Ellza Souza (*)
O som dos instrumentos de corda e das vozes do coral da Universidade Federal do Amazonas enchia o pequeno estúdio da TV Ufam. Dava pra sentir no ambiente uma aura onde a musicalidade embalava nossas mais singelas emoções. Era o dia nacional da cultura e o dia em que foi tombado, definitivamente, o nosso Encontro das Águas. Por tudo isso o programa Na terra de Ajuricaba tinha que ser diferente. E foi, pautado no banzeiro de nossos rios e de nossa Amazônia que inspiram a poesia e o encantamento das belas canções entoadas pelo coral das universitárias sob comando do maestro Adelson Santos. Além do suave balançar das águas dos rios que nesse dia inundava mentes e corações do Movimento S.O.S. Encontro das Águas, o programa também se pautou pelo descortinar dos jovens músicos do quinteto de cordas do Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro.
Esses jovens do quinteto são profissionais de primeira classe. Kimberly, a única menina do grupo, 15 anos, fala com muita seriedade do seu talento ao violino. Evangélica, moradora da Cidade Nova, tem fortes propósitos de estudar música cada vez mais, aperfeiçoando o que é nato nela. Os quatro meninos, mais ou menos da mesma idade e que moram em bairros como Betânia, Nova Cidade e Alvorada, também têm planos de seguir a carreira da música clássica, densa e bela, mais de acordo com os artistas de verdade que eles são. Wesley, Thiago, Diego, Gustavo, três deles e a Kimberly tocam violino e o outro menino manda ver no violoncelo.
O apresentador fez perguntas sobre a vida deles, sobre seus sonhos, sobre namorados. “Não tenho idade pra isso” disse a violinista, demonstrando maturidade nas suas respostas. Os jovens estudam normalmente e dedicam grande parte de seu tempo aos ensaios sob a coordenação da maestrina Elena Koynova, Aliás, momentos antes de começar o programa resolveram chamar o grupo musical de Quinteto de Cordas Koynova, uma homenagem a quem lhes ensinou a arte do amor à música.
As sete mulheres universitárias que compõem o coral do maestro Adelson, arrepiaram. Artistas de primeira classe e com vozes tão lindas e afinadas que cantam verdadeiros poemas são raridades na televisão. Deram um show e quem viu e ouviu como eu que estava ali, pertinho, não pôde deixar de se emocionar e calar diante da felicidade que tomava conta de todos. Quem estava nos bastidores e os telespectadores.
Ajuricaba deve estar se revirando no fundo dos rios que se encontram pois seu ato de extrema resistência a seus algozes não foi em vão. O homem está criando juízo. O tombamento e a juventude que se dedica a qualquer tipo de arte é começo de um novo rumo na história da humanidade. Podemos pressentir que nem tudo está perdido.
(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.
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