Orlando SAMPAIO SILVA (*)
Em uma manhã de Domingo de 1942, tendo eu dez anos de idade, fui com meu pai fazer mais uma visita ao Museu “Emilio Goeldi”. Lá encontramos conversando de pé, em frente ao Aquário, dois antropólogos, Carlos Estevão e Curt Nimuendaju. Meu pai, cearense, era amigo de seu conterrâneo Carlos Estevão. Fomos apresentados a Nimuendaju, esta figura quase lendária da antropologia brasileira, que fez etnografia em grupos indígenas de todas as regiões brasileiras.Tomando este fio da meada, passo a narrar outro encontro meu, ocorrido no Museu, porém, já em 1955. Eu, estudante universitário, lá conheci o antropólogo Eduardo Galvão, recém-chegado do Rio de Janeiro. Ainda jovem, Galvão chegou para um longo labor profissional em nossa prestigiada instituição de pesquisa ao longo de vinte anos.
Poucos anos mais tarde, eu e Galvão éramos colegas como professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Pará – FFCL-PA. Galvão dava aulas de Etnologia e Etnografia Geral e de Etnologia e Etnografia do Brasil e Língua Tupi. Nosso antropólogo não se demorou no magistério em nossa Faculdade; outros professores foram sucessivamente indicados por ele para ocupar as referidas cátedras.
A partir de março de 1966, novos fatos vieram a estreitar meu relacionamento profissional e pessoal com Eduardo Galvão. Tendo eu retornado a Belém de meus cursos de pós-graduação realizados na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, assumi a chefia do Departamento de Ciências Sociais da FFCL-UFPA. Então, eu era o professor titular de Metodologia e Técnicas de Pesquisas em Ciências Sociais. Passei a convidar alguns colegas para fazerem palestras sobre a metodologia de pesquisa que empregavam no campo, entre estes, Eduardo Galvão, Edson Diniz, Protasio Frikel e Mário Simões.
Galvão com sua voz rouca e baixa despertava grande interesse nos alunos, que se esforçavam para compreender suas palavras, enquanto eu alertava o palestrante para tentar falar mais alto, esforço que não era cômodo para o ilustre mestre. Também, passei a organizar e coordenar seminários sobre temas antropológicos e sociológicos relacionados com a Amazônia, eventos que se realizavam à noite na Faculdade, na Av. Generalíssimo Deodoro. Galvão foi convidado por mim a participar e levou aos nossos encontros as narrativas de suas experiências e seus saberes, enfatizando a questão teórica e empírica da aculturação, tema que com ele discuti.
Em 1966, com a anuência oficial da direção da Faculdade de Filosofia e com a concordância do Chefe da Divisão de Antropologia do Museu Goeldi, Eduardo Galvão, passei a dedicar meio expediente de meu trabalho diário como professor em tempo integral ao estágio naquela Divisão de Antropologia, sob a orientação de Galvão, que dizia ser eu um estagiário especial, já que lavara comigo para a sua instituição o meu projeto de pesquisa entre japoneses da Zona Bragantina, que eu estava desenvolvendo como estudo de campo de minha cadeira. Meu projeto se enquadrava nos interesses que tinha Eduardo Galvão por estudos sobre mudanças culturais em áreas rurais.
Fui estagiário na Divisão de Antropologia do Museu Goeldi, sob a batuta competente de Eduardo Galvão, até fins de 1969, quando, tendo sido aposentado pelo governo militar, mudei-me para São Paulo. Meu estágio foi contínuo, tendo apenas sido interrompido em duas oportunidades em que, na minha condição de Vice-Diretor da FFCL-UFPA, assumi a direção da Faculdade.
Meu estágio no Museu Goeldi e a convivência com os colegas da antropologia (Galvão, Edson Diniz, Adélia Engrácia de Oliveira, Expedito Arnaud, Protasio Frikel, Mário Simões, Judith Shapiro), por um lado, reforçaram em mim meu interesse pelos estudos etnológicos e etnográficos em sociedades indígenas e, por outro lado, me propiciaram acompanhar, em parte, o pensamento e a produção antropológicos de Galvão ao longo de seu labor constitutivo, no tempo em que os mesmos eram gerados. Nessa fase, Galvão efetivou excursões às aldeias indígenas e elaborações de alguns de seus textos.
Em face desta circunstância vivencial, decidi conhecer, ao longo dos anos, toda a obra publicada de Eduardo Galvão e mais o que fosse, então, possível de seus cadernos de campo ainda não publicados. Esse conhecimento levou-me a eleger a obra de Galvão como a matéria e a substância de minha tese de doutorado, que defendi na PUC-SP. Debrucei-me sobre a obra de Galvão, que foi objeto de minha análise-crítica com a profundidade perceptiva e gnosiológica possível; análise-crítica de seu trabalho de campo em um número considerável de grupos indígenas e em comunidades rurais, bem como, de seu pensamento e de suas propostas orientadoras, indicadoras de caminhos.
Minha tese se intitula “Índios e Caboclos: Estudo da Obra de Eduardo Galvão”. Publiquei-a, com alterações necessárias, no meu livro “Eduardo Galvão: Índios e Caboclos” (Ed. Annablume, São Paulo, 2008). Em meu estudo percebi a vida produtiva de Galvão dividida em três períodos. Seus trabalhos publicados são abordados como criações próprias de cada um destes períodos. O primeiro período (P. 1) é o do jovem Galvão, eu diria, é o período de formação do antropólogo.
Nele, os trabalhos publicados são, predominantemente, em co-autoria, sendo que parte deles tendo como companheiro Charles Wagley, antropólogo norte-americano muito ligado ao nosso país, que veio a ser o orientador no doutorado de Galvão na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos. Os textos desta fase contêm as observações de campo de Galvão desde a primeira, que ele realizou aos dezenove anos de idade (1939 e primeiros meses de 1940), em companhia de Wagley, entre os Tapirapé. Porém, seu primeiro trabalho publicado versou sobre o parentesco tupí-guaraní, em co-autoria com C. Wagley (1946). Durante este período, Galvão cursou História e Geografia na Faculdade de Filosofia do Instituto Lafayete (que veio a ser a Faculdade de Filosofia da Universidade do Estado da Guanabara), tendo concluído seu bacharelado em 1946. No ano de 1939, E. Galvão ingressou no Museu Nacional como estagiário.
Em 1941, Galvão fez cursos de formação em antropologia no Museu Nacional. Deste então até 1947, trabalhou nesta instituição de pesquisa como naturalista. De 1947 a 1949, Galvão faz seu doutorado na Columbia University, vindo a defender sua tese em 1952. Em seu estudo doutoral, Galvão estudou principalmente a dimensão religiosa de uma comunidade do interior do Pará, Itá (Gurupá). Retornando dos Estados Unidos, nesse mesmo ano, Galvão foi contratado pelo Serviço de Proteção aos Índios – SPI, dando início à sua vida propriamente profissional e adentrando no segundo período (P. 2) de sua produção científica, cujo primeiro marco é sua tese. Este período se caracteriza pela publicação de textos científicos individualizados. Na terceira fase de sua produção acadêmica (P. 3), Galvão retorna à publicação de trabalhos em co-autoria, basicamente, com colegas do Museu Goeldi, tais como Adélia Engrácia de Oliveira Rodrigues.
No SPI, Galvão trabalhou ao lado de Darcy Ribeiro e de Roberto Cardoso de Oliveira, e chefiou a Secção de Orientação e Assistência, no Museu do Índio, no Rio de Janeiro. Em 1955, Galvão foi para o Museu Paraense “Emilio Goeldi”, onde teve o principal locus de trabalho de sua vida; lá labutou, com curta interrupção quando foi para a Universidade de Brasília, ao longo de duas décadas, onde foi, fundamentalmente, o brilhante coordenador do setor de antropologia, tendo passado pela direção do Museu. Quando Galvão foi para o Goeldi, encontrava-se no segundo período de sua produtividade científica, fase de notável maturidade intelectual, que vem da conquista de seu título de doutor em antropologia e se estende até os primeiros anos 60. Neste período, Galvão levou à comunidade científica seu pensamento e suas idéias sobre como fazer antropologia em nosso país, concepções que ele expôs principalmente por intermédio de conferências. Foi ao campo, pesquisou sociedades indígenas em si mesmas (como os Kamaiurá) e, fundamentalmente, em grupos em contatos entre si e com a sociedade inclusiva, desvelando processos de mudanças culturais e aculturativos, temas de sua predileção.
