terça-feira, 16 de março de 2010

PSDB ROMPE COM A POLÍTICA EXTERNA DO GOVERNO LULA


Aconteceu em Brasília: Em longo discurso hoje pronunciado no Senado, o líder do PSDB, Arthur Virgílio Neto (AM), anunciou o rompimento do seu partido com a política externa do País. “É decisão do partido”, enfatizou. “Chegou ao paroxismo o nível de equívocos da política externa. Ela tem sido desastrosa, ruinosa para os interesses do País.”

O senador acrescentou que o PSDB exige ser ouvido sobre os rumos da política externa. “Queremos – disse – abrir o diálogo com o ministro Celso Amorim, com o senhor presidente da República, se ele assim o desejar. Exigimos e cobramos alteração fundamental dessa política danosa, ruidosa, nociva, que está, aos poucos, desgastando e desmontando a imagem do próprio presidente no exterior, que está ameaçando a economia brasileira.”

“E olhe – observou Arthur Neto – que quero conceder ao presidente essa opinião fraterna: ‘Proteja o patrimônio que Vossa Excelência acumulou, presidente. Não permita que o seu nome seja desmoralizado como está sendo. Está virando chacota em editoriais de jornais americanos.’”

O líder ressaltou que seu partido não deseja paralisar as atividades diplomáticas brasileiras. Mas advertiu que daqui para a frente o partido se declara rompido com a política externa brasileira, não mais tendo compromisso com a aprovação simples e rápida de embaixadores.

O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), em aparte, disse que o Senado não pode deixar de tomar atitude diante do desvio de conduta na política externa. Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que Virgílio fazia “discurso histórico”, quando em seguida vários apartes de apoio, incluídos entre eles,aparte do líder do DEM, José Agripino (RN).

O líder tucano começara o discurso elencando os equívocos a seu ver cometidos:
01) O Brasil apoiou para a Direção da Unesco o egípcio antissemita Farouk Hosni e perdeu para a búlgara Irina Bokova. Mais grave: para apoiar Hosni, o Brasil desprezou o diplomata brasileiro Márcio Barbosa, que teria o apoio tranquilo dos países europeus e dos próprios Estados Unidos.

02) Na disputa por uma vaga na Haia, expôs, de maneira até pouco responsável, o nome íntegro de uma Ministra da Suprema Corte, a Ministra Ellen Gracie.

03) Concedeu status de economia de mercado à China, e os prejuízos econômicos daí decorrentes são conhecidos. Tudo isso em troca do apoio da China, que não viria jamais, porque se o Brasil conseguisse um lugar no Conselho de Segurança da ONU, o Japão também teria de ser admitido. “O governo brasileiro foi pueril”, assinalou o líder.

04) O embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa, apoiado pelo Brasil, perdeu a disputa para a Organização Mundial do Comércio, tendo tido o voto de um único país latino-americano: o Panamá.

05) O ex-ministro João Sayad foi derrotado para a presidência do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Dos nove membros, só quatro votaram no Brasil. Do Mercosul, só a Argentina.

06) Em 2005, o Brasil realiza a Cúpula América do Sul-Países Árabes, numa espécie de tentativa de rivalizar com a liderança de Bush. “Houve desfile de ditadores, alguns dos quais notórios financiadores do terrorismo”, notou o senador.

07) Em 2006, o Brasil votou contra Israel no Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas, no ano anterior, se recusou a condenar o Sudão por proteger uma milícia genocida que havia praticado os massacres de Darfur.

08) A rodada de Doha fracassa e o ministro Amorim diz: “A culpa é dos Estados Unidos, e pronto, está tudo resolvido”, disse o senador.

09) Evo Morales ameaça o patrimônio de acionistas e dos brasileiros como um todo no episódio de desapropriação de ativos da Petrobras.

10) Chávez atenta contra as liberdades e tenta nos empurrar goela abaixo como um membro do Mercosul.

11) A Argentina nos impõe barreiras comerciais a cada momento e o Brasil não sabe se impor àquele país, que está em crise criada pelo populismo.

12) O Paraguai rasga o Tratado de Itaipu.

13) O Equador chegou a sequestrar brasileiros.

14) Temos a simpatia absurda pela ditadura do Irã, que quer enriquecer urânio acima de 20%, para construir a bomba atômica, com a qual incendiaria ainda mais a grave situação geoeconômica, geopolítica do Orienta Médio.

15) E vem a tolerância com a ditadura da Coréia do Norte, regime que precisa do isolamento mesmo, até para cair, porque aquele povo merece aspirar à liberdade.

16) E vem Cuba. “Vimos – disse Virgílio – o tratamento dado aos boxeadores cubanos e agora o desprezo para com presos políticos que estão morrendo em greve de fome.

17) Agora chega Israel, com seguidas gafes. O presidente se recusa a ir ao túmulo de uma figura importante para eles, que é o Sr.Theodor Herzl. O chanceler israelense não foi ao Parlamento ouvir o discurso do presidente Lula.

E olhe que eu quero conceder ao Presidente essa opinião fraterna: proteja o patrimônio que Vossa Excelência acumulou, Presidente. Não permita que o seu nome seja desmoralizado como está sendo. Está virando chacota em editoriais de jornais americanos, está virando chacota em editorias de jornais ingleses... Ou seja, toda aquela poesia, toda aquela mágica se esvaiu. Então, nós não queremos que o Brasil perca nem conteúdo político, nem densidade econômica, nem perspectiva de negócios, nem respeitabilidade.

Trata-se de uma política externa que está-se mostrando infantil, pueril, tola, que terá a oposição do PSDB e que terá, daqui para frente, uma relação de ruptura com o PSDB enquanto o chanceler não sentar conosco, ouvindo-nos e respeitando a parte da população brasileira que representamos, para, conosco, alterar pontos que estão a ridicularizar o Brasil e que não significam, de forma alguma, nem perspectiva de bons negócios, nem pragmatismo, nem inteligência, nem lucidez, porque está sendo desastrosa, ruinosa, danosa, nociva para os interesses brasileiros a política externa que ora vem sendo praticada.

O Sr. Tasso Jereissati (PSDB – CE) – Senador Arthur Virgílio, eu queria parabenizá-lo pelo bonito, enfático, claro e didático discurso que V. Exª faz. A meu ver, trata-se, Senador Arthur Virgílio, de um discurso histórico, que marca uma posição do Senado, desta Casa, que tem como um dos seus papéis ser auxiliar na política externa deste País. Nós temos nos omitido, nos últimos anos, de fazer esse papel, sendo apenas um assistente de uma política externa que tem se mostrado cada vez mais desastrosa e que vem intensificando esse desastre nos últimos meses. V. Exª fez um feliz retrospecto de todos os equívocos, de todos os erros e de todos os ridículos a que o Brasil se submeteu nos últimos anos em razão de uma mistura de megalomania com ingenuidade e infantilidade proposta pela política externa brasileira. Ultimamente, essa política tomou aspecto pior ainda, porque, além de ser megalomaníaca e absolutamente infantil, tomou uma característica antiamericana, quase juvenil, dos anos 40, de assembleia geral de estudante secundário, juntando-se a uma virada de simpatia por todos os países e atos autoritários e não democráticos do mundo. Esse conjunto de coisas faz com que esse seu discurso hoje seja histórico, porque não podemos nos omitir e deixar o País continuar exposto a esse ridículo como está acontecendo agora. Agora, temos de ser – V. Exª expôs isso muito bem – absolutamente rigorosos no cumprimento do nosso papel de fiscalizar e corrigir os rumos da política externa brasileira. Senador Arthur Virgílio, eu queria dar-lhe meus parabéns por esse pronunciamento. Conte comigo nessa vigilância e nesse rigor para que o País deixe de se expor dessa maneira e de se mostrar aliado a tudo que é ruim e de ignorar tudo que é bom e democrático neste mundo por meio de uma visão que não sei como classificar. Parabéns pelo seu discurso. Estamos aqui cerrando fileiras com V. Exª nessa proposta que faz neste momento.

O Sr. Arthur Virgílio Neto (PSDB – AM) – Obrigado, Senador Tasso Jereissati, querido companheiro. Eu queria, em resposta a V. Exª, apenas lembrar mais uma coisa. O Presidente Lula esteve doente há pouco tempo. Eu não sei se outros foram tão rápidos em telegrafar a Sua Excelência lhe desejando pronto restabelecimento quanto eu próprio fui, porque, nesses momentos, separo muito bem essa questão pessoal e a solidariedade do meu exercício de Líder de um Partido de oposição, como é o PSDB. Agora, Sua Excelência, graças àquilo, escapou de um vexame internacional. O discurso que foi preparado para que ele lesse e que foi lido afinal e, graças a Deus, apenas pelo Ministro Celso Amorim – um discurso através do qual o Presidente ensinava ao mundo como o mundo se comportar, porque o Brasil, supostamente, teria sido o único País a enfrentar com galhardia a crise – era um discurso de tal forma cabotino, um discurso tão absolutamente bizarro que foi muito bom que não tivesse sido lido pelo Chefe da nossa Nação. Foi muito bom e muito oportuno. Eu queria agradecer, pelo aparte de solidariedade, a V. Exª, que foi um dos artífices, um dos construtores dessa ideia que ora é exposta pela Liderança do PSDB. Com muita honra, passo a palavra ao Senador Eduardo Azeredo, Presidente da Comissão de Relações Exteriores, e, em seguida, ao Senador Suplicy e, depois, ao Senador Jarbas Vasconcelos, pelo que eu estou vendo.

O Sr. Eduardo Azeredo (PSDB – MG) – Senador Arthur Virgílio, da mesma forma, quero dizer que V. Exª está levantando aqui um caminho de seguidas trapalhadas do Governo Federal que estão acontecendo. A responsabilidade da política externa não pode ser apenas do Executivo. O Legislativo tem essa função. A nossa Comissão de Relações Exteriores tem a função de acompanhar, de opinar, de discutir sobre a política externa. Por quê? Porque, com a modernização, com a diminuição de distâncias, com a globalização, com a exportação cada vez mais crescente, a economia brasileira depende muito dessa parte. Nós temos três milhões de brasileiros vivendo no exterior. São empregos que são gerados aqui no Brasil por causa das exportações. Portanto, nós não podemos nos omitir. E o que nós temos visto, mais recentemente, é exatamente a sequência de ações inapropriadas. É evidente que o Brasil está correto em manter relações mais próximas com os Brics, com a Rússia, com a China, com a própria África do Sul, o chamado Diálogo Sul-Sul, voltar um pouco mais para a América Latina, são pontos favoráveis. Agora, não tem sentido o Brasil se aliar a ditaduras; não tem sentido o Presidente Lula dizer que os presos políticos de Cuba são iguais aos criminosos comuns do dia a dia de São Paulo; não tem sentido o Presidente Lula defender um programa nuclear, cujo tratado o Irã está descumprindo, que ele mesmo assinou; não tem sentido o Brasil concordar com a criação de embaixadas no Caribe, que já chegam a 7, Senador Arthur Virgílio, 7 embaixadas em países que, na totalidade, não chegam a 250 mil habitantes, menos do que a cidade de Uberaba, em Minas Gerais. 7 embaixadas! Isso não pode passar sem uma discussão. A última chegou, a de Dominique, e já está parada na comissão, aguardando informações. Não tem sentido! Nós temos que discutir! Não é possível termos mais essa ideologização, um partidarismo na política externa, essa dualidade de comando. Afinal, é o Ministro Celso Amorim ou é o assessor Marco Aurélio Garcia. Ele tem uma opinião partidária e fica falando em nome do governo. Nós não podemos ter uma oposição dessa forma. A política externa não pode ser, eu volto a dizer, feita apenas pelo Executivo. Está aí o exemplo recente dos Estados Unidos, onde o embaixador apontado para o Brasil passou 6 meses para ser oficialmente indicado. Nós temos, portanto, que discutir um pouco mais. Eu quero, então, comunicar que, dentro das prerrogativas de Presidente da Comissão, eu suspenderei a sabatina de embaixadores até nós podermos ter uma discussão com o Ministro Celso Amorim, que, diga-se de passagem, sempre tem vindo quando convidado. Mas é importante que possamos ter essa discussão com ele. E está suspensa, portanto, a sabatina de embaixadores.

Saiba mais: http://www.senado.gov.br/agencia/verNoticia.aspx?codNoticia=100121&codAplicativo=2

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