sexta-feira, 19 de novembro de 2010

DEUS, ANTES DA FALA INVENTOU O SORRISO...

Ivo de Aguiar (*)

Antes da fala, Deus inventou o sorriso, assim como fez o perdão antes do pecado. Inúmeras são as evidências de que o sorriso foi a primeira ferramenta de comunicação entre os seres humanos. Nas cavernas, antes de conquistarem suas mulheres, arrastando-as pelos cabelos, os homens as enganavam com sorrisos de promessas nunca cumpridas. As inocentes sofriam os maus tratos, estampando falsos sorrisos de submissão e felicidade na face.

No aparecimento da roda e do fogo, o único registro é o sorriso. Nenhum discurso, nenhuma fala. Homens e mulheres, velhos e crianças, ao redor da primeira fogueira efusivamente sorriram. Na descoberta da roda sorriam enquanto o vento acariciava-lhes os cabelos. As ferramentas de pedra e metais foram confeccionadas em meio a muitos sorrisos.

Guerreiros maravilhavam-se empunhando suas lanças, vestindo armaduras... Tão belas e sofisticadas armas feitas sob medida para a guerra. Por detrás dos capacetes, sorriam. Quando mortos, ao retirarem os elmos dos mais bravos flagravam-nos sorrindo.

Colonos trabalhavam a terra sorrindo, porque sabiam que teriam o que comer. Senhores feudais sorriam porque sabiam que teriam o que comer, beber, vestir, calçar, e juntar.

Os sorrisos dos reis e rainhas eram maiores do que os dos seus súditos. Mas ao permitirem cortejá-los, admirá-los, faziam-nos sorrir mais do que eles.

Nas revoluções houve sorrisos inigualáveis, jamais repetidos... Quando o homem chegou a lua, sorriu sem gravidade. Apesar de aquele sorriso ser o pequeno sorriso de um homem, foi um grande sorriso para a humanidade.

Atualmente os sorrisos andam meio desprestigiados. Dizem que a culpa é do estresses, e dos programas humorísticos que perderam qualidade. Já não se fazem mais piadas como antigamente.

Dos sorrisos que ultimamente tenho visto por aí, poderia destacar os das beldades desfilando nas passarelas. É sempre bom vê-las esbaldando simpatia em trajes mínimos. Do Ronaldo fenômeno, todas as vezes que faz um gol pelo Corinthians, depois de ter passado por confusões que ofuscaram o brilho de seus dentões. Do futuro ganhador da mega sena da virada, que levará a bolada de R$ 150.000.000,00... Todavia, há alguns anos um sorriso frequenta os noticiários sem que muitos de nós o tenhamos notado. Trata-se do sorriso de José Alencar, Vice-Presidente da República.

Nesse período, José Alencar submeteu-se a várias intervenções cirúrgicas para extração de tumores malignos. Em todas as ocasiões, ao ser entrevistado sobre a operação, muito antes de qualquer palavra, manifestou sorrisos. Seu rosto não lhe permite sorrisos tímidos. São sinceros, entusiasmados, alegres, convincentes, otimistas... Sorrisos de um homem que deseja ardentemente viver. De alguém que não desistiu da vida. Provavelmente, José Alencar tenha chegado ao útero esbanjando alegria, e se desenvolvido na placenta sorrindo e se tivessem lhe tirado uma ultra-sonografia à época, confirmariam minha tese.

A idade avançada o tornaria debilitado, não fossem os sorrisos que lhe tiram o peso dos anos, incorporando-lhe o espírito dos jovens esportistas que se recusam a entregar os pontos antes do jogo terminar. José Alencar luta obstinadamente contra as adversidades da doença, auxiliado por médicos renomados, remédios e tratamentos modernos... Mas o que realmente faz a diferença entre a vida e a morte, além de todo esse aparato, é a sua vontade de viver.

José de Alencar enfrenta o câncer com sorrisos, querendo nos dizer: Jamais desistam! Qualquer que seja a dificuldade enfrentada continue a caminhada. Valorize as horas de trabalho, as amizades, a família. Não perca tempo com mesquinhez e reclamações inúteis. Modifique-se enquanto há tempo, pois não haverá outra chance para viver o dia de hoje... Ame a vida!

Eu, que o admirava por, sendo patrão, ter se submetido às ordens do operário. Passei a respeitá-lo como o homem que enfrenta a morte com sorrisos.

(*) É Administrador, Matemático e Estudante de Jornalismo da UFAM

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