sexta-feira, 19 de novembro de 2010

QUEM CONHECE A MANOELA?

Ellza Souza (*)

Nunca vou esquecer a minha primeira professora, a Manoela. Tenho sorte por ser de uma geração em que os alunos amavam os seus mestres. Pela dedicação, pelos ensinamentos, até pela palmatória. Lembro também da segunda professora, a Claudete, rígida em seus princípios de ensinar a tabuada que apesar dos “bolos”, continua sendo o meu fraco. Com Manoela aprendi aos quatro anos a ler e escrever. E não foi só isso. Aprendi com ela a ter curiosidade, a buscar nos livros os ensinamentos que precisava para minha vida. Lembro do seu rosto redondo e bondoso, sua pele alva de quem não tomava sol. Era professora particular e dava aulas em sua casa na pracinha do Sul América Esporte Clube, o Sulão vermelho e branco, no bairro de São Raimundo, bem pertinho da beira do rio Negro.

Não recordo o método que ela usava para ensinar só sei que desde as primeiras lições levei vida afora aqueles ensinamentos aparentemente tão simples. A tabuada, o abc, os desenhos, o lápis de cor foram cruciais para o meu grande apego à leitura e à escrita. Quando pequena, do tamanho de um botão de rosa, andava para cima e para baixo com revistas em quadrinhos debaixo do braço para trocar com os colegas. Recordando...era Pererê, Mandrake, Contos de Fadas, Bolinha e Luluzinha, Fantasma, Gato Félix e muitas outras até a faculdade quando me apeguei à revista Veja, mais séria. Gostava de recortar, de desenhar, de dramatizar em casa quando queria chamar a atenção da minha mãe. Aliás no jardim da infância representei uma rosa numa peça ensaiada pela irmã Querubim e a minha roupa de flor era toda em papel crepom verde e cor de rosa. E cantava assim: “Eu sou a rosa. Faceira e mimosa. Eu sou a boneca. Mais preciosa. Lá no altar eu sou altaneira e no jardim eu sou a primeira”.

Quem hoje tem paciência e criatividade de fazer esse tipo de atividade com as crianças? Hoje não sei o que estão ensinando às crianças. Só sei que as manchetes estão cheias de violência nas escolas. Entre as paredes de uma escola têm acontecido verdadeiras tragédias o que demonstra que a educação no país está sem rumo.

Estudei no Jardim da Infância da irmã Querubim que ficava ao lado da igreja do bairro. Bem antes porém já ia para a casa da dona Manoela estudar. Nessa época São Raimundo era seguro e pacato. Ia sozinha para a aula particular. Esse início de aprendizado foi tão bom que restou muita saudade e um sentimento prazeroso que me acompanha permanentemente. E por isso busco a dona Manoela. Sei que mais tarde sua família saiu do bairro. Gostaria muito de falar com alguém de sua família ou que também estudou com ela. Isso foi mais ou menos nos últimos anos da década de 1950, início dos sessenta. Se você é uma dessas pessoas entre em contato comigo. Por favor. ellzasouza@yahoo.com.br

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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