Com base nessas constatações e inspirado, porém criticamente, em hipóteses de áreas culturais de colegas norte-americanos, tais como Steward, Murdock e Kroeber, ele percebeu que as sociedades indígenas vivem (ou viviam, no período de 1900 a 1959) em espaços que se constituíam em Àreas Culturais Índígenas do Brasil: 1900-1959 (Bol. do Museu P. Emilio Gueldi, n.s., Antrop., n° 8, Belém, 1960), nas quais interagiam em processos culturais intertribais e extratribais. Galvão intuiu nos dados empíricos observados no campo por ele e por outros antropólogos, ocorrências de sistemas de inter-influências culturais e sociais entre diferentes sociedades gestados no complexo social tempo-espacial. Voltou-se para a etnologia da “cultura xinguana”, na prototípica “área do uluri”, Parque Indígena do Xingu, onde vicejam processos aculturativos intertribais.
Eduardo Galvão, também, captou, com sabedoria, a categoria social do caboclo já constituído em Itá (Gurupá), em sua Tese (“Santos e Visagens: Um estudo da vida religiosa de Ita, Baixo Amazonas”, 1976) e, do caboclo em formação, nas pesquisas que desenvolveu entre os Tenetehára, no Maranhão, e em meio às populações indígenas e não indígenas do Alto Rio Negro. Galvão, em textos densos, caracterizou e conceituou esse ser social mestiço,“híbrido” cultural, social e biologicamente, e, quase sempre, marginalizado, subordinado e explorado economicamente.
(*) É professor doutor em antropologia com profundo conhecimento da problemática Amazônica.
Em uma manhã de Domingo de 1942, tendo eu dez anos de idade, fui com meu pai fazer mais uma visita ao Museu “Emilio Goeldi”. Lá encontramos conversando de pé, em frente ao Aquário, dois antropólogos, Carlos Estevão e Curt Nimuendaju. Meu pai, cearense, era amigo de seu conterrâneo Carlos Estevão. Fomos apresentados a Nimuendaju, esta figura quase lendária da antropologia brasileira, que fez etnografia em grupos indígenas de todas as regiões brasileiras.Tomando este fio da meada, passo a narrar outro encontro meu, ocorrido no Museu, porém, já em 1955. Eu, estudante universitário, lá conheci o antropólogo Eduardo Galvão, recém-chegado do Rio de Janeiro. Ainda jovem, Galvão chegou para um longo labor profissional em nossa prestigiada instituição de pesquisa ao longo de vinte anos.
Poucos anos mais tarde, eu e Galvão éramos colegas como professores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Pará – FFCL-PA. Galvão dava aulas de Etnologia e Etnografia Geral e de Etnologia e Etnografia do Brasil e Língua Tupi. Nosso antropólogo não se demorou no magistério em nossa Faculdade; outros professores foram sucessivamente indicados por ele para ocupar as referidas cátedras.
A partir de março de 1966, novos fatos vieram a estreitar meu relacionamento profissional e pessoal com Eduardo Galvão. Tendo eu retornado a Belém de meus cursos de pós-graduação realizados na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, assumi a chefia do Departamento de Ciências Sociais da FFCL-UFPA. Então, eu era o professor titular de Metodologia e Técnicas de Pesquisas em Ciências Sociais. Passei a convidar alguns colegas para fazerem palestras sobre a metodologia de pesquisa que empregavam no campo, entre estes, Eduardo Galvão, Edson Diniz, Protasio Frikel e Mário Simões.
