Ela guarda o equivalente em CO2 a dez anos de emissões globais; num cálculo hipotético, vale duas vezes mais em pé do que devastada
Herton Escobar
O Estado de S.Paulo
O maior desafio do Brasil para reduzir suas emissões de gás carbônico pode ser resumido em uma única frente, a da redução do desmatamento. Em todos os biomas, mas principalmente naquele que é, talvez, o ativo ambiental número 1 do mundo, a Amazônia. Hoje, a floresta é derrubada principalmente para dar lugar à produção de carne e grãos. Um péssimo negócio para o País, na avaliação do diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Paulo Moutinho. Numa conta aproximada feita por ele e outros pesquisadores, a substituição da floresta inteira por pastagens e plantações de soja valeria cerca de US$ 250 bilhões. Conservada, levando em conta só o valor do carbono estocado em suas plantas, ela vale pelo menos o dobro: US$ 500 bilhões.
A devastação da floresta é a atividade que mais pesa nas emissões nacionais de gases do efeito estufa (57%), com a agravante de contribuir muito pouco para o crescimento do País. "É o nosso calcanhar de Aquiles", diz o pesquisador Roberto Schaeffer, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um problema de proporções gigantescas, mas cuja solução embute oportunidades igualmente grandes: as de salvar a floresta, reduzir o mea culpa brasileiro na questão do aquecimento global e, ao mesmo tempo, transformar seus recursos naturais numa alavanca inédita de desenvolvimento econômico sustentável de baixo carbono.
Resta saber se o País vai optar por esse caminho inovador, ou se acomodar numa trajetória padronizada de desenvolvimento. "O governo precisa acordar para o fato de que, num mundo aquecido, quem sair na frente com essa economia vai ter uma vantagem competitiva muito grande", diz Moutinho.
Houve avanços na tarefa básica, de conter o desmatamento. O tamanho da área de floresta derrubada anualmente na Amazônia encolheu mais de 70% nos últimos cinco anos, de 27.772 quilômetros quadrados em 2004 para 7.464 km², em 2009. E dados preliminares apontam para uma forte tendência de queda também em 2010, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Falta o passo mais difícil, dar aproveitamento econômico sustentável às florestas que ficaram de pé. "As forças de ocupação da floresta estão represadas, mas não sumiram", diz o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. "O dilema agora é equacionar a questão econômica, para relaxar medidas restritivas sem que as atividades ilegais sejam retomadas."
Para isso, é preciso criar alternativas econômicas para comunidades da região, que sempre dependeram do desmate para sobreviver. "A floresta precisa ter valor em pé", diz Moutinho, ressaltando que isso não significa colocá-la numa redoma. "Há muitos recursos florestais e serviços ambientais que podem ser explorados de forma sustentável."
Em tempos de mudança climática, o recurso mais visado no mercado global de sustentabilidade é o carbono, que as plantas absorvem da atmosfera e estocam em seus tecidos, via fotossíntese. Só a Amazônia guarda o equivalente em CO2 a dez anos de emissões globais por queima de combustíveis fósseis. Sem contar o Cerrado, que também estoca grandes quantidades de carbono.
O principal mecanismo proposto para valorizar esses estoques, o Redd, sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, prevê o pagamento pela preservação de florestas e do carbono contido nelas. "O dinheiro que vier do Redd tem de ser usado para estimular atividades produtivas que gerem renda, não só para criar reservas", diz Câmara. "Caso contrário, não vai funcionar." As regras do mecanismo estão sendo negociadas na Convenção do Clima da ONU.
Fonte:http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100901/not_imp603362,0.php
Herton Escobar
O Estado de S.Paulo
O maior desafio do Brasil para reduzir suas emissões de gás carbônico pode ser resumido em uma única frente, a da redução do desmatamento. Em todos os biomas, mas principalmente naquele que é, talvez, o ativo ambiental número 1 do mundo, a Amazônia. Hoje, a floresta é derrubada principalmente para dar lugar à produção de carne e grãos. Um péssimo negócio para o País, na avaliação do diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Paulo Moutinho. Numa conta aproximada feita por ele e outros pesquisadores, a substituição da floresta inteira por pastagens e plantações de soja valeria cerca de US$ 250 bilhões. Conservada, levando em conta só o valor do carbono estocado em suas plantas, ela vale pelo menos o dobro: US$ 500 bilhões.
A devastação da floresta é a atividade que mais pesa nas emissões nacionais de gases do efeito estufa (57%), com a agravante de contribuir muito pouco para o crescimento do País. "É o nosso calcanhar de Aquiles", diz o pesquisador Roberto Schaeffer, do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Um problema de proporções gigantescas, mas cuja solução embute oportunidades igualmente grandes: as de salvar a floresta, reduzir o mea culpa brasileiro na questão do aquecimento global e, ao mesmo tempo, transformar seus recursos naturais numa alavanca inédita de desenvolvimento econômico sustentável de baixo carbono.
Resta saber se o País vai optar por esse caminho inovador, ou se acomodar numa trajetória padronizada de desenvolvimento. "O governo precisa acordar para o fato de que, num mundo aquecido, quem sair na frente com essa economia vai ter uma vantagem competitiva muito grande", diz Moutinho.
Houve avanços na tarefa básica, de conter o desmatamento. O tamanho da área de floresta derrubada anualmente na Amazônia encolheu mais de 70% nos últimos cinco anos, de 27.772 quilômetros quadrados em 2004 para 7.464 km², em 2009. E dados preliminares apontam para uma forte tendência de queda também em 2010, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Falta o passo mais difícil, dar aproveitamento econômico sustentável às florestas que ficaram de pé. "As forças de ocupação da floresta estão represadas, mas não sumiram", diz o diretor do Inpe, Gilberto Câmara. "O dilema agora é equacionar a questão econômica, para relaxar medidas restritivas sem que as atividades ilegais sejam retomadas."
Para isso, é preciso criar alternativas econômicas para comunidades da região, que sempre dependeram do desmate para sobreviver. "A floresta precisa ter valor em pé", diz Moutinho, ressaltando que isso não significa colocá-la numa redoma. "Há muitos recursos florestais e serviços ambientais que podem ser explorados de forma sustentável."
Em tempos de mudança climática, o recurso mais visado no mercado global de sustentabilidade é o carbono, que as plantas absorvem da atmosfera e estocam em seus tecidos, via fotossíntese. Só a Amazônia guarda o equivalente em CO2 a dez anos de emissões globais por queima de combustíveis fósseis. Sem contar o Cerrado, que também estoca grandes quantidades de carbono.
O principal mecanismo proposto para valorizar esses estoques, o Redd, sigla para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação, prevê o pagamento pela preservação de florestas e do carbono contido nelas. "O dinheiro que vier do Redd tem de ser usado para estimular atividades produtivas que gerem renda, não só para criar reservas", diz Câmara. "Caso contrário, não vai funcionar." As regras do mecanismo estão sendo negociadas na Convenção do Clima da ONU.
Fonte:http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100901/not_imp603362,0.php
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