Márcio Souza (*)
Um encontro sobre meio ambiente e Amazônia sem Ab’Saber, Berta Becker e Philip Fearnside, mas com Furlan, Al Gore e James Cameron não pode ser sério. O que se viu nesses últimos dois dias foi mais um momento de marketing político que um encontro sobre as questões ligadas ao sistema capitalista, este sim o principal responsável pelos desastres ambientais que estão levando o planeta à destruição. Thomas Lovejoy, que cunhou os conceitos de preservação biológica e biodiversidade, consegue conciliar sua ardorosa defesa das florestas com um cargo no Banco Mundial, organismo que vem deliberadamente financiando alguns dos maiores projetos agressores do meio ambiente e das populações nativas. Água, mineração e represas hoje representam a parte substancial da carteira de investimentos deste Banco que é mundial só no nome, mas que responde diretamente à Wall Street.
Aliás, tenho certeza que Lovejoy não está aqui recebendo homenagens por ser do Banco Mundial ou pelo Currículo Científico, mas por ter cunhado a proposta de trocar de dívida externa dos países do terceiro mundo pela conservação da natureza. Esta proposta serve de modelo para cozinhar a nova mistura saborosa do credito do carbono, que assanhou os arraiais dos espertalhões e políticos corruptos que proliferam mais rápido que os fungos nas florestas úmidas desses países “em desenvolvimento”.
É a cantilena do Virgilio Viana, inventor do ecosociety, da qual este encontro representa o seu cúmulo. A tal de Fundação Amazonas Sustentável, caixa-preta que o Ministério Público Federal deveria investigar como foi possível o Banco Bradesco “colaborar” usando certos desvãos escuros da privatização do Banco do Estado do Amazonas, é um desses nichos especialmente criados não para “preservar a natureza”, mas para captar os milhões de dólares se a má consciência dos grandes poluidores realmente existir. Enquanto o credito não chove na horta verde deles, vão captando um dinheirinho do governo do estado do Amazonas, uns dólares de uma cadeia de hotéis, onde podem se hospedar de graça, alguns milhões de recursos federais.
Enfim, se ainda não deu para abrir conta em paraísos fiscais, já dá para ir viajando de primeira classe e garantindo o uísque das crianças. Só o Furlan, que é um boboca, acredita no Virgílio Viana. O professor Ignacy Sachs já comparou a balela do crédito de carbono às indulgências plenárias, estopim da reforma protestante. Na Idade Média a Igreja Católica vendia indulgências, ou seja, o cara pecava à vontade e depois comprava a bem aventurança das mãos de um cardeal e tudo ficava bem.
O crédito do carbono é exatamente igual. O poluidor continua poluindo, envenenando as fontes de água e desmatando, mas se livra do pecado mortal depositando uns caraminguás na Fundação Amazônia Sustentável, para que os pobres caboquinhos continuem mantendo a mata em pé em troca de R$ 40,00 por mês. Para abrilhantar a festa, trouxeram na base do 0800 o Al Gore e o James Cameron, dois prestidigitadores de Hollyhood.
Al Gore é um rematado hipócrita, evangélico fundamentalista e plantador de tabaco, ator principal de um filme sobre um assunto que ele pensa entender após os “briefings” com sua equipe de produção. Quanto a James Cameron, está para a arte do cinema como Harold Robbins está para a grande literatura. Ou seja, os dois são notórios poluidores ideológicos, que só o movimento ecosociety poderia reunir num encontro sobre ambientalismo.
Para terminar, pergunto aos meus sete leitores: alguém ouviu alguma proposta sobre injetar recursos na Fapeam, para aumentar a chance de mais mestres e doutores amazonenses? - Claro que não, amazonense tem que continuar primitivo e ganhando a “bolsa-floresta” do que sobre das vilegiaturas do Virgilio Viana e sabe lá de que outros fins escusos.
* Renomado escritor brasileiro do Amazonas de reconhecimento internacional e um dos articulistas do jornal a Crítica.
