terça-feira, 17 de março de 2009

SOBRE A INDIFERENÇA

Odeio os indiferentes. Acredito que viver significa tomar partido... Quem de verdade existe e vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia! Não é vida. A indiferença é o peso morto da história.

Tenório Telles*

A omissão é responsável por muitos males, erros e desenganos. Muitas tragédias ocorreram porque os que poderia evitá-las, omitiram-se. Os tiranos e os governantes inescrupulosos açambarcaram o poder porque são favoráveis pela indiferença e a ignorância de grande parte da sociedade. O pensador inglês Edmundo Burke considerava que “para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada.”

O que me pergunto é por que os homens bons costumam se esquivar das demandas sociais, das questões políticas e, especialmente, da participação nas questões de Estado? Uma análise do nível cultural e político dos membros dos parlamentos do país é sintomático desse estado de indigência. Com raras exceções, a maioria deveria voltar à escola para se realfabetizar, aprender boas maneiras e a ter postura, sem falar nos contraventores que buscam a política para se proteger da justiça e continuar impunes.

Afinal, para que tem servido a imunidade política no Brasil, a não ser para proteger os aproveitadores e pilhadores do patrimônio público? Inquieta-me o fato de os homens de bem aceitarem essa situação. Por quê? O mal que essas almas doentes causam à sociedade é imperdoável.

Os recursos que subtraem ou que desperdiçam com obras e projetos inúteis seriam suficientes para construir centenas de escolas, hospitais, creches, moradias...Tantas vidas poderiam ser salvas... Quantos jovens poderiam ter um destino melhor, uma vida digna, crescer, instruir-se, tornar-se um profissional, um bom cidadão.

A ambição de alguns poucos causa a ruína e a destruição de gerações de seres humanos. O pior de tudo isso é que essas coisas não levam a nada: o poder, pelo qual esmagam os outros, passa; o dinheiro, que subtraem indevidamente, esvai-se, não os salva da destruição, da morte. E, ao partir para o outro lado da via, o que levam?

O maior legado de um ser humano não é a fortuna que consegue juntar ou o poder que conquista, mas o que deixa de positivo: as relações, os exemplos, a contribuição para a continuidade da vida. A questão, entretanto, é: quem está preocupado com essas coisas? Essas reflexões me remetem a um lindo texto, escrito em 1926, pelo filósofo italiano Antonio Gramci “La Cittá Futura”:

Odeio os indiferentes. Acredito que viver significa tomar partido... Quem de verdade existe e vive não pode deixar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia! Não é vida. A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador. É a matéria em que se afogam freqüentemente os entusiasmos mais esplendorosos... Odeio os indiferentes também porque me provocam tédio as suas lamúrias de eternos inocentes. Peço conta a todos eles pela maneira como cumpriram a tarefa que a vida lhes impôs e impõe cotidianamente, do que fizeram e, sobretudo, do que não fizeram. E sinto... que não devo desperdiçar minha compaixão, que não posso repartir com eles minhas lágrima. Sou cidadão, estou vivo, sinto nas consciências viris dos que estão comigo pulsar a atividade da cidade futura, que estamos a construir.

Quem sabe um dia a via não venha a se tornar uma celebração do bem, da fraternidade, da beleza, da justiça e do pão! Quem sabe um dia o mundo venha a se tornar um lugar de paz, tolerância, solidariedade, convivência pacífica entre os povos, raças, crenças e convicções. Quem sabe um dia o ser humano aprenda que viemos à vida para sermos felizes, para convivermos, para sermos. Afinal, é tudo passageiro, e o que levamos é exatamente o que deixamos.

*Professor, editor e escritor amazonense, articulista de A Crítica, em Manaus.

Um comentário:

Anônimo disse...

Infelizmente, muita gente "boa" cruza os braços pelo fato de pensar "não tem mais jeito" ou "eu não tenho nada haver com isso". É o que está acontecendo atualmente na cidade de Manaus, mas ainda há pessoas que podemos contar... e quem sabe tudo pode ser "diferente".