sexta-feira, 17 de setembro de 2010

ÀS URNAS COM VERGONHA E INDIGNAÇÃO

Que falta nesta cidade? ... Verdade/ Que mais por sua desonra... Honra/ Falta mais que se lhe ponha... V E R G O N H A...! (Gregório de Matos).
Ademir Ramos*

Aos homens a vida não se resume ao pulsar dos corações ou a força bruta do fazer pelo fazer como prisioneiros do reino das necessidades. Não, é necessário sustentar o imaginário, a utopia, ou seja, a causa motora que justifique razões de nossa existência, o que os filósofos qualificaram como pro-jeto. Pois, segundo Sartre, o homem é o que projeta ser. Ao contrário, é um rato movido por instintos imediatos, embrutecidos e bestiais.

Nesse horizonte significativo reclama-se dos políticos o sentido maior de sua prática. Pois, embrutecidos pela corrupção e impunidade tornaram-se cínicos, mentirosos e viciados, desmoralizando a si e a política enquanto instituição das organizações de Estado e da Sociedade. É o espetáculo que presenciamos no cenário político local e nacional.

Em nossa história, esse comportamento dos políticos viciados foi muito bem condensado numa crônica hilária de Lima Barreto, datada de 1915, quando o cronista interpretou ser candidato, justificando sua determinação no cinismo e no oportunismo. Leia-se: “eu também sou candidato a deputado. Nada mais justo. Primeiro: eu não pretendo fazer coisa alguma pela Pátria, pela família, pela humanidade. Um deputado que quisesse fazer qualquer coisa dessas, ver-se-ia bambo, pois teria, certamente, os duzentos e tantos espírito dos seus colegas contra ele. (...) Recebendo os três contos mensais, darei mais conforto à mulher e aos filhos, ficando mais generoso nas facadas aos amigos”.

Ademais, Lima Barreto, como se fosse hoje - basta examinar os aventureiros, que disputam o voto popular no Amazonas e no Brasil - arremata: “nada sei da história social, política e intelectual do país; que nada sei de sua geografia; que nada entendo de ciências sociais e próximas, para que o nobre eleitorado veja bem que vou dar um excelente deputado”.

O cronista assimila como ninguém o quadro político nacional. No entanto, como bem diria Gregório de Matos, “não é fácil viver entre os insanos”, porque se faz necessário romper as barreiras da ignorância, do casuísmo, do que tudo pode e todo homem tem seu preço.

Esta postura defendida por alguns iluminados palacianos contraria o bom combate, que tem na política a causa da felicidade pública, bem como, o sentido da cidadania participativa. Pois, como bem sabemos segundo Max Weber, “todo homem sincero que vive para uma causa também vive dessa causa”.

No entanto, ficamos ressentidos quando a causa foi reduzida ao meio, unicamente para blindar uma candidatura das críticas contra o seu projeto de poder, marcados pelos desmandos ao sabor das paixões do “rouba mais faz”. Isso vale tanto para o planalto quanto para as ribeiras dos igarapés do Amazonas.

Resta-nos, como amazonenses e brasileiros, exercer o nosso direito coletivo, de forma estratégica, votando nos candidatos que defendem com Responsabilidade e Justiça a prosperidade de nossa gente, dando um bico na canela dos consumados larápios, que há tempo fazem do povo os bestiários da república. Porquanto pergunta-se fundamentado nos enunciados do poeta Gregório de Matos: Que falta nesta cidade? ... Verdade/ Que mais por sua desonra... Honra/ Falta mais que se lhe ponha... V E R G O N H A... às urnas com indignação!

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

Nenhum comentário: