoas por onde passa. Como o Danúbio azul de nossas valsas, o encontro do rio Negro com o Solimões, numa fartura de água que desperta ambição e poder, pode também se transformar num mar de lama e óleo se não for definitivamente tombado como patrimônio natural da humanidade.

É sempre assim. Um acidente aqui, outro ali e as águas doces, pacatas, férteis, belas, vão pouco a pouco virando um caldo com todo tipo de resíduos industriais e tóxicos que movimentam as nossas vidas. Precisamos pensar que futuro queremos construir. Que inteligência é essa que não encontra uma saída para a vida sem substâncias mortais e que não respeita a própria natureza. Desse jeito não vamos a lugar algum. Poluindo, devastando, consumindo demais, provocando graves desastres ambientais.

Está na cara que descemos uma ladeira sem volta. Não cuidamos bem do planeta, não preservamos o que é vital para nós como a água, a floresta, os peixes, o vizinho. Sim o vizinho porque qualidade de vida implica em boas relações com todos. Os índios faziam e ainda hoje praticam isso, tirando da natureza somente o que lhes servem, sem desperdício. Exterminamos muitos desses povos para facilitar o crescimento das cidades. Inventamos televisão, rádio, celular, internet, a mais alta tecnologia, tudo para levar mais pessoas a um padrão melhor de vida. Qualidade de vida, nesses casos, é consumir cada vez mais, é adquirir à custa de “suaves prestações” o último modelo de carro.

Dentro do carrão o homem esquece que sua mãe ou seu filho são pedestres em algum momento. Sem contar que em Manaus não existe espaço para os pedestres. Será que nossos governantes perderam o prazer de andar nas ruas, a pé? (fora da época de caça aos votos, claro). Que pena mas no meu bairro o progresso chegou. Estão passando o trator nas árvores para a construção de prédios. Sempre achei que na avenida Darcy Vargas ou no espaço entre o conjunto Tocantins 1 e 2 ficaria lindo um bosque dos buritizais com o nome do proprietário do terreno que ficaria para sempre ligado a uma boa causa. Mas o dono do terreno morreu e seus descendentes estão pouco se lixando para o planeta.

Ninguém cumpre o seu papel. Nem o pobre e nem o rico. O de poucas posses por incrível que pareça, consome muito e errado. Por medo de passar fome procura comer “de um tudo” e prefere jogar no lixo o que sobra. Está sempre com um celular na mão. Todos têm uma televisão em casa que estimula sem parar a consumir produtos de qualidade duvidosa. Os ricos, fechados em seu mundo dourado, esquecem que para viver precisam dos mais pobres. E consomem de tudo porque podem. Isso forma uma roleta perigosa. Não sei o que é pior. Os pobres pelo menos não tem estudo não conseguem avaliar o impacto do que fazem. Os ricos, principalmente os políticos e grandes empresários têm estudo (pelo menos era pra ter) e sabem exatamente as conseqüências de seus atos.

A humanidade está carente de beleza, de sensibilidade, de silêncio, de poesia. Isso não significa regredir mas evoluir com sabedoria onde sua própria existência está em jogo. Às vezes acho que o ser humano está sempre esperando que o ser supremo o resgate do lamaçal em que está se metendo. Assim seria muito fácil. À margem dos rios Negro, Solimões, Tapajós, Danúbio, ainda podemos despertar grandes emoções ao som das valsas ou da música que vem da floresta resvalando no espelho da água que poderia ser cristalina e pura.

Quem acha que vale tudo por dinheiro vai ter que passar um pré-datado para o papai do céu. Será que tem crédito por lá? É melhor começar a rezar e pensar nas besteiras feitas no dia a dia. Se não for aterrado o rio escorre para o mar e pode levar fertilidade ou morte. Porque não escolhemos a primeira opção se representa a vida na terra? Que interesses são esses tão fortes que põem em risco sua própria existência e a de toda a humanidade?

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

Nenhum comentário: