sexta-feira, 31 de julho de 2009

RORAIMA: UM ESTADO EM EVIDÊNCIA

*Luciney Araújo

A história do Estado de Roraima está diretamente ligada à estratégia da Coroa Portuguesa em expandir seus territórios na América do Sul, como também a busca por novas riquezas naturais como o ouro, além de afirmar sua supremacia no território cujo ameaça por parte de Espanhóis, Holandeses e Franceses era constante. Durante os anos de 1638 e 1639, o Padre Jesuíta Cristobal de Acuña e o Capitão-Mor Pedro Teixeira, realizam expedições ao longo do rio Negro indo até a foz do rio Branco, que segundo relatos de Acunã, “um braço que este rio (Negro) lança por onde, segundo informações, se vem a sair no rio grande, em cuja boca, no mar do norte, estão os Holandeses...” (Acuña,1641). Rio que até a primeira metade do século XVIII era a principal rota para as transações entre Holandeses e índios que moravam ao longo do Rio Branco. A partir do século XVII, chega a região do rio Branco o mercador de escravos Francisco Ferreira, faz explorações ao longo do rio, em busca das famosas drogas do sertão e o apresamento de indígenas para o trabalho escravo ao longo das explorações. Durante os anos de 1771 e 1773, os espanhóis, vindos através do rio Orenoco chegam ao rio Branco, se estabelecendo ao longo do rio Uraricoera, e foram responsáveis pela fundação dos primeiros povoados de Santa Rosa, São João Batista de Cada e de Santa Bárbara. Apesar de o rio Branco ter sido batizado pelo Português Pedro Teixeira em 1639, apenas no ano de 1775, é que a coroa portuguesa inicia a construção do Forte de São Joaquim, marco da presença lusitana no Estado.

A ocupação do Estado de Roraima se deu através dos aldeamentos indígenas, entre os anos de 1775 e 1779, durante esse período foram estabelecidas cinco comunidades ao longo dos rios Uraricoera, Branco e Tacutu, os quais seriam abandonados durante os anos de 1780 e 1781, cujo, os indígenas não aceitavam as condições impostas pelos portugueses. Durante o ano de 1784, os portugueses tentaram novamente realizar um aldeamento com os indígenas, mas a idéia fracassaria e no ano de 1790, aconteceria a grande revolta dos indígenas conhecida como “A Revolta da Praia do Sangue”.

Durante esse período se deu a introdução de gado, como uma estratégia lusitana para tentar garantir a manutenção do domínio português da região, buscando iniciar uma nova atividade econômica diferente do escravismo e do extrativismo, que permeavam a então capitania de São José do Rio Negro, que englobava toda a área do rio Branco. A primeira fazenda criada foi a de Rio Uraricoera e era denominada Fazenda São Bento, anos mais tarde fora fundada a Fazenda São Marcos no Rio Tacutu. Esta expansão da pecuária bovina serviu como primeiro movimento para a ocupação do território do Rio Branco e que mais tarde levaria a fundação do município de Boa Vista do Rio Branco, no ano de 1890.

No século XX, as mudanças ocorridas na Região Amazônica advindas do ciclo da Borracha, traz o aumento das necessidades de abastecimento de bens de consumo a Cidade de Manaus, que recebera um grande fluxo de pessoas em busca do sonho de riquezas nos Seringais, e com isso, Roraima, eleva sua produção e exportação de produtos bovinos, e um de seus principais compradores era a cidade de Manaus.

A atividade da pecuária no Estado de Roraima apresentava até meados de 1920, cerca de 300 mil cabeças de gados, nas quais eram criadas de formas livre, sem uso de cercas, ou arames que determinassem os limites entre as propriedades. Com o declínio da Borracha na região amazônica, a criação de gado em Roraima, cai para pouco mais de 140 mil cabeças.

No entanto um novo ciclo começaria na região do lavrado, era à busca do ouro, e uma leva cada vez maior de migrantes começam a aportar em terras roraimenses, garimpeiros que subiam a bacia do rio Branco em busca de riquezas, viagens em sua maioria feita através de uso de animais ou simplesmente a pé. Nos anos de 1949 o PIB de Roraima correspondia mais da metade da produção do Estado, cerca de 59,6% era oriunda das terras de garimpo e apenas 26,8¨% apenas correspondia a pecuária.


Foi apenas no ano de 1943 que a Cidade de Boa Vista foi desmembrada do Amazonas, tornando-se Capital do recém criado Território Federal do Rio Branco, e no ano de 1962 a palavra Roraima (junção de Roro-imã palavras da língua Permon-Ingarikó, que significa o Monte Verde), como nome oficial.

Através de incentivos do Governo Federal, o Estado de Roraima passa a receber um fluxo maior de migrantes, que vislumbravam o sonho de um novo Território. Novos assentamentos surgem, novos povos migram, novas culturas se formam. Sulistas, Nordestinos, Venezuelanos, entre outros, migram para as novas terras, que se tornaria Estado no ano de 1988.

Com o fechamento dos garimpos e a demarcação de Terras Indígenas, o Estado de Roraima vive hoje a expectativa dos Agronegócios, com solo propenso a plantação de novas culturas, como a soja, novas fronteiras agrícolas aportam por aqui. Novas perspectivas para a construção e afirmação desse cadinho da floresta, muitas vezes exaltado por pessoas que fazem de Roraima hoje um dos Estados promissores, acolhedor e que acima de tudo representa essa diversidade que é o Brasil, e que fazem com que o Roraimense ou o Roraimeiro sentir orgulho desse estado e reafirme a cada dia com orgulho “ser de Roraima
”.

*Antropólogo, Pesquisador do NCPAM e Membro do NAVI

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