quinta-feira, 16 de setembro de 2010

TURISMÓLOGO : ALEGRIA E DECEPÇÃO

Ellza Souza (*)

A profissão de Turismólogo ainda não foi regulamentada mas já existem em Manaus seis universidades que oferecem o curso de turismo. Quase 200 novos profissionais chegam ao mercado por ano e são mais de 1.100 desde 1999. Desses, apenas 20% atuam no setor. Isso significa dizer que existem profissionais qualificados para trabalhar e existe um bom produto para vender chamado Amazônia. Faltam empresas que absorvam essa mão de obra e bons salários.

O turismo na Amazônia compreende segmentos como o turismo de natureza e o turismo de aventura em que a atividade deve ser feita dentro de um contexto sustentável da floresta e com pouca agressão à mesma. Segundo Alessandra Freire, 29 anos, recém formada na UEA, o turismo de negócios em Manaus também é promissor devido às indústrias do PIM (Pólo Industrial de Manaus). A população deve ganhar com os investimentos no turismo mas o ganho maior deve ser sempre o meio ambiente preservado. Então qualquer iniciativa deve passar pelo conhecimento e pela educação. Alessandra acha que sem um planejamento sério e consistente a atividade turística pode causar um grande impacto no meio ambiente. Lorena Gomes, 23 anos, concluiu o curso no ano passado e reclama das políticas públicas para a área, reconhece o potencial da região mas não sabe dizer se fez uma boa escolha. Abaixo o que elas pensam sobre a profissão que escolheram.

Lorena Manuela Gomes de Abreu e Alessandra Lúcia Fernandes Freire.
Por que escolheram o curso de turismo?


Lorena - Escolhi o turismo por ser uma atividade dinâmica com grande potencial na região.

Alessandra – Foi o curso da área social que chamou minha atenção. Achei que teria um vasto campo para atuar.

Que dificuldades vocês observam na área?

Lorena - Falta de iniciativas e implantação de projetos por parte dos órgãos públicos para o desenvolvimento da atividade turística na região, também a falta de mão de obra qualificada e a não regulamentação da profissão de turismólogo.

Alessandra – Para o profissional faltam oportunidades e o reconhecimento de sua importância no mercado de trabalho. Geralmente ele trabalha como atendente de balcão no hotel ou na agência de viagem. O ideal é que atuasse como um planejador da atividade do turismo.

Em que o turismólogo pode trabalhar no Amazonas?

Lorena - O turismólogo pode atuar como gestor de projetos para o desenvolvimento do turismo no Estado; na organização de eventos de todos os portes; trabalhar com o ecoturismo, na hotelaria de selva e urbana; na gastronomia regional. Todos são setores com grande potencial para absorver essa mão de obra qualificada.

Alessandra – O campo de atuação do turismólogo é fraco. Ele pode trabalhar nos segmentos de organização de eventos, alimentos e bebidas, hotelaria, mas poucos são os profissionais qualificados e bem remunerados atuando na área.

Se não arranjarem um trabalho na área vão mudar de profissão?

Lorena - Não, vou continuar tentando até mesmo porque meu objetivo é ser uma empreendedora e não ser empregada de terceiros.

Alessandra – Devido à falta de oportunidades já penso em mudar.
O turismo na Amazônia é muito falado. A prática corresponde à propaganda?

Lorena - Não, o fluxo de turistas ainda deixa muito a desejar.
Alessandra – Acho que sim. A Amazônia desperta curiosidade no turista estrangeiro e faz parte de seu imaginário. A maioria procura um turismo diferente, quer desvendar os mistérios da floresta e dos rios. O turismo cresce no Amazonas mas por enquanto só quem ganha é o empresário.

Quais suas expectativas para o futuro como profissional do turismo?

Lorena - Espero que o mercado turístico no Amazonas se expanda cada vez mais, abrindo assim mais oportunidades de trabalho para esses profissionais. E que a profissão de turismólogo, pela importância na atividade econômica, seja reconhecida em breve.

Alessandra – Gostaria de atuar em projetos mas não sei ainda onde vou atuar de fato. Quero contribuir com idéias, pesquisar e ver a melhor forma de desenvolver o turismo no Estado, com o menor impacto possível na natureza e maiores benefícios para as comunidades.

A Amazônia é de fato um produto fácil de se vender ?

Lorena - Sim, principalmente para os estrangeiros, uma vez que hoje existe muita polêmica em torno de sua preservação sendo considerada patrimônio mundial.

Alessandra – Sim, mas faltam investimentos em infra-estrutura nos locais mais visitados.

Quem procura mais a Amazônia, os brasileiros ou os estrangeiros?

Lorena - O estrangeiro procura muito mais a Amazônia.

Vocês acham que fizeram uma boa escolha?
Lorena - Sinceramente não sei.

Alessandra – Era pra ser uma boa escolha. Nos países desenvolvidos o turismo muito contribui para a arrecadação e são feitos investimentos que melhoram o setor. Assim, os profissionais da área são valorizados mas aqui não funciona assim.

Em Manaus, que empresas podem absorver a mão de obra qualificada?
Os salários são bons?


Lorena - O setor hoteleiro e as agencias de turismo. Os salários não são bons.

Alessandra – É frustrante passar 4 anos dentro de uma faculdade e quando chega no mercado é substiuído por pessoas sem qualificação e que não entendem nada de turismo e de Amazônia.

(*) É jornalista e colaborada do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

Wendel disse...

Hoje vivemos acuados com medo de perder a zona franca de Manaus, pois sabemos que ela é o nosso motorzinho que faz o amazonas crescer. O que esquecemos é a conseqüência que essa dependência nos faz ter. Dependemos inteiramente do modelo ZFM, não tendo outras vias de desenvolvimento e sobrevivência. O turismo sempre foi o meio mais viável de sobrevivermos, afinal temos a Amazônia e todos gostam dela, turismo seria a galinha dos ovos de ouro do Amazonas. O ecoturismo é como se designa o uso consciente da floresta a preservando e ganhando dinheiro com isso. O que falta para isso acontecer, em Barcelona o turismo representa 60% de seu PIB e olha que não é lá essas coisas em comparação com o Amazonas com nossas lindas cachoeiras e rios. Mais uma vez me volto a questão da gestão publica, o que ficamos fazendo com o dinheiro que esse PIM nos proporcionou durante esses quarenta anos e quase cinqüenta. Esperamos que nossas próximas lideranças administrem melhor nosso dinheiro para a copa do mundo para que o pós-copa não seja uma desastre econômico e administrativo. E que ao menos o turismo seja o grande beneficiado com isso, por que o povo é que não vai!!!!
Sejamos felizes!