Em Manaus, a 61a reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) contempla a discussão sobre o Sítio Arqueológico das Lajes no ecossistema do Encontro das Águas (Rio Negro e Solimões). A exposição faz parte do Museu da Amazônia (MUSA) sob o tema - “o que se encontra no Encontro das Águas”, oportunidade em que se identifica a grandeza do fato e as ameaças de se construir um porto nessas mediações.
O Sítio Geológico Ponta das Lajes está localizado próximo ao ponto de máxima profundidade do Encontro das Águas, na zona leste de Manaus, em frente à ilha do Careiro formada por depósitos holocênicos, o que evidencia a ação neotectônica no local.
A Ponta das Lajes, além de oferecer subsídio para a interpretação do ambiente de deposição da Formação Alter do Chão na parte central da bacia Amazônica, é também ponto chave para a definição das estruturas da neotectônica que influenciou a origem da logística do Encontro das Águas, que no momento encontra-se ameaçado pela pretensa construção do Porto das Lajes, empreendimento da empresa Log-In Logística Intermodal.
A importância desse reconhecimento da Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológico (SIGEP) fundamentam-se no parecer do Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IPHAN) representado pela pesquisadora Isolda Honnen.
A SIGEP, por sua vez, é uma comissão multi-institucional, que objetiva cadastrar os sítios geológicos e paleobiológicos a serem preservados como PATRIMÔNIO GEOLÓGICO DO BRASIL, bem como publicar em forma de artigos científicos com recomendações de preservação/geoconservação desses sítios. Essa base de dados, montada a partir da interação com a comunidade geocientífica do Brasil deverá ser disponibilizada em livros e na Internet, em português e em inglês, servindo de referência para a seleção de sítios a serem propostos à UNESCO como Patrimônio Natural da Humanidade.
Registra-se, também, o parecer da pesquisadora do IPHAN, Isolda Honnen, relatando sobre a importância do sítio das Lajes, contextualizado numa província geológica de grande abrangência para a história do povo do Amazonas. Conheça na integra o parecer e o encaminhamento da representante do IPHAN:
“Destacamos o interesse histórico cultural relacionado ao sítio Ponta das Lajes: a descoberta do Rio Negro e o posterior início da ocupação da região amazônica pelos portugueses aproveitando o período em que Portugal e Espanha estavam unidos pelo mesmo reinado (pois pelo Tratado de Tordesilhas a região pertencia à Espanha), e, sobretudo, a existência da cidade de Manaus, um dos principais exemplares de ocupação urbana que se expandiu durante a formação da cultura brasileira, trazendo consigo a história das lutas entre portugueses e população nativa da região, principalmente a tribo dos Manaós.
Além da importância histórica do sítio, a ocorrência do “Encontro das Águas” dando ao leito fluvial um aspecto curioso, onde cor e temperatura das águas do Rio Negro e Solimões não se misturam num determinado trecho, é uma referência cultural muito presente na memória social da população local, atraindo também visitantes que fazem passeios turísticos para ver o fenômeno. A existência de um projeto de Oscar Niemeyer para criação de um parque na Ponta das Lajes para que se possa contemplar o ‘Encontro’ confirma a importância que, também a administração da cidade de Manaus, dá ao local.
Considero que o sítio deva ser incluído para ‘compor base de dados de nossos MONUMENTOS GEOLÓGICOS’, conforme definição da SIGEP”.
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