terça-feira, 3 de março de 2009

MAIS SOBRE O PORTO DAS LAJES

Márcio Souza*

Registro e agradeço as mensagens de apoio recebidas durante a semana, todas se solidarizando contra a possibilidade de termos as Lajes e o encontro das águas destruído pela falta de visão de um Ministro de Estado de baixo teor intelectual e alto teor de desejos inconfessáveis e empresários desenraizados e sem escrúpulos. O que mais me surpreende não foi o número elevado de mensagens de populares e cidadãos comuns e conscientes, mas a ausência na frente de combate dos intelectuais da cidade, dos artistas, dos estudantes universitários e secundaristas.

Os estudantes parecem anestesiados pelo oportunismo corporativo. Aparentemente só se mobilizam quando seus interesses imediatos são ameaçados, como foi o caso da meia passagem de ônibus. Agora pergunto eu, onde está a generosidade da juventude pelas causas nobres? Será que as lideranças estudantis de nosso estado aderiram ao movimento estudantil de resultado? Nem sei se é boa idéia invocar os universitários de Manaus.

Na semana passada alguns alunos de uma daquelas universidades caça níqueis da Joaquim Nabuco estavam apoiando a privatização da rua Huascar de Figueiredo contra a ação da prefeitura que tentava retirar as bancas de venda de (alimentos?). E os artistas? Será que estão matando o próprio ócio criativo nas ante-salas das secretarias de cultura, em busca de uns trocadinhos? Será que já não são mais capazes de enxergar a realidade em que estão vivendo?

Em que esconderijo se meteu o nosso orgulho, ou será que definitivamente se transformou numa musiquinha vagabunda de propaganda? Enquanto isso, solitários mais firmes em seus propósitos, os movimentos populares estão ativos. São esses movimentos que estão mantendo viva a chama da cidadania. Essa gente está reunida em instituições do movimento social como o Centro Social e Educacional do Lago do Aleixo, o Clube de Mães da Colônia Antonio Aleixo, a Associação de Pescadores do Lago do Aleixo, o Movimento de Reintegração de Pessoas Atingidas pela Hanseníase – Mohan, os Professores das Escolas Públicas da Colônia Antonio Aleixo, a Associação de Moradores da Bela Vista -Puraquequara, a Arquidiocese de Manaus – Paróquia Nossa Senhora das Graças – Aleixo, os Flutuantes do Lago do Aleixo e o Centro de Direitos Humanos da Arquidiocese de Manaus.

Como os leitores podem perceber, não vai ser fácil derrotar o poder que se une para perpetrar o que poderá ser o maior crime ambiental e social do começo do século 21. Como disse no domingo passado, e volto a repetir hoje, nenhum dos ansiosos planejadores da tragédia anunciada têm raízes aqui, são todos arrivistas ou aqui foram recebidos de braços abertos e galgaram postos que sequer podiam sonhar em seus terras de origem. Essa gente, que ninguém se iluda, não tem qualquer compromisso com o futuro do Amazonas. O compromisso é bem outro.

E o Roadway? Não foi privatizado para atender as demandas do chamado desenvolvimento econômico? Não foi privatizado para receber investimentos em tecnologia portuária? O que aconteceu? Por que agora um porto exclusivo para carga e descarga? Um porto que vai privatizar um monumento paisagístico nosso, que faz parte de nossa identidade, para beneficiar meia dúzia. O Roadway é ainda porto de desembarque de passageiros, que logo de cara são recepcionados pela mixórdia urbana em que Manaus se transformou. Por que não se resolve a questão do Roadway, hoje um lugar infecto, meio shopping Center mambembe e zona de prostituição. Como ficamos?

Foto: Achiles Pinheiro

*Renomado escritor e dramaturgo amazonense, articulista de A Crítica, em Manaus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Marcio Souza toca numa questão importante: a mobilização de determinados movimentos sociais que só se comprometem com algo quando isto é de seu interesse direto. Não há uma discussão em torno de temas gerais, como é o caso do porto das lajes. Parabenizo, neste sentido, não o autor deste belo artigo, mas os atores sociais que lhe sensibilizaram e o inspiraram, estas pessoas, dos movimentos sociais da Colonia Antonio Aleixo, que por entenderem seu papel histórico para com a cidade de Manaus lutam contra a ambição do grande capital e falta de escrúpulo dos emresários que estão envolvidos!