quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

CONEXÃO DOS SABERES INDÍGENAS

Ademir Ramos (*)

A prática etnológica motiva seus atores a celebrarem encontros de culturas orientados para afirmação de seus direitos fundamentais expressos nos preceitos constitucionais. A cumplicidade do etnólogo em situação de campo representa um grande desafio para superar os obstáculos impostos no processo de descoberta do outro e de si mesmo mediado por relação fomais ou presentes, que venham provocar o estranhamento reflexivo da cultura em suas múltiplas determinações.

Em situação concreta experimenta-se sentimento diverso, que podem contribuir para a compreensão do fato cultural em sua totalidade. Esta é a motivação que nos levou a conferir um intenso diálogo com os chefes tribais dos Sateré-Mawé do rio Marau, Andirá em companhia com os Hiskariano da região do baixo Amazonas.

O encontro ocorreu nesta quarta-feira (13) no interior da Secretaria de Estado dos Povos Indígenas do Amazonas, quando expomos as lideranças indígenas a possibilidade de se promover um amplo levantamento das demandas decorrentes das organizações indígenas, visando à definição de prioridades e de parceiros numa perspectiva sustentável das comunidades tradicionais partícipes da formulacão de políticas públicas em atenção aos povos indígenas do Amazonas. Esse planejamento participativo deve vincular-se aos eixos fundantes da política indigenista nacional expressa nos termos do Novo Estatuto das Sociedades Indígenas a tramitar desde junho do ano passado nas comissões da Câmara Federal.

A conexão dos saberes indígenas deve ampliar a margem de manobra de seus atores, possibilitando mobilizar a força do movimento indígena, não mais para discutir simplesmente a administração da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) enquanto função burocrática, mas, sobretudo, discutir e definir uma proposta nacional que contemple a gestão das comunidades indígenas promotoras de políticas públicas de qualidade relativas à educação, saúde, sustentabilidade, direitos tradicionais e outros, que garantam o reconhecimento dos direitos desses povos reafirmando a suas identidades culturais, bem como sua cidadania nacional.

Essa discussão possivelmente será convertida em proposta e em colaboração com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira devendo se promover, possivelmente, um amplo debate junto aos povos indígenas do Brasil com ressonância no Congresso Nacional inserindo a demanda desses povos na agenda política dos candidatos as eleições do ano em curso. Essa será uma grande contribuição que o governo do Amazonas dará a União, denunciando o seu compromisso e sua responsabilidade com a salvaguarda dos direitos dessas comunidades tradicionais que vivem e moram no interior da floresta ou às margens dos grandes rios e seus afluentes, representando as verdadeiras muralhas de nossa soberania territorial pela conservação de nossa biodiversidade.

(*) É professor, antropólogo e coordenador geral do NCPAM/UFAM.

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