segunda-feira, 27 de setembro de 2010

RAÍZES SOCIAIS DO LULISMO POR ANDRÉ SINGER

Ex-porta-voz de Lula diz que lulismo tem raiz conservadora. É tema recorrente que exige dos especialista uma profunda leitura conjuntural para se compreender o Brasil e sua perspectiva ascendente politicamente ancorada na bolsa de valores e no bolsa família, o que André Singer conceituou de realinhamento do eleitorado, que muito tem impulsionado a candidatura lulista.

Julia Duailibi
O Estado de S.Paulo

Em artigo acadêmico, Singer avalia que Lula "obteve autonomia bonapartista". Ex-secretário de Imprensa e ex-porta-voz do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o cientista político André Singer publicou um artigo acadêmico no qual define as raízes do "lulismo", afirmando que o fenômeno incorporou "pontos de vista conservadores", surgiu baseado no "conservadorismo popular" e concedeu ao presidente "uma autonomia bonapartista". Publicado na última edição da revista Novos Estudos, do Cebrap, o texto Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo pretende debater o realinhamento eleitoral que teria ocorrido a partir da reeleição de Lula em 2006.

Singer sugere que o subproletariado - termo usado pelo economista Paul Singer ao analisar a estrutura social do Brasil no início dos anos 80 -, que sempre teria se mantido distante de Lula, aderiu em bloco à sua candidatura depois do primeiro mandato, ao mesmo tempo em que a classe média se afastou dela.

VIA DE ACESSO: "O primeiro mandato de Lula terminou por encontrar outra via de acesso ao subproletariado, amoldando-se a ele, mais do que modelando, porém, ao mesmo tempo, constituindo-o como ator político", disse. "Isso implicou um realinhamento do eleitorado e a emergência de uma força nova, o lulismo, tornando necessário um reposicionamento dos demais segmentos." De acordo com o autor, esse realinhamento só foi possível porque o subproletariado passou a ver em Lula, com o seu discurso conservador, a "manutenção da ordem" - o que não ocorrera nas eleições anteriores. "A elevação do superávit primário para 4,25% do PIB, a concessão da independência operacional do Banco Central (...) e a inexistência de controle sobre a entrada e a saída de capitais foram o modo encontrado para assegurar um elemento vital na conquista do apoio dos mais pobres: a manutenção da ordem", afirma Singer.

Esse realinhamento teria tirado a centralidade dos estratos médios da sociedade - como os estudantes e assalariados com carteira assinada, que formavam a base eleitoral do petista - e explicaria o "relativo desinteresse de Lula pelos formadores de opinião". "À medida que passou a ser sustentado pela base subproletariada, Lula obteve uma autonomia bonapartista (sem qualquer conotação militar)", diz o autor, para quem essa adesão "salvou o presidente da morte política a que parecia condenado pela rejeição da classe média." A análise sugere que o tripé Bolsa-Família, aumento real do salário mínimo e a expansão do crédito colaborou com o realinhamento.

RESUMO: O artigo, ver aqui http://novosestudos.uol.com.br/acervo/acervo_artigo.asp?idMateria=1356 sugere hipóteses para compreender o realinhamento eleitoral que teria ocorrido em 2006. O subproletariado, que sempre se manteve distante de Lula, aderiu em bloco à sua candidatura depois do primeiro mandato, ao mesmo tempo em que a classe média se afastou dela. A explicação estaria em uma nova configuração ideológica, que mistura elementos de esquerda e de direita. O discurso e a prática, que unem manutenção da estabilidade e ação distributiva do Estado, encontram‑se na raiz da formação do lulismo.

Fonte:http://eleicoespresidenciais2010.blogspot.com/2010/01/215-raizes-sociais-do-lulismo-andre.html

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