terça-feira, 24 de março de 2009

NÃO SOMOS CONTRA O DESENVOLVIMENTO

Nas águas do lago do Aleixo, que já teve uma de suas bocas assoreadas e aterradas por grileiros, estão sendo lançados toda a sorte de detritos, metal pesado, chumbo e esgotos. A questão fundiária é negligenciada pelo poder público.


Márcio Souza*

Uma das táticas para desacreditar movimentos como o nosso em defesa do Encontro das Águas e a Ponta das Lajes, áreas ameaçadas pela construção de um porto privado para embarcar contêineres do Distrito Industrial, é carimbar a ação como antiprogresso, como coisa de gente atrasada que não quer a redenção econômica do Amazonas e, pior, prefere manter as populações carentes no mesmo círculo de miséria.

Assim, defender um monumento paisagístico seria o mesmo que repetir em pleno século 21 a atitude dos movimentos Ludistas, que semearam terror entre os empresários
ingleses na passagem do século 18 para o 19.

Os Ludistas tinham como prática a destruição dos teares, segadeiras e outras máquinas que a revolução industrial estava rapidamente introduzindo nas indústrias.

Ficaram na história como quebradores de máquinas.

Pensadores da época ficaram intrigados com a atitude daquela gente humilde, profundamente religiosa, que de uma hora para outra explodia em violência, incendiando empresas e destruindo equipamentos a marretadas.

Logo encontraram o motivo: medo e insegurança. Podemos garantir que não é o nosso caso. Não queremos quebrar máquinas e nem impedir o desenvolvimento do Amazonas. Não temos nenhuma intenção de preservar a natureza intocada em detrimento da miséria em que se encontra boa parte dos moradores da área. E não temos medo ou insegurança.

Não tememos as transformações. Na verdade, as queremos! Vejamos nossa posição.
Somos contra a construção do porto privado na Ponta das Lajes. Não queremos que o
Encontro das Águas, patrimônio paisagístico e parte fundamental de nossa identidade manauara seja corrompido pelo movimento de embarcação de grande porte atracando nas suas proximidades.

Mas não somos contra a construção de portos, sejam estes privados ou públicos. Manaus conta com cerca de 60 portos e locais de atracação. Por acaso meus sete leitores ouviram falar de algum protesto nosso contra esses portos e atracadouros?

Estamos pedindo o fechamento dos portos da Superterminais e do Chibatão? Estamos nós querendo acabar com o Roadway? Alguém ouviu algum ataque nosso contra a construção da ponte sobre o rio Negro? Como podem ver não nos move nenhum espírito passadista ou antidesenvolvimentista.

Não temos nada contra o projeto da Log-in Logística intermodal em fazer um porto em Manaus. MAS NÃO NA PONTA DAS LAJES! E certamente há alternativas, se a empresa realmente estiver interessada autenticamente em nosso desenvolvimento, sem agredir nossa cultura e nossa paisagem.

Confesso aos meus sete leitores que de certa maneira entendo a escolha desses empresários que querem a construção do porto privado na Ponta das Lajes. Aquilo ali se transformou na cloaca do Distrito Industrial.

Nas águas do lago do Aleixo, que já teve uma de suas bocas assoreadas e aterradas por grileiros, estão sendo lançados toda a sorte de detritos, metal pesado, chumbo e esgotos. A questão fundiária é negligenciada pelo poder público.

O mirante das Lajes, que é de responsabilidade da Prefeitura, é um lugar abandonado e de difícil acesso, quando seria um espaço magnífico para exploração do turismo (um empresário sabido está construindo um motel).

Com tudo isso, e como o local é um lixo, não é para menos que esses empresários, que nem são daqui, estejam perplexos com a reação contrárias aos seus interesses. Pois se o Encontro das Águas é tão importante para nós, porque deixamos que chegasse a esse ponto de degradação?

*Renomado escritor e dramaturgo amazonense, articulista de A Crítica, em Manaus
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Um comentário:

Anônimo disse...

já era hora de nós cidadãos manauaras protegermos um dos nossos maiores patrimônios, que é o Encontro das Águas, com o Sítio das Lajes referendado pela brilhante pesquisa dos professores da UFAM, só falta às autoridades "mor" desse país e do Estado do Amazonas o uso do bom senso para a Viabilidade de uma construção sim, mas em outro local, sem causar danos ao meio-ambiente!!. Se formos buscar o hino de Manaus, a primeira estrofe, é simplesmente dedicada ao encontro dos rios Negro e Amazonas.
"O rio negro majestoso vai correndo pressuroso o Amazonas engrossar...". " A vitória-régia, flor ostentando linda cor tem no seu desabrochar teus sorrisos, teus afagos nos teus grandes, belos lagos onde garças vão pousar".

A referência aos Lagos, no hino, não sei explicar, mas cabe ao Lago do Aleixo em seu antigo caminhar.