domingo, 22 de novembro de 2009

LÁ PRAS BANDAS DE BENJAMIN CONSTANT

Ademir Ramos*

Ainda me lembro, foi perereca de político pra todo lado. No curso de uma campanha eleitoral temos episódios do mais hilário possível tal como a queda do palanque lá pras bandas de Benjamin Constant, território e domínio dos Tükuna, na fronteira do Brasil com o Peru, no alto rio Solimões, situado no Estado do Amazonas.

No dia do comício, os cabos eleitoras resolveram fazer uma surpresa pro candidato ao governo da situação, acordaram cedo, foram pras ruas e ribanceiras convocando índios, caboclos e descendentes de nordestinos pra comparecerem ao grande comício, alguns gaiatos querendo fazer média prometeram transporte, comida e garantiram também que dessa vez as aldeias dos Tükuna, além de asfaltada teriam água encanada. Foi um deus nos acuda. Era peruano se passando por brasileiro e assim, segundo, o filósofo Matrinxã, a coisa aconteceu.

Pelas 11 da manhã de setembro – data fatídica - no calor de quarenta graus, a coisa começou a pegar. O apresentador fez a pauta do palanque e ameaçava chamar os primeiros candidatos pra falar. Ora, nesse momento ninguém quer falar primeiro. Lembro que certa vez lá em Maués, no médio Amazonas, um candidato médico inventou até fazer um parto nessa hora, voltando depois pro comício cheirando a éter pra demonstrar que estava de fato no hospital, livrando-se da maldição de falar por primeiro no comício.

Nessa altura do campeonato, a plumagem do partido está se refestelando no ar condicionado das casas dos seus anfitriões ou nos apartamentos dos hotéis do município. De tal forma, que combinam entre si para comparecerem na hora certa, falando as mesmas promessas que fizeram no passado. Saibam os senhores, que tinha candidato a Deputado prometendo até asfaltar a estrada de Benjamin Constant a Atalaia do Norte. Todos os anos eles mandam passar um verniz preto que os indígenas traduzem como breu mole. Para parar com isso, foi preciso o candidato a governador gritar: calma essa fala é minha, fica na tua.

Era puxa-saco espirrando pra todo lado. Deixa está, que nessa altura, bem de longe dali, estavam os alunos da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), como observador participante, filmando a papagaiada dos candidatos da situação. Na verdade, Benjamin Constant é o Pólo Universitário do Solimões. A UFAM, por sua vez, está construindo seu complexo de salas e laboratórios pra abrigar regularmente os cursos universitários planejados para o local, em destaque a efetivação do Curso de Antropologia implementado no Amazonas em território indígena, o município tem tutano intelectual. Por lá já passaram renomados pesquisadores como Curt Nimuendaju, Roberto Cardoso de Oliveira, João Pacheco, Júlio Cezar Melatti e outros iluminados da Antropologia brasileira.

Às 13 horas, num calor infernal, os convidados com sede, com fome, alguns até bêbados, reclamando pelos postes “isso não vai dar certo”, “isso...”, foi quando o candidato a governo da situação começou a falar e realmente foi muito aplaudido. No entanto, quando os famintos, sedentos e bêbados subiram no palanque pra tocar no “sagrado”, como os arquétipos dos devotos santeiros, o bicho começou a se desfazer todo. Foi quando o bêbado mais uma vez exclamou: eu não disse... disse. A coisa é certa tudo que sobe desce é a lei da gravidez..dade - gravidade. E assim, nossa querida Benjamin Constant será mais uma vez lembrada no imaginário político da região, sem se falar nos prenúncios dos adversários, que até agora estão tentando compreender o que significa a queda dos candidatos da situação na reta final de campanha.

* É coordenador geral do NCPAM/UFAM.

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