quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A POLÍTICA COMO FORÇA DA ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA

Ademir Ramos (*)

Há mais de seis meses tenho dedicado tempo para estudar o exercício da política na teia das relações de vizinhança de um conjunto de moradores situado na zona leste de Manaus, capital do Amazonas. Em sua maioria, os moradores das 53 casas de alvenaria do conjunto, decidiram em assembléia geral transformar esse território em área fechada sob a tutela de um condomínio a ser criado.

Nesse sentido, elegeram uma coordenação de trabalho, cofiando aos eleitos os encaminhamentos quanto à legalidade desse instituto, bem como investir na segurança garantindo o bom funcionamento de uma guarita sob comando dos guardas contratados para esse fim. Para isso, os moradores contribuem com o valor R$ 100,00 por mês.

O conjunto fica situado na confluência do bairro do Coroado III, na circunvizinhança da floresta do Campus da Universidade Federal do Amazonas, o perfil dos moradores varia tanto profissionalmente como academicamente. O que permite intensificar, ainda mais, o diálogo pautado na diversidade dos temas ancorado na demanda posta a coordenação do trabalho diretivo.

Desse modo, criou-se uma dinâmica própria tendo por base a realização de uma Assembléia Ordinária – toda primeira quinta-feira do mês – com protocolo formal para instrução do processo a ser apresentado junto ao cartório e ao poder público, requerendo a legalidade da instituição condominial. Para, isso foi preciso instituir uma dinâmica própria considerando o ordenamento político de discussão e aprovação dos temas abordados de interesse dos moradores do referido conjunto.

Além das Assembléias mensais tenho acompanhado as discussões da equipe diretiva, que é feito na rua do conjunto, que por sua vez é constituído de duas ruas somente circundado por muro de proteção, não permitindo fluxo de carro e de transeunte que não seja morador dessa paragem. Eis a razão porque um dos moradores chega a denominar o conjunto como “ilha” por está separado dos comunitários do bairro vizinho.

Os temas discutidos nas reuniões de rua podem ser classificados como subjetivos e objetivos. O interessante nessas reuniões é a participação dos jovens do conjunto – estudantes de ensino médio e universitário – que falam de suas conquistas referentes às namoradas, dos seus clubes do coração, de seus projetos escolares, entre outros. Os temas objetivos são discutidos politicamente visando o cumprimento das deliberações da Assembléia.

O relevante desse fenômeno organizacional é o espaço que se conquista na rua para se discutir política comunal, analisando vértices diferentes dessas ralações. O processo em curso, tratando-se do ano eleitoral, permite com que os moradores inseridos na discussão construam cenários relativos à determinada candidatura, avaliando a qualidade dos atores frente às demandas das comunidades e seu compromisso com a coisa pública.

Em plena rua do conjunto, as discussões prolongam-se pela madrugada à dentro, não mais reduzida as questões domésticas ou cartoriais, mas, sobretudo, discutindo política como estratégia, valor e cidadania para qualificar ainda mais a participação desses protagonistas comunitários no processo de escolha de seus mandatários.

Com isso, a política ganha significado e estatura quando seus intérpretes a compreendem como instrumento necessário para garantir direitos fundamentais numa perspectiva de construção do novo ordenamento político de governança centrado na participação popular, enquanto instrumento de controle social.

Essas notas têm por fim conhecer outras experiências analíticas e quem sabe ampliar a discussão sobre o valor da participação e suas formas de afirmação da cidadania numa perspectiva das organizações comunitárias tanto no campo como na cidade.

Por aqui as discussões continuam e agora está em pauta o planejamento estratégico visando à definição do Desenvolvimento Comunitário Sustentável.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

Nenhum comentário: