sábado, 18 de setembro de 2010

BALSAS DO PORTO DE SÃO RAIMUNDO: ANTE-SALA DO PURGATÓRIO

Ademar Xico Gruber (*)

Sábado, dia 10 de Setembro, resolvo dar um pulo na cidade de Manacapuru (outro lado de Manaus), rever amigos e comer um peixe gostoso. Jamais iria imaginar os pecados não cometidos que iria pagar e nem tampouco a via sacra de um cristão, cristianizado (expressão política para os traídos, traidores e arrependidos, desde a campanha de Cristiano Machado (PSD) à Presidência do Brasil no inicio dos anos 60).

Desloco-me para o Bairro de São Raimundo, entro numa fila no Bairro de Santo Antonio às 14h, às 15h30 estou em frente à Câmara Municipal. A fila anda à passos de cágado.

Estou no pedágio, Policiais checam os documentos do carro e motorista. Trinta reais para o carro. Começa a andar mais rápido a fila, chegou a minha vez. Um jovem vestida de azul faz um sinal de parada e coloca um cone na frente do carro. Paro! Sou o último, fiquei de fora desta balsa, ao mesmo tempo sou o primeiro da próxima, são 17h. Três horas de suplício.

O tempo começa a passar. Pergunto aos guardas o que houve. Não sabem. Procuro a direção do porto. É sábado eles estão de folga no final de semana. Interessante e engraçado! O maior e mais rentável movimento da empresa acontece nos finais de semana e nestes ninguém com poder de decisão trabalha. É como se um médico depois de abrir a barriga do paciente deixasse-o no centro cirúrgico, por que seu turno acabou. Ou então um Padre com a hóstia consagrada em mão abandonasse o altar porque a novela ia começar. Mas é isto que acontece nos finais de semana no Porto das Balsas de São Raimundo de Manaus.

17h30, um garoto que peço sua identificação, me responde ser de uma empresa terceirizada, informa que este é o horário de abastecimento das balsas e aponta para o rio.

Realmente três balsas estão encostadas numa com um tanque. Trocam a mangueira para a outra. Alegro-me a que está pronta virá para o embarque. Ledo engano! Logo me dizem que só quando todas tiverem abastecidas é que retomam a travessia.

Entro no carro disposto a desistir. O vendedor de bebidas me consola e diz:

-Meu amigo, já sofreu até agora, aguarde uns instantes que tudo vai dar certo.

Não sei se foram suas palavras ou os Trinta reais pagos que me deram um pouco mais de paciência.

Espicho-me no carro, troco o cd e sou surpreendido por três pick ups (Carro utilitário) que me ultrapassam e ficam à minha frente. Uma da Secretaria de Saúde de Manacapuru, outro da Prefeitura de Iranduba e um terceiro com identificação do Tribunal de Justiça.

18h30. Os caminhões levantando poeira são os primeiros a entrar na balsa. Depois dois ônibus e finalmente sou autorizado a entrar. Com um ar de satisfação passo pelos carros que de uma forma abusada passaram à minha frente. Entro na balsa. Logo uma fila de carros entra. Estou no meio dela, olho para seu inicio e os três carros “oficiais” são os últimos a entrar. Serão os primeiros a sair. Uma grande jogada! Não enfrentaram fila e logo estarão rápidos e lépidos em sua viagem.

A balsa desatraca do porto. Estamos embaixo da imensidão da ponte sobre o Rio Negro em construção. Um gaiato logo diz:

- Esta aí, ainda vai levar três anos para ser pronta.

Estremeço. Alguns reclamam e ele completa:

- Claro. Vai eleger o governador e o sucessor. Vocês acham o que? Não vão dar de mão beijada. Na copa de 2014, talvez. Vão tirar primeiro nosso suor e paciência. Depois é que vem o agrado...

Entendi a mensagem. Sorrio para mim mesmo! - O povo é sábio. Reconhecem o trabalho, mas também sabem do oportunismo e da esperteza dos políticos. Uma guinada brusca da balsa assusta a todos. O motor da embarcação pára.

Putz. Aí já é demais...

19h30. Chega o socorro. Retomamos a viagem. 20h chegamos ao Porto do Brito. Olho para o lado da balsa, no ancoradouro e penso cá com meus botões. ”Se tiver uma balsa encostada volto na mesma pisada”. Não tinha. Que azar!

Desço e sigo viagem para Manacapuru. Chego a cidade são 21h. Foram sete horas na ate-sala do purgatório, para fazer 80 Quilômetros de Manaus a Manacapuru. É brincadeira!!! Vai demorar um pouco para refazer este trajeto. Depois disso só nos resta pior, o inferno. Este ainda não tenho pressa de conhecer!

È hora de intensificar o trabalho da ponte e ser vigilante. Este purgatório nunca mais!

(*) É escritor do Amazonas da cidade de Maués.

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