quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

SOLIDARIEDADE ABSOLUTA DO PSDB AO HAITI

Mas o Haiti merece de nós a mais absoluta solidariedade. Não bastassem a opressão colonial, os cercos econômicos e as ditaduras, acontece agora o terremoto que, a um tempo, agravou e desnudou o quadro de miséria social, econômica e política anterior.

O PSDB aprovou o envio de mais tropas para garantir a ordem no Haiti “desesperado, aturdido, desesperançado, que toca fundo em nossos corações, e cobra ações mais efetivas no terreno da ajuda econômica”.

Foi o que o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio(AM), assinalou em carta enviada ao senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) e por este hoje registrada, em plenário, durante a reunião da Comissão Representativa do Congresso Nacional, para decidir sobre o pedido do governo para aumentar de 1.300 para 2.600 o contingente militar no Haiti.

“O PSDB vota SIM, sem pestanejar, pelo Haiti, pela paz e porque tem sido experiência construtiva, ainda que sofrida, para o Exército brasileiro”, disse Arthur Virgílio, acrescentando: “Mas o PSDB desejaria mais. O governo que, acertada e coerentemente com políticas econômicas que germinaram de Itamar Franco e Fernando Henrique para o presidente Lula da Silva, colabora com US$ 10 bilhões de suas reservas para a reestruturação do FMI, precisaria injetar recursos significativos no esforço pela reconstrução do Haiti.”

O líder notou ainda que o governo, “no afã de conquistar votos para sua insistente candidatura a uma vaga permanente (sem direito a veto e, portanto, de segunda categoria) do Conselho de Segurança de uma ONU (...), perdoou dívidas de países africanos para conosco”. “Pois esse mesmo governo – frisou – deveria realizar esforço de monta pelo povo haitiano, ressalvadas as prioridades nacionais, que estão nos investimentos estratégicos e não no aumento descontrolado dos gastos correntes.”

Conheça a integra da Carta do Senador Amazonense em favor da soberania do povo do Haiti:

Prezado Senador Eduardo Azeredo,

Escrevo ao ilustre colega e companheiro, em sua condição de Representante do PSDB na Comissão Representativa do Congresso Nacional e Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional. E, antes de tudo, justifico-lhe minha própria ausência da relevante sessão de hoje, por ter sido cancelado o voo da empresa Gol que me viabilizaria a chegada, em Brasília, no devido tempo. Como já tem virado hábito, estarei, outra vez, processando essa empresa, useira e vezeira em inadimplir com seus compromissos fundamentais.

Mas o Haiti merece de nós a mais absoluta solidariedade. Não bastassem a opressão colonial, os cercos econômicos e as ditaduras, acontece agora o terremoto que, a um tempo, agravou e desnudou o quadro de miséria social, econômica e política anterior.

Sim, porque o Haiti carecia da sensibilidade internacional desde bem antes do terremoto. Terrivelmente explorado, não logrou avançar no desenvolvimento, século após século. Vítima de teorias racistas, que procuravam explicar seu atraso pela cor da pele dos haitianos, vive drama histórico que mereceria uma ópera estilo Evita.

Povo resistente, resistiu à renitente tentativa de desqualificação de seus costumes e de suas crenças religiosas. Quantos filmes, “politicamente corretos” não nos fizeram chorar com as atrocidades praticadas por haitianos drogados e enlouquecidos pelos rituais de suas religiões “primitivas e desumanas”? O grande ator norte-americano Steven Seagal que o diga!...

Pois aquela gente humilde e miserável resistiu. E aí vem o terrível terremoto que impõe mais dores a quem não tem mais corpo para tanta dor. Evento que serve para culpados procurarem expiar suas culpas e indiferentes fingirem que não o são. E que serve também para mergulharmos nas águas profundas da sociologia política haitiana, buscando explicar as razões objetivas de um atraso que se deve mais à ganância de fora que à incapacidade de dentro.

O Haiti escreveu, até aqui, História bonita. Libertou seus escravos antes, por exemplo, do resto da América. O processo foi turbulento e revolucionário. Poderia ter sido turbulento sem ter sido revolucionário, porém foi revolucionário, sim, a partir do fato de que nasceu de insurreição dos próprios escravos e não de concessão imperial, como no Brasil. Vendo as cenas que as televisões exibem exaustivamente, pergunto a mim mesmo: quem teria sido o Spartacus haitiano?

Em 1697, o Haiti é cedido à França pela Espanha. Passou a ver seus braços exportados para o trabalho escravo, assim como passou a produzir, em larga escala, café, açúcar e cacau. Muitas divisas para a França. Muito conforto para os países importadores desses bens.

Em 1803, os franceses são derrotados pelos negros “incultos de religiões bárbaras” e, em 1810, raia a independência política, doze anos antes da brasileira, que emergiu do arranjo de dois estadistas, José Bonifácio e Pedro I, e de um rei lúcido, que teimam em estigmatizar, que é João VI. Aqui, as elites fizeram um pacto. Lá, os negros “incultos e atrasados” resolveram tudo sozinhos.

Pagou alto preço pela ousadia e sofreu bloqueio econômico imposto por EUA e Europa, que lhe causou tantos prejuízos, durante décadas. Houve, após, intensas negociações em torno de uma possível suspensão do embargo, opondo os “negros incultos”, num dos lados da mesa de negociação, aos brancos “civilizados”, na outra ponta.

A suspensão do bloqueio custou cento e cincoenta milhões de francos aos depauperados cofres haitianos. E o drama não encenava, aí, seu último ato, pois a ele se seguiram, anos depois, mais de duas décadas de ocupação americana, plantando as bases para a implantação, a partir de 1945, ironicamente contrastando com a derrota do eixo nazi-fascista, da ditadura de Duvalier, o “Papa” Doc.

Sanguinário, corrupto, como costumam ser sanguinários e corruptos os ditadores, Francóis Duvalier reinou absoluto, até ser substituído por seu degenerado filho, o ainda mais sanguinário e corrupto “Baby” Doc que, visivelmente, era deficiente em suas faculdades mentais. Suas faculdades mentais não eram, sequer, “ginasianas”.

O Haiti é país pobre. Suas vicissitudes, contudo, encontram raízes certamente mais externas do que internas. Se o Plano Marshall o tivesse incluído, por exemplo, sua situação seria outra. Parece absurdo o que digo, até porque a geopolítica da época mandava os Estados Unidos apoiarem a reconstrução da Europa, em clima de Guerra Fria e em contraposição à União Soviética, que emergia da II Grande Guerra como o segundo polo militar mundial. Quero apenas significar que, se a exploração tivesse sido substituída pela verdadeira cooperação, o Haiti dos tempos correntes poderia sofrer terremotos, entretanto não necessitaria tanto da compaixão internacional.

A miséria, fruto da expoliação secular, antecede as consequências do terremoto. O que não nos impede de cumprir o dever da solidariedade irrestrita com o Haiti.

A mensagem governamental solicita que a Comissão Representativa do Congresso Nacional autorize a duplicação dos nossos efetivos militares. Passariam, esses efetivos, de 1300 a 2600 soldados.

O PSDB vota SIM, sem pestanejar, pelo Haiti, pela paz e porque tem sido experiência construtiva, ainda que sofrida, para o Exército brasileiro. Mas o PSDB desejaria mais. O governo que, acertada e coerentemente com políticas econômicas que germinaram de Itamar Franco e Fernando Henrique para o Presidente Lula da Silva, colabora com US$ 10 bilhões de suas reservas para a reestruturação do FMI, precisaria injetar recursos significativos no esforço pela reconstrução do Haiti.

O governo, aliás, no afã de conquistar votos para sua insistente candidatura a uma vaga permanente (sem direito a veto e, portanto, de segunda categoria) do Conselho de Segurança de uma ONU debilitada pelos bombardeios unilaterais do Presidente Bush contra o Iraque do sanguinário déspota Sadam Hussein, perdoou dívidas de países africanos para conosco. Pois esse mesmo governo deveria realizar esforço de monta pelo povo haitiano, ressalvadas as prioridades nacionais, que estão nos investimentos estratégicos e não no aumento descontrolado dos gastos correntes.

O PSDB aprova o envio de mais tropas para garantir a ordem no Haiti desesperado, aturdido, desesperançado, que toca fundo em nossos corações, e cobra ações mais efetivas no terreno da ajuda econômica. Afinal, esse país-irmão tem futuro sim. Como bem diz o notável romancista amazonense Márcio Souza, o povo que gerou Jacques Dessalines, o herói da Independência, e concedeu asilo a Simon Bolívar, o artífice da autodeterminação da América espanhola, não pode permanecer sem destino

Esse é o discurso que eu gostaria de pronunciar diante de meus Pares congressistas. Por razões que já expus, sinto-me honrado em fazê-lo através da palavra autorizada do Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal.

Muito obrigado.

Senador Arthur Virgílio
Líder do PSDB

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