Foto: Chico Batata - Agecom - AM
Um encontro sobre meio ambiente e Amazônia sem Ab’Saber, Berta Becker e Philip Fearnside, mas com Furlan, Al Gore e James Cameron não pode ser sério. O que se viu nesses últimos dois dias foi mais um momento de marketing político que um encontro sobre as questões ligadas ao sistema capitalista, este sim o principal responsável pelos desastres ambientais que estão levando o planeta à destruição. Thomas Lovejoy, que cunhou os conceitos de preservação biológica e biodiversidade, consegue conciliar sua ardorosa defesa das florestas com um cargo no Banco Mundial, organismo que vem deliberadamente financiando alguns dos maiores projetos agressores do meio ambiente e das populações nativas. Água, mineração e represas hoje representam a parte substancial da carteira de investimentos deste Banco que é mundial só no nome, mas que responde diretamente à Wall Street.
Aliás, tenho certeza que Lovejoy não está aqui recebendo homenagens por ser do Banco Mundial ou pelo Currículo Científico, mas por ter cunhado a proposta de trocar de dívida externa dos países do terceiro mundo pela conservação da natureza. Esta proposta serve de modelo para cozinhar a nova mistura saborosa do credito do carbono, que assanhou os arraiais dos espertalhões e políticos corruptos que proliferam mais rápido que os fungos nas florestas úmidas desses países “em desenvolvimento”.
É a cantilena do Virgilio Viana, inventor do ecosociety, da qual este encontro representa o seu cúmulo. A tal de Fundação Amazonas Sustentável, caixa-preta que o Ministério Público Federal deveria investigar como foi possível o Banco Bradesco “colaborar” usando certos desvãos escuros da privatização do Banco do Estado do Amazonas, é um desses nichos especialmente criados não para “preservar a natureza”, mas para captar os milhões de dólares se a má consciência dos grandes poluidores realmente existir. Enquanto o credito não chove na horta verde deles, vão captando um dinheirinho do governo do estado do Amazonas, uns dólares de uma cadeia de hotéis, onde podem se hospedar de graça, alguns milhões de recursos federais.
Enfim, se ainda não deu para abrir conta em paraísos fiscais, já dá para ir viajando de primeira classe e garantindo o uísque das crianças. Só o Furlan, que é um boboca, acredita no Virgílio Viana. O professor Ignacy Sachs já comparou a balela do crédito de carbono às indulgências plenárias, estopim da reforma protestante. Na Idade Média a Igreja Católica vendia indulgências, ou seja, o cara pecava à vontade e depois comprava a bem aventurança das mãos de um cardeal e tudo ficava bem.
O crédito do carbono é exatamente igual. O poluidor continua poluindo, envenenando as fontes de água e desmatando, mas se livra do pecado mortal depositando uns caraminguás na Fundação Amazônia Sustentável, para que os pobres caboquinhos continuem mantendo a mata em pé em troca de R$ 40,00 por mês. Para abrilhantar a festa, trouxeram na base do 0800 o Al Gore e o James Cameron, dois prestidigitadores de Hollyhood.
Al Gore é um rematado hipócrita, evangélico fundamentalista e plantador de tabaco, ator principal de um filme sobre um assunto que ele pensa entender após os “briefings” com sua equipe de produção. Quanto a James Cameron, está para a arte do cinema como Harold Robbins está para a grande literatura. Ou seja, os dois são notórios poluidores ideológicos, que só o movimento ecosociety poderia reunir num encontro sobre ambientalismo.
Para terminar, pergunto aos meus sete leitores: alguém ouviu alguma proposta sobre injetar recursos na Fapeam, para aumentar a chance de mais mestres e doutores amazonenses? - Claro que não, amazonense tem que continuar primitivo e ganhando a “bolsa-floresta” do que sobre das vilegiaturas do Virgilio Viana e sabe lá de que outros fins escusos.
* Renomado escritor brasileiro do Amazonas de reconhecimento internacional e um dos articulistas do jornal a Crítica.
Foto: Chico Batata - Agecom - AM
Um comentário:
Pois é, eu sou mais um além dos sete leitores que concorda plenamente com que você escreve sobre este assunto e sobre a nossa cidade na coluna "A Capital do Mormaço" em A Crítica. Esssa história de de grandes capitalistas preocupado com meio ambiente parece mesmo paradoxal, pois é sabido que se não mudarmos a matriz economica de nada adianta preservar, ou brincar de preservar alguma coisa. O problema todo está justamente na lógica capitalista, no consumo desenfreado que necessita cada vez mais de materi prima para continuar a satisfazer a "grande democracia que é o Capitalismo". Parabens vocÊ continua muito bom como sempre!!!
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