sábado, 18 de setembro de 2010

PROPOSTAS

Gilson Gil (*)

É politicamente correto dizer que se irá votar em um candidato por causa de suas “propostas”. Pega bem em reuniões, salas de aula e conversas informais uma pessoa afirmar que escolheu um nome porque ele tem “propostas” concretas para a saúde, educação e segurança. Porém, como essas “propostas” foram ouvidas e compreendidas? O que vemos nas campanhas são carros envelopados, adesivos e folderes, material que não possui tipo algum de detalhamento maior.

Esse eleitor “consciente”, que fala nas ideias de seu escolhido poderia dizer que as ouviu no horário eleitoral gratuito. Contudo, quem já viu o HEG sabe que isto não é verdade. Os candidatos ao Legislativo pouco falam. Repetem frases previamente elaboradas e soltam bordões de gosto duvidoso. Os postulantes ao Executivo mostram belas imagens, tocam músicas animadas, capricham nos efeitos, mas pouco falam de conteúdo e apenas citam generalidades, soltando slogans preparados por seus marqueteiros e que, dificilmente, passarão do HEG.

Após a campanha, já empossados, muitos nem lembram daquilo que foi dito na TV. Novos programas e demandas surgem e o que foi brilhantemente defendido na mídia é esquecido.

E como as pessoas escolhem, de fato? Eu diria que há um mix de razões. Primeiro: não há uma sociedade apenas. Vivemos em vários grupos simultaneamente, cada um com sua forma de pensar e se comportar. As diferenças de idade, escolaridade, renda, religião e sexo são muito importantes em um processo de escolha. É ingênuo querer dizer que “a sociedade” se comporta “assim ou assado...”. É preciso detalhar de que segmento se comenta. Além disso, há toda uma imagem que o candidato constrói ao longo do tempo, especialmente aqueles de maior projeção, os “cabeças de chapa”. Sejam apresentadores de TV, médicos, professores, advogados ou parlamentares em busca da reeleição, eles possuem uma imagem pública (assistencialista, justiceiro, moralista, humano etc) que veio sendo elaborado por muito tempo de exposição à mídia e no contato com os eleitores.

Esses “puxadores” de votos nem precisam criar propostas, para a maioria de seu eleitorado, pois sua imagem já seria seu maior “ativo eleitoral”. Que propostas o eleitor de um apresentador que distribui diariamente dezenas de remédios espera dele? É hipocrisia esperar que brilhantes planos econômicos venham a sair de políticos com tal trajetória. Sejamos realistas: nem o Executivo deseja que venham a fazer isso!

PS. Não deixe de visitar o blog do ncpam.com.br, da UFAM

(*) É professor, articulista do Em Tempo e pesquisador do NCPAM/AM.

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