quinta-feira, 18 de março de 2010

A INOVAÇÃO DAS ÁGUAS

Gilson Gil (*)

Creio que é hora de a cidade de Manaus ser inovadora, sem deixar de lado o seu desenvolvimento econômico, e atentar para seu patrimônio histórico cultural. Ser moderno e inovador é respeitar suas tradições e seu meio ambiente. Dessa forma, penso ser apropriado que o IPHAN realize o tombamento do Encontro das Águas, protegendo aquela área de projeto de gosto duvidoso (mesmo que com boas intenções econômicas). O IPHAN abriria as portas para a implementação do “Parque do Encontro das Águas”, conforme já previsto no Plano Diretor de Manaus (PDM), no artigo 55.

No fim de semana que passou, em Curitiba, reuniram-se mais de 3.500 pesquisadores, políticos e interessados em geral na Conferência Internacional de Cidades Inovadoras. Patrocinado pela Fiep, em parceria com as prefeituras da própria Curitiba, Lyon, Londres, Bengaluru e Austin, esse evento, através de cerca de 100 palestras e seminários, buscou discutir formas originais de gestão de conglomerados urbanos. Os temas centrais debatidos nesse encontro foram o transporte público, a mobilidade urbana, as alternativas energéticas, o problema dos resíduos, a inclusão social, a formação da cidadania, o desemprego e o acesso à saúde e à educação. A ênfase desses estudiosos está na idéia de “rede”, ou seja, na ligação entre os atores sociais e na troca de experiências. Conceitos inovadores - por exemplo, o multicentrismo ou o multimodalismo nos transportes - associados à perda da prioridade dos carros e a utilização intensiva de ciclovias, surgem como formas de consolidação da cidadania nos centros urbanos.

Das cidades inovadoras retornamos ao nosso “jardim” e nos defrontarmos com uma questão local: o Encontro das Águas e a possibilidade de construção de um porto naquele local. Creio que é hora de a cidade de Manaus ser inovadora, sem deixar de lado o seu desenvolvimento econômico, e atentar para seu patrimônio histórico cultural. Ser moderno e inovador é respeitar suas tradições e seu meio ambiente. Dessa forma, penso ser apropriado que o IPHAN realize o tombamento do Encontro das Águas, protegendo aquela área de projeto de gosto duvidoso (mesmo que com boas intenções econômicas). O IPHAN abriria as portas para a implementação do “Parque do Encontro das Águas”, conforme já previsto no Plano Diretor de Manaus (PDM), no artigo 55. Esse Parque poderia incluir o CEPEAM; centro de pesquisas já credenciado pelo IBAMA em área tombada pelo IPHAN, há quase uma década; e o Mirante, elaborado por Oscar Nyemeyer (projeto de R$ 600 mil, segundo jornais da época), para a antiga prefeitura. Além de tudo, há, segundo o PDM, a possibilidade de se encarar aquela região como uma “Área de especial interesse Ambiental” (art. 109), conforme o que o art. 114 já aponta, ao ressaltar a valorização e qualificação ambiental do Macroplano das orlas dos Rios Negro e Amazonas. Enfim, instrumentos jurídicos há, caso exista a real vontade moral e política (por que o silêncio dos partidos?) de se pensar Manaus, de forma renovadora e futurista, em especial o Encontro das Águas.

(*) É professor da UFAM com mestrado em Filosofia e doutorado em Sociologia com ampla participação nas Instituições de Ensino Superior no Amazonas,como também articulista do Jornal em Tempo de Manaus/AM.

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