quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Os Cem Anos da UFAM

Belmiro Vianez Filho (*)

Embora discreta, a celebração dos 100 anos da Ufam pode ser lida e retomada como ocasião de reflexão sobre o papel da academia no desenvolvimento sócio-cultural e econômico do Estado, suas demandas e desafios. Uma reflexão que remete necessariamente a um plano estratégico fincado na história e que pode ajudar a entender o Amazonas que fomos, somos e queremos. São conjugações verbais interdependentes, essenciais e vitais para resgatar nossa trajetória, identificar as contradições e demandas do presente e desenhar um futuro mais justo e equânime na ótica da prosperidade geral. E que seja um futuro coerente à vista das potencialidades naturais de que dispomos e dos níveis deploráveis de desenvolvimento humano que o IBGE acaba de revelar. Não há outro lugar, nem mecanismo além da academia, que possa cumprir esse papel decisivo de conhecimento, reflexão e planejamento para um novo ordenamento do tecido social, gerando o enfrentamento e equacionamento dos dilemas do cotidiano e da nossa história.

O surgimento da Universidade Livre de Manaus em janeiro de 1909, poucos anos antes do início da derrocada das folias do látex, é por si um bom começo para a compreensão do desfecho melancólico dessa festa. O Brasil não atentou para o papel do conhecimento na consolidação do ciclo de pujança que a borracha propiciou. A implantação tímida da academia, desvinculada da economia, sociologia e demandas tecnológicas de então, traduz um Brasil sonolento, que tratava o parque botânico de suas potencialidades amazônicas como um zelador distraído de um tesouro perdulário e incessante, com o qual não se fazia necessário qualquer preocupação gerencial. Os laboratórios do Museu Botânico de Londres, naquele mesmo instante, e em contrapartida, fervil havam de estudos de aperfeiçoamento genético para cultivar nos domínios britânicos da Malásia as sementes tropicais da Hevea brasiliensis. Pode parecer enfadonho, mas é vital retomar essa estória. A economia da Coroa reagiu com bons frutos à semeadura da pesquisa e da inovação tecnológica, e os ingleses agregaram em modestas colheitas do látex 60% de valor a sua economia.

Foi com essa inquietação e consciência que Artur Virgílio Filho, Almino Afonso e Gilberto Mestrinho quiseram retomar, cinqüenta anos depois, o lugar, o papel e a importância da academia nos rumos do desenvolvimento regional e afirmação de nossa identidade, história e porvir. Daí terem refundado a academia no Amazonas. E o fizeram no clima do pós-guerra, quando os países que venceram o conflito não tardaram a compreender o papel estratégico do almoxarifado amazônico, suas reservas bióticas, energéticas e minerais, para desenhar uma nova correlação de força e dominação mundial. Por isso a criação do Instituto da Hiléia Amazônica, uma delegação da ONU para seu braço de Educação e Ciência, a Unesco, a quem competiria sorrateiramente ocupar e explorar a multi-potencialida de amazônica. Por lucidez, resistência e discernimento Getúlio Vargas criou anos antes o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia e evitou naquele instante uma ocupação desastrosa aos interesses regionais e de brasilidade, um estalo de compreensão e prontidão que a sonolência do poder em exercício costuma, às vezes, negligenciar. Ação e reflexão, conhecimento e intervenção, inovação e tecnologia... que outro modo há de avançar, progredir, prosperar com justiça, distribuição de renda e sustentabilidade ambiental? Eis o papel essencial da Universidade e a ela nossas efusivas felicitações!

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· Os custos ambientais da BR 319 – Enquanto uma rodovia investe 7,5% de seus recursos nos custos de licenciamento e compensações ambientais em qualquer trecho do território nacional, na Amazônia esses custos sobem a 22,5% do investimento, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, a propósito da recuperação da BR 319. Mesmo assim, o Ministério do Meio Ambiente sentou em cima da liberação da estrada, para deleite dos ecologistas de Ipanema.

· Posse de Gurgacz – O presidente do Sinetran, o paranaense radicado na Amazônia desde quando seu pai, Assis Gurgacz fundou e empresa Eucatur, nos anos 60, será o novo senador por Rondônia. Ele ocupa a vaga de Expedido Júnior e já disse que o Amazonas pode contar com sua luta. Uma força política vinda de quem conhece e gera emprega e renda no Estado.

· Bancada Federal – Às vésperas do próximo pleito, a tendência dos representantes políticos é priorizar os próprios interesses eleitorais. Muitos dele esquecem que o eleitor está mais consciente e que as noticias na era dos satélites correm muito mais que rastilho de pólvora. Por isso, a melhor e mais inteligente preparação eleitoral é a ampliação da carga de trabalho.

· Timidez coletiva – No frigir dos ovos de uma avaliação mais acurada, é coerente afirmar que foi tímida a articulação da bancada na defesa coletiva de algumas bandeiras e demandas do Estado. O exemplo emblemático é a PEC dos CDs/DVDs, que deveria ter mobilizado o conjunto das bancadas sob a coordenação das lideranças do Estado. Reforma tributária, a questão energética, a liberação do contrabando paraguaio... é hora do mea culpa e renovação de compromissos.

(*) É empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas. belmirofilho@belmiros.com.br

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