domingo, 10 de janeiro de 2010

O DRAMA DAS INVASÕES : A FAVELIZAÇÃO DE MANAUS

Márcio Souza (*)

Embora muitas vezes tenhamos demonstrado nossa preocupação com a necessidade de recuperação do centro histórico de Manaus, a verdade é que o drama maior está concentrado na grande periferia, nas ocupações e invasões que foram a marca da expansão urbana da capital amazonense nas últimas quatro décadas.

Em todos esses anos e ao longo do doloroso processo de ocupação das terras da cidade, o que se viu foi a completa ausência do poder público municipal, que se limitou apenas às medidas paliativas, como titular algumas comunidades sem nenhum trabalho de reordenamento urbano e dotação dos serviços essenciais.

Aqui em Manaus, aparentemente quem age como prefeitura é o governo estadual. Todas as extensivas intervenções na cidade são estaduais, como o PROSAMIM, a construção do Parque Jefferson Péres e a restauração das praças de São Sebastião e da Polícia, para citar apenas as mais importantes.

Faço esta observação com preocupação, já que a velocidade da máquina municipal se for medida pelo tempo que está levando para a conclusão da restauração do Mercado Adolpho Lisboa, da Praça da Saudade e da implantação dos centros comerciais populares, por certo vamos ter uma Manaus diferente provavelmente lá para o final do milênio.

Pior, não se tem ainda a perspectiva de um planejamento orgânico com metas estabelecidas, para a adequação da cidade para receber a Copa do Mundo de 2014. Já se perdeu um ano, desde a escolha de Manaus como sub sede, e nem mesmo o mínimo foi feito.

Esta inanição já causou danos demais a todos nós que amamos esta cidade e aqui vivemos. Não é mais possível esperar pelo executivo estadual e pelas verbas mendigadas em Brasília, para se ter uma administração municipal eficiente. É preciso liberar o governo no estado para que possa atuar no abandonado interior. Chegou o momento dos políticos entenderam que o governo estadual não é uma superprefeitura, já que está sediado em Manaus.

A capital amazonense já absorve em demasia as forças econômicas, sociais e humanas do interior do estado, para que esta bizarra mentalidade siga em frente com total desenvoltura e impunidade. Quando digo que devemos nos preocupar, é porque não teremos outra oportunidade de superação tão cedo, com tantos recursos passíveis de serem alocados para cá.

A favelização de Manaus, que segue uma tendência mundial de urbanização da miséria, é o problema central que deveria estar no centro de qualquer planejamento para a Manaus de 2014.

A rapidez da favelização de nossa cidade longe o crescimento dos velhos bairros miseráveis da Inglaterra Vitoriana. Podemos dizer que as favelas de Manaus cresceram de forma sem precedente na história da região. Não somos os primeiros a receber um evento como a Copa do Mundo, mas vale lembrar que muitas cidades, governadas por estadistas que não enxergavam as verbas como pasto de seus interesses particulares, aproveitaram tais eventos para fazer suas cidades avançar. Veja-se o exemplo de Barcelona, que mudou em uma década, de um centro urbano degradado a decadente para uma das mais extraordinárias cidades da Europa. Os políticos catalãos não se preocuparam apenas em atender os requisitos de um acontecimento macro como sediar uma Olimpíada, mas usaram a oportunidade para ir mais além, para melhorar a vida dos habitantes da cidade, lançar naquele momento a cidade do futuro. Teremos nós a Manaus do futuro?

(*) É escritor, dramaturgo e articulista do jornal a crítica de Manaus.

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