segunda-feira, 20 de julho de 2009

SBPC: EM DISCUSSÃO O FIM DA AMAZÔNIA



Antonio Pereira de Oliveira*

Para quem participou do debate na SBPC, cujo tema era: "O fim da Amazônia", deve ter saído de lá satisfeito com o nível das exposições. O auditório Jatapu estava superlotado e só consegui entrar depois de muito custo. Mas valeu a pena.

As exposições se polarizaram e, embora o tema fosse muito mais amplo, acabou recaindo sobre o asfaltamento da BR-319, dado a elevada temperatura que esse assunto vem ganhando nos últimos dias.

O primeiro a expor foi o pesquisador Philip M. Fearnside, alertando para o perigo de desmatamento indiscriminado e impacto ambiental de proporções alarmantes com asfaltamento da BR-319. Munido de estudos e pesquisas, mapas sobre o clima e sobre a floresta Amazônica, o pesquisador confrontou as posições dos estudos que defendem a pavimentação da rodovia. Ao lado de uma argumentação centrada nas ciências da natureza, dialogou também com os objetivos econômicos procurando demonstrar que alternativa de rodovia é incompatível com a preservação sendo é uma forma modal muito mais cara que outras alternativas, bem menos degradantes e bem mais baratas.

O segundo a falar foi o professor Alexandre Rivas, coordenador do estudo que mediu o impacto ambiental que a estrada pode causar na região. Embora tenha explanado sobre a Amazônia a partir de um enfoque neoclássico, procurando mostrar que, com base nessa teoria, a conservação da Amazônia só é possível se a natureza for incorporada como produto, os quais devem ser utilizados de forma sustentável, também não conseguiu fugir ao debate sobre a BR-319.

A meu ver, o maior mérito do professor foi sustentar sua tese sem subterfúgios ou mistificação. Defendeu claramente a economia de mercado e sua relação com a natureza. Por essa ótica, a conservação da natureza precisa estar vinculada a idéia de utilidade e de preço. Na sua explanação deixou transparecer a crença na "governança ambiental", como elemento inibidor de degradação ambiental.

A terceira a expor foi a professora Marilene Correa. Tomando o mote do debate, a sua reflexão se iniciou levantando a importância do sentido de se discutir "o fim da Amazônia" para, em seguida, sob um poderoso e articulado nível de argumentação, demonstrar a existências de várias Amazônias que se ergueram e se sucederam com formas de conhecimento e adaptabilidade distintas e igualmente inteligentes. Na sua exposição, Marilene, estabeleceu um importante diálogo com as ciências biológicas e a economia, afirmando o sentido histórico e cultural da Amazônia. Ao traçar numa perspectiva histórica as formas de ocupação e de adaptação da Amazônia, Marilene exortou a responsabilidade de todos e dos cientistas, em particular, com as escolhas. Ao fazer uma comparação com os impactos ocorridos em várias rodovias regionais, deixou transparecer sua posição favorável à BR-319.

Depois de tão instigantes exposições, o auditório inteiro estava estimulado a falar. Em meio a questões, depoimentos, reflexões, não faltaram as polêmicas e o tom acalorado de alguns participantes. O fato é que deu para extrair uma preocupação muito grande com tudo que vem ocorrendo e, sobretudo, com o que vem ocorrendo com a Amazônia.

Fiquei muito satisfeito e sai de lá muito estimulado a continuar meus estudos.

*Professor da área de ciências sócias formado pela UFAM.

Nenhum comentário: