segunda-feira, 23 de março de 2009

MANIFESTO A LIBERDADE DE SOCIABILIZAÇÃO ENTRE OS CURSOS



Thiago Rocha de Queiroz*

Em nome das pessoas que participaram do “trote” do curso de História da UFAM, venho aqui exercer o direito de liberdade de expressão, onde, no artigo 5º da nossa Constituição, inciso IV, nos diz: é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato, assim como o inciso IX do mesmo artigo afirma: é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença.

Para profissionais e estudantes que se orgulham tanto por não trabalhar mais com termos como “verdade”, é revoltante perceber que a análise de uma situação como a ocorrida no dia 19 de março de 2009, onde uma estudante do curso de História da UFAM foi supostamente “violentada”, “humilhada” e por que não, “torturada”, por um grupo de estudantes maquiavélicos, seja compreendida dessa forma, sem investigação, confiando em boatos e o pior, na mídia sensacionalista.

Para uma tribo tão viciada em conceitos, o parágrafo abaixo serve para ilustrar teoricamente a manifestação:

“O “trote” é uma tradição brasileira, em alguns aspectos, similar à praxe em Portugal, que consiste em um conjunto de atividades, que podem ser leves (brincadeiras) ou graves (humilhações ou agressões). A palavra "trote" possui correspondentes em vários idiomas, como trote (espanhol), trotto (italiano), trot (francês), trot (inglês) e trotten (alemão). Em todos estes idiomas, e também em português, o termo se refere a uma certa forma de se movimentar dos cavalos, uma andadura que se situa entre o passo (mais lento) e o galope (mais rápido). Todavia, deve ser lembrado que o trote não é uma andadura normal e habitual do cavalo, mas algo que deve ser ensinado a ele (muitas vezes à base de chicotadas e esporadas). Da mesma forma, o calouro é encarado pelo veterano como algo que deve ser domesticado pelo emprego de práticas que podem ser, ou não, humilhantes e vexatórias; em suma, o calouro deve "aprender a trotar".”

Teoricamente, o trote não é uma manifestação de humilhação, mas sim uma sociabilização entre participantes de um mesmo grupo, ainda que muitos utilizem para fins de humilhação, que não foi o nosso caso.

Entretanto, o que intriga é o fato de não se perguntar: Como se procede o andamento de um trote ou como se dá o nível de humilhação?

Isso é negar a nossa metodologia.

O acontecimento do dia 19.03.09, segundo a mídia e os boatos, foi conduzido de forma terrível pelos supostos “marginais acadêmicos”: Havia granadas, bombas, sprays de pimenta... Vale ressaltar que tudo isso foi acompanhado de chicotes e cacetetes, ao som alto e poluidor de bandas de heavy metal.

Mas o historiador, logo ele, tão pretenso investigador, não trabalha sem fontes!

É preciso ir além do senso comum.

Se trabalharmos com história oral e analisarmos profundamente o episódio, veremos, a partir das entrevistas, que todos os participantes estavam satisfeitos e não apresentaram nenhuma ou qualquer resistência, pois estavam representando o momento como algo fundamental não para o currículo oficial, tão suado por alguns, mas como algo que faz parte da tradição interna dos alunos e que não possui, é claro (e nem deve), vínculo com a instituição.

Durante as pesquisas de campo, descobrimos fontes interessantes que revelam a terrível situação que os calouros foram supostamente submetidos: ataques mortais de tinta guash, das mais variadas cores, ovos, trigo, batom, café e um arsenal quase diabólico de balões coloridos, que irritaram os seus sensíveis ouvidos.

O ápice da manifestação foi que uma aluna conceituada como especial, pelos supostos detentores da legalidade, estava envolvida entre as ações dos “terríveis malfeitores”, acusados posteriormente de genocidas, terroristas e com leves tendências comunistas pelo telejornal exibido na manha do dia 20.03.09, pela TV ACRÍTICA.

Como fontes possuímos o que há de melhor para contrariar essa tese: Fotos, videos, entrevistas... Possuimos um arsenal de fontes que nos servem para justificar dialeticamente a hipótese de que todos os alunos participantes, inclusive a aluna, estavam cientes e podem responder por si quanto ao episódio.

Mas a problemática talvez não seja apenas de ordem social. O preconceito mesquinho e arrogante de acreditar que alguem com supostas necessidades especiais não pode responder por si ou simplesmente, não pode se divertir entre os demais, em uma manifestação onde a sociabilidade é o horizonte, talvez seja a maior delas.

Nós, pretensos ilustrados, que sempre ouvimos falar em PCN’s sobre inserção social, seríamos tão incapazes de enxergar isso? De não analisar a situação por outro viés? De nos apoiar em dados tão incertos e tendenciosos?

A questão do trote foi apenas um reflexo do quanto ainda somos insensíveis e preconceituosos, do quanto o nosso olhar é tendencioso e materialista.

Até o momento, a mídia já deve ter construído um discurso distorcido sobre o episódio, revelando o lado negro de uma manifestação que deveria, e teve, o intuito de sociabilizar os alunos com as demais turmas.

Irão me perguntar: Mas será que isso só poderia ser feito dessa forma?

E eu responderei: Porque compramos ovos de pascoa apenas em Abril?


A tendência de todo cientista é retirar a essência da vida, encontrando um razão lógica, suficiente, prática a tudo, e atribuíndo assim uma categoria sistemática e conceitual aos objetos. O trote é talvez uma tradição semelhante ao conceito Bakthianiano de grotesco, “onde esse acaba revelando o essencial do sujeito, quebrando as aparencias e revelando o quanto necessitamos as vezes de sentir a ilusão da vida se manifestar diante de nós”. Grande parte dos alunos desejavam pegar o trote (inclusive, alguns responderam que ficariam indignados se não pegassem) e ele, bem conduzido como foi, acabou sendo uma experiência saudável que, infelizmente, não conseguiu juntar todos dentro da mesma teia de representações, como diz o nosso velho antropólogo Clifford Geertz.

* Estudante de História da UFAM.

6 comentários:

Anônimo disse...

os antigos mulçumanos e arábes contam em seus livros mais antigos que tudo começou com pequenas brincadeiras, onde uma vez ou outra alguém saia ferido, e tudo ia continuando e continuando, até que um dia, tudo o que era um pequena brincadeira, uma "tradição" acabou se tornando em lutar armada, o que veio a se tornar mais tarde uma das mais violentas e sanguinárias guerras do mundo arábe - as guerras santas.
Então, tiago, deixe de defender uma atitude, tida como democratica e tradição e passe a ver o mundo de outra ótica.
Pois, é assim que surgem os grandes conflitos sanguinários da terra, um trote nada mais é do que uma iniciação à brutalidade e violencia dentro da sociedade pós modernista.
pessoas como vc, é que se alistam nos exercitos de homens bombas, kamikases e suicidas lunáticos que levantam a bandeira de muitos "trotes" espealhados pelo mundo.

Alimentar a violencia, é burrice, mais burrice ainda é incentiva- lá e defendê-la. Em seu Tiago veja o que vc está fazendo.....

Anônimo disse...

Bom, uma vez me disseram um argumento interessante: "A visão de um sujeito sobre o mundo condiciona bastante a sua postura diante dele". Só alguem muito metodico, demasiado legalista, vazio de sentidos, mascarado por uma figura intelectual que só esconde a sua fraqueza como homem, retiraria um sentido como esse sobre o artigo.

Sem mais palavras.

Anônimo disse...

Sabe por que vc usa os argumentos de terceiros? Simplesmente por que vc não tem opinião,além do seu desejo carapuçado de defender a btutalidade dos seus iguais de Ex- torias. Pode me dizer uma coisa, do qual livro de história vc colou isso que vc escreveu acima, seu sem argumentos. Se é realmente o que pensa ou se engana que é por que não colocar o que a tua mente futil e bitola achou que pensou por si só?

Pra quem não tem argumentos e usa argumentos de terceiros, só resta lamentar que um espaço desse possa usado por elementos como vc. mas o mundo é democrático e está cheio de extremistas kamikases como vc.

Fui... e ver se ao escrever usa a tua mediocridade e escreve por si mesmo.

Anônimo disse...

Ainda que alguns sejam contra, é dificil lutar contra uma tradição de violência institucionalizada, pois para além dos alunos que compactuam com tal "ritual de passagem", os professores apoiam tais atitudes dentro do campus. Se não fosse assim, esses acontecimentos "tradicionais", seriam represados com mais eficácia. O problema não é somente o ato repugnante de humilhação coletiva que o calouro é submetido, mas já que meu colega
Thiago fala em liberdade, então deveria ter proporcionado aqueles que não queriam participar, a liberdade de saírem ilesos da tal "brincadeira", o ponto está na coerção que é praticada pelos veteranos para que TODOS participem...Isso já quebra várias leis, inclusive a de ir e vir que está no Código Civil Brasileiro. Falemos de liberdade, então não sejamos hipócritas para ver que os calouros não tem escolha, pois se escapam dessa "recepção", são logo excluÍdos da rede de relações com outros alunos veteranos no decorrer do curso. Querem fazer trote: Beleza! Mas vamos respeitar quem não quer participar e as outras aulas que estão acontecendo dentro do campus, porque os apitaços, a balburdia, e gritos atrapalham quem quer estudar!!!

Thiago disse...

Palmas ao grande teórico do novo milenio!

Palmas, palmas... mais mais... rsrs

é de lá que emana o conhecimento em sua imagem e semelhança!

rsrs...

Não preciso dizer mais nada...

hahaha.

Ah, e outra coisa.

Aprende a ler, a controlar a tua vaidade, moralidade e a se divertir tambem cara, pois faz parte da vida academica e da vida em si.

=)

Beber de vez enquando faz bem, expande as idéias...

Ops, acabei de fazer apologia a bebida alcoolica, =x

Acabei de condicionar muita gente a matar milhares no transito, a espancar os filhos e tal...

meu deus...

hahaha.

Sem mais palavras, mesmo.

Anônimo disse...

Fundamentação teorica incrivel! Mas não se esqueça de que a história não é feita só de permanencias mas tb de rupturas.Entre as coisas que devemos romper é com a violência,e práticas libertinas e sociopáticas como o trote.