sexta-feira, 18 de setembro de 2009

OS ABUTRES DA LAJES E AS GAIVOTAS DO ENCONTRO DAS ÁGUAS


Ademir Ramos*
Não convencido de minhas certezas voltei a navegar pelo Encontro das Águas nessa convergência dos Rios Negro e Solimões, que representa a natureza em espetáculo a se apresentar aos homens com raríssima beleza na magnífica unidade traduzida na formação do Rio Amazonas. Nessa unidade de ritmo, paisagem, cor, hálito e sonoridade, as formas de vida são múltiplas, permitindo aos homens voar com as gaivotas para proteger a natureza dos arrivistas e aventureiros que não sabem mais ver o belo porque foram estropiados pelo capital para viver com os abutres.
No reino desses seres animados o desejo de amar, conhecer e admirar o mundo converteu-se em interesse de se apropriar, explorar e acumular para si a riqueza do mundo, gerando a pobreza do outro e a miséria do planeta em forma de desigualdade social e irresponsabilidade ambiental.
Acuados pela miséria e pelos males causados ao meio ambiente os abutres reelaboram suas teses na perspectiva de se redimir frente à miséria, desigualdade, depredação, poluição e os vícios perpetrados por todo o mundo. Não satisfeitos, seduzem os homens e mulheres para disputar suas análises conjunturais e depois conferir legitimidade com valor de originalidade, enquanto planejam nas comissões multilaterais dos fóruns internacionais formas de controle do planeta, visando o monopólio e a hegemonia de território e de seus recursos ambientais.
A racionalidade dos abutres não tem limite porque se vale do poder econômico para fundar marco jurídico, político e cultural traduzidos num ethos dominante capaz de regrar formas comportamentais, criando um campo de força favorável aos meios e modos de sustentabilidade do sistema, movido pelo cheiro de carniça a exalar novos negócios para alimentar a máquina. Afoitos esquecem de si e dos outros, passando a disputar entre os seus a melhor parte do quinhão da riqueza acumulada ou ainda por ser conquistada, criando conflitos e disputas capazes de fraquejar o mais poderoso dos homens e seus impérios.
A metáfora em questão adéqua-se ao contexto em que vive os moradores das Comunidades do Lago do Aleixo, na Zona Leste de Manaus, na capital do Amazonas, que comparados as gaivotas alimentam-se também no berçário do Encontro das Águas, nutrindo vidas e sonhos numa perspectiva de garantir a todos melhor qualidade de vida fundamentado no equilíbrio ambiental que resulta na sustentabilidade dessas comunidades de forma continua, permanente e saudável.
As gaivotas do Encontro das Águas em forma de bando buscam em seus vôos rasantes afugentar os abutres da Lajes e da Log-In Logística Intermodal de seu território. Homens e abutres organizados em Sociedade Anônima sofrem cada vez mais da solidão da morte por reduzirem as criaturas humanas às coisas e por pretenderem destruir o encantamento que a natureza proporciona, ameaçando depredar o nosso Encontro das Águas com feias formas de guindastes, balsas metálicas, pontes de ferro aéreas, colunas de ferros, guinchos robotizados, milhares de contêineres em sua margem, ladeados de navios cargueiros internacionais com águas de lastro ameaçando o reino animal local em sua variada forma.
Na circunstância, não basta somente o vôo das gaivotas amedrontando os abutres é preciso transformar também a indignação dos amazonenses e dos amantes do meio ambiente por todo o mundo em instrumento de justiça social e ambiental sob a direção do Ministério Público do Amazonas e do Ministério Público Federal, enviando mensagens de contestação que tenham repercussão nos ativos da empresa Log-In Logística Intermodal S/A, identificando e comprometendo seus acionistas quanto à integridade da nossa Amazônia e a qualidade de vida do planeta.
(*) Professor e coordenador geral do NCPAM/UFAM.

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