Galvão com sua voz rouca e baixa despertava grande interesse nos alunos, que se esforçavam para compreender suas palavras, enquanto eu alertava o palestrante para tentar falar mais alto, esforço que não era cômodo para o ilustre mestre. Também, passei a organizar e coordenar seminários sobre temas antropológicos e sociológicos relacionados com a Amazônia, eventos que se realizavam à noite na Faculdade, na Av. Generalíssimo Deodoro. Galvão foi convidado por mim a participar e levou aos nossos encontros as narrativas de suas experiências e seus saberes, enfatizando a questão teórica e empírica da aculturação, tema que com ele discuti.
Em 1966, com a anuência oficial da direção da Faculdade de Filosofia e com a concordância do Chefe da Divisão de Antropologia do Museu Goeldi, Eduardo Galvão, passei a dedicar meio expediente de meu trabalho diário como professor em tempo integral ao estágio naquela Divisão de Antropologia, sob a orientação de Galvão, que dizia ser eu um estagiário especial, já que lavara comigo para a sua instituição o meu projeto de pesquisa entre japoneses da Zona Bragantina, que eu estava desenvolvendo como estudo de campo de minha cadeira. Meu projeto se enquadrava nos interesses que tinha Eduardo Galvão por estudos sobre mudanças culturais em áreas rurais.
Fui estagiário na Divisão de Antropologia do Museu Goeldi, sob a batuta competente de Eduardo Galvão, até fins de 1969, quando, tendo sido aposentado pelo governo militar, mudei-me para São Paulo. Meu estágio foi contínuo, tendo apenas sido interrompido em duas oportunidades em que, na minha condição de Vice-Diretor da FFCL-UFPA, assumi a direção da Faculdade.
Meu estágio no Museu Goeldi e a convivência com os colegas da antropologia (Galvão, Edson Diniz, Adélia Engrácia de Oliveira, Expedito Arnaud, Protasio Frikel, Mário Simões, Judith Shapiro), por um lado, reforçaram em mim meu interesse pelos estudos etnológicos e etnográficos em sociedades indígenas e, por outro lado, me propiciaram acompanhar, em parte, o pensamento e a produção antropológicos de Galvão ao longo de seu labor constitutivo, no tempo em que os mesmos eram gerados. Nessa fase, Galvão efetivou excursões às aldeias indígenas e elaborações de alguns de seus textos.
Em face desta circunstância vivencial, decidi conhecer, ao longo dos anos, toda a obra publicada de Eduardo Galvão e mais o que fosse, então, possível de seus cadernos de campo ainda não publicados. Esse conhecimento levou-me a eleger a obra de Galvão como a matéria e a substância de minha tese de doutorado, que defendi na PUC-SP. Debrucei-me sobre a obra de Galvão, que foi objeto de minha análise-crítica com a profundidade perceptiva e gnosiológica possível; análise-crítica de seu trabalho de campo em um número considerável de grupos indígenas e em comunidades rurais, bem como, de seu pensamento e de suas propostas orientadoras, indicadoras de caminhos.
Minha tese se intitula “Índios e Caboclos: Estudo da Obra de Eduardo Galvão”. Publiquei-a, com alterações necessárias, no meu livro “Eduardo Galvão: Índios e Caboclos” (Ed. Annablume, São Paulo, 2008). Em meu estudo percebi a vida produtiva de Galvão dividida em três períodos. Seus trabalhos publicados são abordados como criações próprias de cada um destes períodos. O primeiro período (P. 1) é o do jovem Galvão, eu diria, é o período de formação do antropólogo.
Nele, os trabalhos publicados são, predominantemente, em co-autoria, sendo que parte deles tendo como companheiro Charles Wagley, antropólogo norte-americano muito ligado ao nosso país, que veio a ser o orientador no doutorado de Galvão na Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos. Os textos desta fase contêm as observações de campo de Galvão desde a primeira, que ele realizou aos dezenove anos de idade (1939 e primeiros meses de 1940), em companhia de Wagley, entre os Tapirapé. Porém, seu primeiro trabalho publicado versou sobre o parentesco tupí-guaraní, em co-autoria com C. Wagley (1946). Durante este período, Galvão cursou História e Geografia na Faculdade de Filosofia do Instituto Lafayete (que veio a ser a Faculdade de Filosofia da Universidade do Estado da Guanabara), tendo concluído seu bacharelado em 1946. No ano de 1939, E. Galvão ingressou no Museu Nacional como estagiário.
