sexta-feira, 4 de setembro de 2009

VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA: CONTRA O PORTO DAS LAJES

Ademir Ramos*

Na história do Brasil, o Amazonas celebra sua emancipação política na semana da Pátria, no dia 05 de setembro, data e dia em que nossas lideranças políticas conquistaram o direito de organizar e reordenar os aparelhos de Estado a partir do interesse local, em benefício da maioria da população chamada no passado como “naturais da terra”.

A Elevação a Categoria de Província é muito mais do que um status jurídico-político é uma conquista emancipatória, que mobiliza os homens a construírem o seu projeto de nação fundado, não mais nos interesses coloniais, mas na valorização, respeito e soberania do seu povo.

05 de setembro1856 é marco significativo para a história do povo do Amazonas porque funda a autonomia política de sua organização institucional como instrumento formulador de políticas púbicas em atenção aos ideais iluministas humanitários

As bases estão postas e no horizonte vislumbra-se uma estrela em direção a realização da justiça social e da construção dos meios necessários para se efetivar a produção e a distribuição da riqueza sob a força da política em forma de governo.

No curso dessas ações, o motor de partida tem sido a vontade dos manauaras, onde reside toda legitimidade do poder constituído, delegando aos políticos e governantes mandatos populares para representá-los em favor dos interesses coletivos e públicos.

Hoje os amazonenses celebram a Semana da Pátria com firme propósito de assegurar aos filhos desse chão o direito de se viver com dignidade em equilíbrio com o meio ambiente e toda forma de vida do planeta, fundamentando-se numa prática política economicamente sustentável.

Ao contrário a essas determinações, empresários irresponsáveis e políticos corruptos tramam contra os moradores das comunidades do Aleixo e do seu entorno, ameaçando construir nesse local um Terminal Portuário nas imediações do complexo sistema do nosso Encontro das Águas e do Sítio Arqueológico das Lajes, ícones que são patrimônio cultural e ambiental da humanidade.

Nesse cenário mítico-paisagístico, o mega-projeto do Terminal Portuário das Lajes pretende construir um pátio com mais de 100 mil metros quadrados de área, com capacidade para atender 250 mil unidades de contêineres, prejudicando a qualidade de vida dos manauaras por degradar, possivelmente, o cenário paisagístico e faunístico de nosso principal ponto turístico; mais ainda, a destruição biológica dos recursos hídricos, afetando diretamente a qualidade da água captada pela adutora (em construção) da zona leste de Manaus, além de interferir também na reprodução dos peixes e na alimentação das aves desse milagroso ecossistema formador do majestoso Rio Amazonas em terras brasileiras.

No entanto, os comunitários do Aleixo, em articulação com o movimento S.O.S Encontro das Águas, firmaram pacto em defesa da qualidade e formas de vida, posicionando contra a construção do referido Porto avalizado pela empresa Laje Logística S/A controlada da Log-In Logística Intermodal S/A, que representa os interesse da Vale do Rio Doce no Amazonas.

Frente às ameaças que pairam sobre o patrimônio do povo do Amazonas, a Semana da Pátria que é expressão de nossa soberania popular, transforma-se numa manifestação de resistência contra os projetos predadores que visam obter lucro fácil, destruindo a natureza e minimizando a qualidade de vida do povo, quando não, buscam se afirmar ameaçando de morte lideranças comunitárias como vem ocorrendo na Colônia Antonio Aleixo, onde as denuncias dão conta de que religiosos e comunitários encontram-se na alça de mira dos capangas da empresa que disputa a construção do Porto das Lajes.

Mas, verás que um filho teu não foge à luta. Pois, cresce o movimento de resistência contra o Porto das Lajes, ganhando às páginas dos noticiários por todo o País, despertando nos jovens, homens e mulheres a coragem de ser amazonense, participando do grito dos excluídos e das manifestações festivas de louvor a pátria mãe e, como filho desse chão declara amor e fidelidade em defesa dos seus rios e florestas; de seu povo e de sua cultura, não mais sob o jugo dos mandatários, mas como protagonista do Estado Democrático de Direito e da história do povo do Amazonas.


*Professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM e militante do Movimento S.O.S Encontro das Águas.

Nenhum comentário: