Lena Andréa Muniz*
Para fundamentar os estudos recorre-se a uma breve análise dos capítulos do livro de Leo Huberman – História da Riqueza do Homem e Sacerdotes, Guerreiros e Trabalhadores, Ouro, Riqueza e Glória do qual se utilizou para retratar as várias manifestações do poder, tais quais: o poder do Estado, do Rei, da Igreja e das demais classes dominadoras, onde manda quem pode e obedece quem quer ir para o céu.
No entanto, para se dar continuidade se faz necessário conceituar a palavra poder. De acordo com Corssetti.
“a palavra poder designa a capacidade ou possibilidade de agir, produzir efeitos. Esta designação pode ser referida tanto a uma dimensão social envolvendo indivíduos ou grupos humanos como a fenômenos de ordem física natural”.
Sacerdotes, guerreiros e trabalhadores.
Ao logo desse primeiro capítulo do livro supracitado, o autor faz uma exposição de como se davam as relações entre as classes servis, nobre e clero, tomando como pano de fundo o sistema econômico denominado feudalismo.
De acordo com HUBERMAN (1997) as terras agrícolas em grande parte da Europa Ocidental e Central, dividiam-se em feudos.
Como característica principal do feudalismo, ressalta-se que as terras eram dividas em duas partes, uma pertencente ao senhor do feudo e a outra parte era dividida entre os arrendatários (mansos).
As condições em que viviam os camponeses eram de extrema miséria, trabalhando arduamente nas faixas de terras espalhadas. Existiam vários graus de servidão: os servos de domínio viviam permanentemente ligados à casa do senhor; os fronteiriços camponeses paupérrimos mantinham pequenos arrendamentos de um hectare; os aldeões que possuíam só uma cabana e deviam para o senhor em troca de comida, não possuíam arrendamento.
A riqueza era determinada por um único fator – a terra, ou seja, quanto mais se possuía terra mais poder se possuíam, mais servos se tinha.
Uma das maiores proprietárias de terras do período feudal foi à igreja. A maior, mais poderosa e mais duradoura que qualquer outra coroa. Algum nobre em suas conquistas se apoderava das terras de seus inimigos e doavam parte à igreja que detinha esse poder sobre os nobres, às vezes o poder do clero superava o poder da coroa visto que a igreja era a possuidora das chaves do céu, que de certa forma vendia àqueles que podiam pagar, em dinheiro, pelo purgamento de seus pecados, inclusive poderiam pagar de forma antecipada por algum tipo de pecado que haveriam de cometer.
Tanto o senhor quanto o servo contribuíam para o enriquecimento da igreja, aumentando assim o controle e o patrimônio da igreja, tornando-a a maior senhora feudal, ou seja, o clero e a nobreza nesse período constituíam as classes dominantes.
Portanto, observa-se que os servos não tinham direitos e eram dominados tanto pelo senhor quanto pela igreja. Os camponeses trabalham dias a fio para o senhor e em nas suas terras, plantavam, colhiam, e viviam em função do senhor da terra, e sempre continuavam devendo a ele.
A igreja por sua vez incentiva de certa forma esse tipo de escravidão, pois prestava ajuda espiritual tanto para o senhor quanto para o servo. Uma das formas de manter o poder do senhor sobre o servo era levando o servo a pensar que a sua situação de escravo era uma dádiva do céu, ou seja, usava-se uma passagem bíblica que diz: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de agulha que um rico entrar no reino do céu, e assim o servo não se rebelava contra o senhor, pois de acordo com seu entendimento a sua condição de pobreza era a vontade de Deus.
Outra forma de a igreja manter seu poderio era impedindo que se fizessem empréstimos a juros, ou seja, a igreja proibia a usura, alegando que a usura era pecado, e que quem enriquecesse através dessa pratica seria excomungado e não herdaria o reino dos céus. Porém, a própria igreja emprestava, para os comerciantes, arrendatários, para o senhor, inclusive, valores a juros, ou seja, ela usava daquela máxima que diz; faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. A proibição era uma forma de diminuir a concorrência e ela continuar mantendo o controle de ambos os lados.
Por fim, não havia um governo forte na idade Média capaz de se encarregar de tudo. A organização, no todo, baseava-se num sistema de deveres e obrigações do principio ao fim. A posse da terra não significa que se pudesse fazer dela o que agradasse.
O que se pode acrescentar sobre a narrativa acima é o que cita Eduardo Corssetti, em seu texto, Poder e Poder Político:
“... de que o poder é constituído por uma situação processual em que um dos atores impõe um comportamento ou atitudes, que contrariam interesse, para, em virtude disso, realizar os seus próprios, buscando assim, determinados benefícios.”
Ou seja, utilizando a máxima de Maquiavel, em sua obra “O Príncipe” que afirma que “os fins justificam os meios”, ou seja, para que tanto os senhores quanto a igreja detivessem o poder não importava a situação em se encontrava o servo, ou que deturpação haveria de se fazer sobre o que rege a bíblia, pois a interpretação desta varia de acordo com o interesse de quem dela se utiliza.
De acordo com Corsseti, o efeito sobre o subordinado é o de torná-lo disciplinado por adesão, através do convencimento de que tal situação deve ser determinada modo e não de outro. A ideologia do dominante frente ao subordinado funciona na pratica em dois planos simultâneos : A racionalização do dominante e a motivação do dominado.
A racionalização do dominante e a motivação do dominado é contemplado na questão do clero quando mantêm o poder sobre o senhor que diante de suas conquistas divide com esta dando-lhes boa parte de sua riqueza como forma de alcançar seus objetivos, incluindo alcançar o reino dos céus.
O dominado na figura do servo, ao aceitar sua condição de escravo mantendo sua servidão sem revolta contra seu escravizador, mesmo sendo o senhor nessa relação o maior dependente, na questão da sobrevivência diária, pois sem o servo o senhor teria que fazer tudo àquilo que eles faziam para manter a reserva senhorial funcionando, sendo eles responsáveis pela manutenção do senhor, quando produzem tudo que o senhor precisar desde alimentos até vestuários, e por muitas vezes sentindo-se gratos àqueles (opressores) por se acharem dadivosos quando se sentem esperançosos de ter descanso eterno, acreditando na vida aos a morte, situação essa mantida através dos dogmas da igreja.
“Ouro, riqueza e glória”
Leo Huberman, analisa e discute no capítulo XI e XII – Ouro, Grandeza e Glória, onde a preocupação girava em torna das riquezas de um país. Os governos ambicionavam riqueza e poder, assim interferiam na vida de seus tributários (súditos), moldando e regulamentando em prol desses objetivos, essa interferência na vida da sociedade, encaixou-se nos moldes do sistema mercantil.
O princípio de todo o sistema mercantilista se dava pela exploração das colônias em busca de metais preciosos, a sua posse, ou seja, o total de metais preciosos que um país possuía era o índice de riqueza e poder.
Assim, muitos paises proibiram a exportação de metais para que fosse preservado em seus paises e fossem vistos como paises ricos e poderosos.
Eduardo Corsseti, em seu livro Poder e Poder Político cita que:
“O alcance dos processos de poder dependem da recorrência aos recursos que sustentam a relação e que se constituem nos meios pelos quais se realiza tanto a possibilidade da assimetria como a das sanções”.
(...)
“O subordinado age de acordo com que presumidamente desejaria o dominante , com receios das punições”.
(...)
As relações de mando e obediência que emergem da política , estão baseadas , além das coisas materiais, em hábitos, sobretudo na obediência...,”
Os mercantilistas afirmavam positivamente sobre o fomento da indústria, pois o seu crescimento não representava somente um aumento nas exportações e no favorecimento da balança comercial, porém aumentava, também, o índice de emprego. Este pensamento surgia em uma época em que existia um grande número de mendigos e desempregados, o que corroborava a tese de que consolidar o poder e as riquezas nacionais era uma necessidade, pois consequentemente manteria a boa forma dos súditos.
Os comerciantes almejavam grande parte dos lucros das companhias monopolizadoras privilegiadas, quando tentaram participar, foram excluídos, por esses motivos ansiavam pelo comércio livre. Os governos por sua vez queriam incentivar a indústria, porém, não poderiam fazer, pois ao ajudar uma classe automaticamente prejudica a outra, e como não poderia ser diferente a classe prejudicada protestavam.
Os constantes protestos devidos às políticas protecionistas. Os mercados estavam insatisfeitos com as restrições mercantilistas, queriam modificações que melhorassem seus negócios, então, defendiam a política que melhor traria riqueza e prosperidade ao país.
O que se pode observar é que em suma todos ambicionavam pelo poder, e a partir do momento que se sentissem acuados ou prejudicados em algum tipo de medida protestavam, o que deixa bem claro que o que Corssetti ressalta em Poder e o Poder Político que:
... deve-se saber que a força constitui um dos dados do poder, mesmo que possa vir a se constituir num dos mais canhestros de serem alcançados aos objetivos.
Economista e professora da UFAM
Referência:
CORSSETTI, Eduardo. Poder e Poder Político In., Marcelino, Nelson (ORG.) Introdução às Ciências Sociais. São Paulo (Campinas): papirus, 1987.
HUBERMAN, Leo. A Historia da Riqueza do Homem. 21 ed. LTC. Rio de Janeiro, 2009.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução Maria Lucia Cumo. Rio de Janeiro: paz e Terra, 1996 –
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