domingo, 10 de janeiro de 2010

A TRAJETÓRIA DOS TUKANO DO ALTO RIO NEGRO

Álvaro Fernandes Sampaio (*)

A nossa terra está localizada no Noroeste Amazônico, hoje, fronteira entre o Brasil, Colômbia e Venezuela. O principal rio é o Negro, afluente da margem esquerda do Amazonas. Esse rio nasce na Colômbia, conhecido como Guainia e separa a Colômbia e Venezuela. Seus principais afluentes da margem direita são: Uaupés (antigo Caiari) e Içana que, também, nascem na Colômbia. No baixo Rio Negro temos muitos afluentes importantes e, juntos, formam a bacia hidrográfica distinta.

Os nossos antepassados, mais conhecidos como P´MIRI MASA (primeiros homens da humanidade), os YE´P MASA (hoje Tukano), segundo alguns estudiosos em arqueologia, os símbolos de ocupação de ocupação humana pelo caminho realizado datam 150 mil anos. Outros estudiosos atestam que os nossos antepassados chegaram na bacia do Rio Negro há 2 mil anos atrás. Enfim, estas informações foram descritas pelas pessoas que pertencem o nosso povo.

A grande navegação de nossos antepassados que começou no WAMI DIÂ (no outro lado da terra) terminou na Cachoeira de TÕHÕPA DURI (Cachoeira de Ipanoré), rio Uaupés, Território Sagrado dos Povos Tukano, Desana, Arapaço, Piratapuia, Makú e outros parentes.

Depois de muitos anos de processos de ocupação, os estudiosos concluíram que nessa região existem três famílias lingüísticas: Aruak, Maku e Tukano. Temos muitas versões sobre a ocupação territorial de nossos antepassados. De minha parte reafirmo que Rio Negro e seus afluentes é o Território dos YE´PÂ MASA (Tukano); IMIKOHORI MÂSA (Desana); BEKARÃ (Baniwa); KURIPAKUA (Kuripaco); NIKIRI MASÃ (Maku); MIHITEÃ ( Karapanã); KOBEWIÂ (Kubeo), NE´ROÃ (Miriti-Tapuia), TARIÂ MASA (Tariana) SIRIÂ ( Siriana), KÕREÃ (Arapaço), WA´I KAHIRÃ (Pira-Tapuia), DI´IKAHARÃ (Tuiuka) e outras tribos/nações indígenas importantes que têm visão cultural própria, organização social e visão do mundo de modo geral.

Após a chegada dos conquistadores espanhóis e portugueses morreram muitos índios. Mas, houve a resistência. Hoje, somos mais de 60 mil irmãos e primos que ocupamos os países Brasil, Colômbia e Venezuela. O que vou traçar nessas belas páginas de papel em branco são os fatos que aconteceram com meu povo.

Nós, os povos indígenas que habitamos no Rio Negro, Estado do Amazonas, Brasil, não escapamos de tantas pressões econômicas que chegam em nossas terras através de executivos de projetos de colonização de Estado e Igreja. Somos os descendentes de povos humildes, de povos ágrafos no passado e, agora, estamos começando escrever as nossas histórias para defender as imensas riquezas naturais que sempre tivemos: Água, Terra, Florestas e sua biodiversidade, Os Povos Indígenas que têm conhecimentos tradicionais de mais de 162 mil anos de civilização.

As riquezas que se encontram em subsolo de nossas Serras Sagradas ou em qualquer parte de nossos territórios tornam-se problemas quando o homem branco as descobrem e começam explora o ouro e outros minerais, devasta as florestas para explorar a madeira nobre, derruba e queima para implantar a monocultura e pecuária, invade os nossos rios para matar os peixes para vender depois no supermercado, e extrai centenas de outros produtos da floresta e depois vendem para os moradores dos centros urbanos.

Os homens vindos de fora só pensam em ganhar dinheiro rápido; eles ficam ricos e passam a ter o comando político em nossas terras, enquanto que, nós, tornamos cada vez pobres de riquezas materiais e de conhecimentos tradicionais por estarmos sem tempo para estudar os problemas que nos afetam impiedosamente. Surgem assim os tantos intermediários para falar por nós junto as autoridades competentes para explorar mais os nossos povos. E, quando menos esperamos pessoas estranhas em nossos territórios eles aparecem com mais parentes visitantes e com mais projetos elaborados para trabalhar no meio de nós.

Os resultados de trabalho sistemático feito pelos colonizadores no meio dos povos indígenas causam desequilíbrios sociais. Por sermos ingênuos, por não sermos tão capitalistas achamos a tudo isso como maravilha. Construímos assim o mundo diferente do passado em nosso meio, mudamos os nossos costumes e passamos ouvir mais na conversa de pessoas de fora. Os missionários batizam as crianças, e quando elas crescem ensinam em suas escolas, doutrinam com a religião rigorosa, promovem a educação unilateral, dominadora. Com o passar de tempo os nossos filhos ou nós mesmos mais parecemos como papagaios – repetimos as orações, as poesias, os cânticos eclesiais e patrióticos.

Assim, é fácil falar pelos outros, fazer de conta que sabemos das questões sociais dos índios de uma região localizada de famílias ou de grupos. Esse tipo de comportamento é mais praticado pelos pesquisadores brasileiros e estrangeiros, missionários, indigenistas, historiadores, etnólogos, antropólogos e outros que atuam nas comunidades indígenas. Esse marco sutil é para manter a ideologia dominante e preconceituosa, pois dificilmente essa gente volta quando precisamos deles para enfrentar os problemas causados pelo Estado Brasileiro.

(*) É da nação Tukano, um dos intelectuais indígenas do Brasil com reconhecimento internacional. O texto é parte de um grande estudo em processo de editoração.

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