segunda-feira, 6 de setembro de 2010

GOVERNO DIFÍCIL

Gilson Gil (*)

A perspectiva da vitória da candidata federal chapa branca, pelas pesquisas, coloca muitas questões àqueles que pensam o Brasil e seus rumos. Para começar, o que são aqueles termos usados na propaganda gratuita?! “Mãe”, “meu povo”, “pai”, “saudade” etc. Desde Getúlio, o “pai dos pobres” (e a mãe dos ricos, segundo os opositores) que essas denominações não apareciam no cenário político nacional. O presidente e sua pupila não hesitam em falar “meu povo”, como se pais ou donos da população fossem. O tom paternalista, supostamente carinhoso, predomina no horário eleitoral governista.

Curioso, pois o PT foi criado, em 1980, para combater a política “tradicional”, alimentado pelos planos de Golbery para ver alguém tirar Brizola da liderança “esquerdista”. O PT, com sua crença antipolítica, cumpriu bem seu papel: destronou Brizola e os petebistas de seu trono. Atingiu seu ápice nas eleições de 1989, quando impediu o “engenheiro” de chegar ao segundo turno. Desde então, firmou-se no papel de “reserva moral” da nação (Brizola sempre reclamou desse udenismo), tomando o tema da ética como sua propriedade. Combateu impiedosamente os políticos tradicionais, agindo de fora do sistema, até chegar a postos de comando, nos anos 90, mas sempre dizendo-se diferente.

Agora, há uma situação curiosa. O presidente diz que continuará na vida pública, que comandará a reforma política, assunto que sua pupila nem menciona na propaganda e que ele mesmo ignorou em 8 anos. Com medo de deixá-la “solta”, ele fala que “estará no governo”. Em que cargo? De que maneira? Virará um superministro? Vamos esperar e ver. Mais interessante foi ver como ele se lamentou, há uns 15 dias, em palestra no Rio de Janeiro, que poderia “ficar mais uns anos” e que “seu maior erro foi não ter apresentado a emenda do segundo mandato”...

Assim sendo, um dos maiores problemas, caso vença situação, não estará no loteamento de cargos, como alguns analistas dizem. Veremos relações conturbadas, pelo que se insinua, entre a eleita e o atual presidente. Será complexa a relação entre ele, do alto de sua aprovação inédita, e seu partido, dividido entre o “pai” fora do poder e a “mãe”, com a caneta na mão. Será que a “mãe” aceita o papel de tampão, aguardando o “pai” voltar em 2014, sem criar problemas? O PT já combinou esse jogo, no qual é apenas um coadjuvante? Eis alguns pontos a serem pensados nessa reta final, entre outros, como o controle da imprensa ou a quebra política do sigilo fiscal.

(*) É professor, sociólogo, articulista do Em Tempo e pesquisador do NCPAM/UFAM.

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