segunda-feira, 9 de março de 2009

SÍTIOS GEOLÓGICOS NACIONAIS

Márcio Souza*

Entre as mensagens recebidas a propósito da iminente destruição das Lajes e do Encontro das Águas pela empresa Lajes Logística, que quer construir um porto privatizado (que eles chamam cinicamente de verde) para embarque exclusivo de container de grandes grupos econômicos internacionais, há uma especialmente relevante que passo agora a reproduzir:

Prezado Senhor,

Sou fã dos seus artigos dos domingos na Crítica, como lhe disse na segunda passada na Saldanha Marinho. Nos dois últimos artigos notei a sua profunda preocupação com o futuro da Ponta das Lajes e do Encontro das Águas. A respeito disso informo que, junto com o colega Hairton Igreja do Departamento de Geociência da UFAM, tempo atrás, enviamos aos organizadores do SIGEP, a proposta de ter a Ponta das Lajes e o Encontro das Águas tombadas como ‘Sítios geológicos nacionais’. O SIGEP – Sítios Geológicos e Paleontológicos do Brasil – depende do Ministério de Minas e Energia, do Departamento Nacional de Produção Mineral, do Serviço Geológico do Brasil. A comissão para avaliação dos sítios solicitados tem como integrantes a Academia Brasileira de Ciência (ABC), a Associação Brasileira dos Estudos Quaternário (ABEQUA), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPLHAN), o Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a Sociedade Brasileira de Geologia (SBG), a Sociedade Brasileira de Paleontologia (SBP). Nossa proposta foi aceita por unanimidade. Veja no Google, SIGEP Ponta das Lajes quais foram as nossas justificativas e quais as respostas dos representantes oficiais das entidades julgadoras, especialmente a resposta da Isolda Honnen do IPHAN.Estamos, nesse momento, terminando de escrever o artigo para publicação no próximo volume do SIGEP. Faço votos que a nossa contribuição possa ajudar a salvar a Ponta das Lajes e do Encontro das Águas.

Agradeço a sua colaboração e apresento cordiais saudações.

Elena Franzinelli

Como podemos ver não se trata apenas de salvar da destruição um bem paisagístico, mas preservar parte da memória de nosso passado distante, numa região em que são raros os sítios peleontológicos que apresentam traços de nossa formação geológica.

É importante ressaltar a suma importância do estudo do período quaternário, que é o momento da formação da Amazônia, pois neste mesmo período ocorreram fenômenos ainda pouco conhecidos com o surgimento de novas formas de vegetais e a extinção em massa de diversas espécies de vida animal.

A informação da professora Franzinelli mostra que a preservação das Lajes é importante para o conhecimento do próprio passado do planeta. Não será a ambição de lucro de um punhado de ambiciosos arrogantes que vai conseguir obliterar o nosso passado.

Aliás, a Câmara de Vereadores solicitou a tal Lajes Logística que apresentasse o projeto do porto em sessão pública na quinta-feira passada. Lá não apareceu e saiu na imprensa uma nota pedindo mais prazo, já que faltavam documentos. É claro, eles não podem apresentar nada que justifique os danos que irão causar, pois que os órgãos públicos, tanto municipais, estaduais e federais estão agindo dentro da lei.

Mas os vereadores fiquem vigilantes para que não apareçam lá com dispendiosas estratégias de marketing para enganar trouxa.

*Renomado escritor e dramaturgo amazonense, articulista de A Crítica, em Manaus.


Foto: Achilies Pinheiro (Professora Elena Franzinelle e Professor Hairton Igreja na Carava SOS Encontro das Aguas)

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