Em 1941, Galvão fez cursos de formação em antropologia no Museu Nacional. Deste então até 1947, trabalhou nesta instituição de pesquisa como naturalista. De 1947 a 1949, Galvão faz seu doutorado na Columbia University, vindo a defender sua tese em 1952. Em seu estudo doutoral, Galvão estudou principalmente a dimensão religiosa de uma comunidade do interior do Pará, Itá (Gurupá). Retornando dos Estados Unidos, nesse mesmo ano, Galvão foi contratado pelo Serviço de Proteção aos Índios – SPI, dando início à sua vida propriamente profissional e adentrando no segundo período (P. 2) de sua produção científica, cujo primeiro marco é sua tese. Este período se caracteriza pela publicação de textos científicos individualizados. Na terceira fase de sua produção acadêmica (P. 3), Galvão retorna à publicação de trabalhos em co-autoria, basicamente, com colegas do Museu Goeldi, tais como Adélia Engrácia de Oliveira Rodrigues.
No SPI, Galvão trabalhou ao lado de Darcy Ribeiro e de Roberto Cardoso de Oliveira, e chefiou a Secção de Orientação e Assistência, no Museu do Índio, no Rio de Janeiro. Em 1955, Galvão foi para o Museu Paraense “Emilio Goeldi”, onde teve o principal locus de trabalho de sua vida; lá labutou, com curta interrupção quando foi para a Universidade de Brasília, ao longo de duas décadas, onde foi, fundamentalmente, o brilhante coordenador do setor de antropologia, tendo passado pela direção do Museu. Quando Galvão foi para o Goeldi, encontrava-se no segundo período de sua produtividade científica, fase de notável maturidade intelectual, que vem da conquista de seu título de doutor em antropologia e se estende até os primeiros anos 60. Neste período, Galvão levou à comunidade científica seu pensamento e suas idéias sobre como fazer antropologia em nosso país, concepções que ele expôs principalmente por intermédio de conferências. Foi ao campo, pesquisou sociedades indígenas em si mesmas (como os Kamaiurá) e, fundamentalmente, em grupos em contatos entre si e com a sociedade inclusiva, desvelando processos de mudanças culturais e aculturativos, temas de sua predileção.
Com base nessas constatações e inspirado, porém criticamente, em hipóteses de áreas culturais de colegas norte-americanos, tais como Steward, Murdock e Kroeber, ele percebeu que as sociedades indígenas vivem (ou viviam, no período de 1900 a 1959) em espaços que se constituíam em Àreas Culturais Índígenas do Brasil: 1900-1959 (Bol. do Museu P. Emilio Gueldi, n.s., Antrop., n° 8, Belém, 1960), nas quais interagiam em processos culturais intertribais e extratribais. Galvão intuiu nos dados empíricos observados no campo por ele e por outros antropólogos, ocorrências de sistemas de inter-influências culturais e sociais entre diferentes sociedades gestados no complexo social tempo-espacial. Voltou-se para a etnologia da “cultura xinguana”, na prototípica “área do uluri”, Parque Indígena do Xingu, onde vicejam processos aculturativos intertribais.
Eduardo Galvão, também, captou, com sabedoria, a categoria social do caboclo já constituído em Itá (Gurupá), em sua Tese (“Santos e Visagens: Um estudo da vida religiosa de Ita, Baixo Amazonas”, 1976) e, do caboclo em formação, nas pesquisas que desenvolveu entre os Tenetehára, no Maranhão, e em meio às populações indígenas e não indígenas do Alto Rio Negro. Galvão, em textos densos, caracterizou e conceituou esse ser social mestiço,“híbrido” cultural, social e biologicamente, e, quase sempre, marginalizado, subordinado e explorado economicamente.
(*) É professor doutor em antropologia com profundo conhecimento da problemática Amazônica.
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