sábado, 2 de outubro de 2010

VARAL REPLETO DE SONHOS

Ellza Souza (*)

O cantor, percussionista e poeta Celdo Braga lança seu sexto livro na livraria Saraiva. Trata-se de “Varal sonhos ao sol” um trabalho que, segundo o próprio artista, é inspirado nas lembranças de sua mãe quando viviam no interior do Amazonas e ela pendurava as poucas roupas da família no varal ao sol. Eram poucas as roupas mas muitos os seus sonhos. E cada roupinha de um filho representava um sonho, uma expectativa, um ardente desejo.

O experiente Celdo já vem de mais de vinte anos na área musical com o grupo Raízes Caboclas mas sua criativa inquietude o levou a procurar outros projetos. Hoje está fazendo poesia junto ao grupo de música orgânica Imbaúba, num trabalho diferente onde toda a sonoridade é pesquisada na floresta através dos pássaros, folhagens, raízes, água, canoa, pedras.

“Já tenho cinco livros publicados mas basicamente eram trabalhos bem simples e agora dou um salto significativo na poesia, já mais formal” diz Celdo. Em entrevista na fase de produção do trabalho o artista me falou que “você imagina um varal no interior e a mulher ou o homem que sonha com uma roupinha, principalmente a mulher que sonha com essas coisas, às vezes tem só uma mudinha de roupa, aquela roupinha foi tão sonhada mas quando ela estende a roupa nos varais, aquelas roupas são sonhos que foram concebidos, desejados, realizados”. E continuou a explicar: “Ao ver uma roupa no varal quando eu passo no rio lembro da minha mãe que quando me deu à luz só tinha uma muda de roupa. Sei da importância que é uma roupa no varal, da relação que ela tem com o ser humano que está ali”.

A Amazônia é um universo rico de sons. O “esgotar” a água de uma canoa, a batida do remo na água, o farfalhar das folhas, o canto dos incontáveis pássaros, o silvo do vento representam musicalidade que o Imbaúba e o Celdo sabem captar muito bem.

Celdo Braga acha o seu trabalho anterior "mais paisagístico, onde falo da natureza, descrevendo-a”. Agora ele envereda por um caminho mais filosófico, mais denso, com estudo, pesquisa e insuperável talento. “Estou sempre aprendendo” diz o poeta.

(*) É jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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