quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

E QUANTO CUSTA PATRÍCIO?

Luciney Araujo (*)

A Vila de Puerto Evo Morales, pertencente ao Território boliviano de Pando, está localizada na fronteira, com o município acreano de Plácido de Castro no Brasil, apresenta um contraste distinto, diferente de outras zonas fronteiriças, essa vila da Amazônia Boliviana tem como um de seus fortes o comércio. Onde em um único corredor de lojas, o comprador encontra de pregadores de roupa a celulares de última geração. E uma das coisas que mais atraem brasileiros para essa área de fronteira são os preços comercializados.

Com cerca de 5 mil habitantes, em sua maioria descendente de indígenas, esse pedaço da Amazônia boliviana tem no comércio a base de sua economia. Andar pelas ruas de Puerto Evo Morales e perceber logo as diversidades culturais entre os dois países, as lojas do vilarejo são construídas todas em madeira, típica para a região, uma curiosidade é que as lojas são interligadas através de passarelas. As palafitas predominam o local, costume amazônico, devido ao clico das águas. Olhar para o local, em uma primeira impressão nos remete ao cenário da Cidade Flutuante existente em Manaus durante muitas décadas.

É fácil encontrar os Patrícios (como são chamados os moradores do vilarejo) falando em portunhol, afinal, o público comprador em grande maioria é brasileiro, brasileiros vindos de grande de locais como Acre, Amazonas, Rondônia entre outros estados

A Vila de Puerto Evo Morales foi reconstruída a cerca de dois anos, logo após um incêndio ter destruído a Vila de Montevidéu. Antes da mudança a área comercial ficava localizada as margens do rio Abunã, em frente ao município de Plácido de Castro. Com isso o vilarejo foi transferido para uma clareira no igarapé do Ranpirã. O local não existe água potável nem rede de esgoto, é fácil encontrar precariedade e a falta de política pública e que muitas das vezes faz com que a qualidade de vida desses bolivianos sejam um pouco precárias.

Durante o verão, é comum se conviver com a poeira da estrada de terra que corta o vilarejo e durante o inverno essa estrada vira lama. Sem contar na época de cheia, onde as lojas ficam alagadas e as famosas marombas são construídas dentro das lojas. Uma ponte de madeira foi construída, e representa o marco fronteiriço entre os dois países.

No local está instalado uma representação do Consulado Brasileiro, uma base da Policia de Fronteira Boliviana, consultórios odontológicos e médicos. Como ouvi de uma brasileira: é muito mais fácil e barato se consultar aqui. Os preços das consultas variam entre 30 a 60 reais, e dependendo do problema, pequenas cirurgias são realizadas.

No comércio de Puerto, os produtos encontrados em sua grande maioria têm como fabricante a china, é fácil encontrar grifes famosas como a Nike, Puma, Adidas (falsificados e originais) nas lojas, assim como camisas de clubes brasileiros como o Corinthians e o Cruzeiro, da Seleção Brasileira; redes, jogos de cama, mesa e banho, assim como computadores, celulares, filmadoras; uísques, tequilas entre outras bebidas. E o que chama atenção são os preços, sempre com os famosos descontos. Não existe alfândega na fronteira e nem ao longo da rodovia AC-040, principal via de acesso a Plácido de Castro, mas geralmente blitz são realizadas ao longo da rodovia para evitar o contrabando de cigarros e de outras drogas ilícitas.

Assim é esse pedaço da Bolívia, onde as fronteiras não são apenas um marco, uma ponte, local em que os patrícios dizem quanto custa e os brasileiros sempre pedem o desconto.

(*) É cientista social, pesquisador do NCPAM/UFAM e nosso correspondente no Acre.

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