sábado, 23 de outubro de 2010

JUVENTUDE FASCINANTE

Ellza Souza (*)

A noite era de gala no Teatro Amazonas. Os alunos do Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro exibiram agilidade e talento no palco. A apresentação da Orquestra de Câmara do Amazonas (OCA) e da Camerata Amazônica abriu o espetáculo, sob o comando do maestro, garoto ainda, mas gigante em sua performance. Usou da criatividade e interagiu com as crianças da platéia fazendo-as participar junto com a orquestra de uma peça musical numa homenagem ao mês dedicado às crianças. Trinta crianças subiram ao palco, ensaiaram com o maestro a fazer soar pequenos instrumentos e fizeram direitinho a sua parte. É uma pena que no folheto do evento não cite o nome do maestro e dos músicos. Confesso minha ignorância e gostaria de conhecer um a um esses sim artistas de verdade. E pedir os seus autógrafos.

Foi emocionante também a apresentação junto com a orquestra de experientes e novos profissionais, de uma garota de uns 6 anos chamada Alexandra, que fez calar o público com o som de seu violino. Personalidade não faltou a essa pequena artista, filha de artista também.

Em seguida foi a vez dos dançarinos que deram uma mostra de tenacidade, persistência, beleza, leveza, talento. O balé clássico, a dança de rua, contemporânea, movimentos exuberantes de uma juventude saudável que se esforça e luta por um mundo melhor. Sabemos que esses jovens deixam de lado alguns desejos de consumo próprios da idade para conseguir fazer a roupa da apresentação, comprar a sapatilha, o instrumento musical. Geralmente são jovens da periferia da cidade e com poucos recursos. Muitos talentos se perdem nesse espinhoso caminho e o resultado sabemos qual é. Uma juventude transviada como se dizia antigamente.

Pas de deux, Lago dos Cisnes, A Bela Adormecida, Ballet Paquita fazem parte do universo da dança. Rostos e corpos perfeitos na vontade de mostrar o melhor de suas habilidades fazem passos e contorcionismos ao som de maravilhosas músicas clássicas e populares como a brasileira “Fascinação”. Arrepia de verdade ver esses talentos tão promissores apresentando-se no Teatro Amazonas. Pena que o teatro é pequeno para a população que o procura nesses eventos.

Do lado de fora do teatro duas filas foram feitas na entrada. Choveu, escureceu e sem aviso oficial ficamos sabendo que haveria mudança no horário. De seis passou para as sete da noite. Não deu todo mundo na primeira sessão e tiveram que fazer uma outra para acolher todo o público. Isso é sinal de que o nosso gosto musical está mudando. E para melhor. Os nossos sentidos estão se sensibilizando com os verdadeiros talentos. E chô com o grande arsenal de barulhos, letras e rebolation que fazem mal aos ouvidos e aos olhos dos mais atentos e preocupados com a alma, também.

Em relação a platéia só falta mesmo parar de gritar. Teatro não é cinema, nem showmicio. Teatro é arte, é sensibilidade, é beleza. Ao invés de gritos, os aplausos demonstram melhor a aceitação do artista no palco. De pé, bravo a todos que nos emocionaram no teatro.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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