quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ACA – BR 319 E A HIPOCRISIA AMBIENTAL


Belmiro Vianez Filho (*)

Nesta semana deveria seguir a reflexão sobre as fronteiras comerciais do modelo Zona Franca, um desafio que movimenta e inquieta os companheiros do varejo e repercute na economia e crescimento de todo o tecido social. Entretanto, a manifestação contundente e consistente da Associação Comercial do Amazonas, do alto de seus quase 140 anos de existência e comprometimento com os destinos desta região, sobre a recuperação da BR 319, Manaus – Porto Velho, exigiu tomada incontinente de posição para reacender o debate e a cobrança das promessas de equacionamento desse artificial dilema. O ponto de partida da entidade é constitucional e se refere ao direito legitimo e inalienável de ir e vir, fraqueado a todo o povo brasileiro, incluindo os apartados pela geografia e miopia de alguns governantes, os habitantes do Amazonas.

Convidada pelo Tribunal de Contas da União para expressar sua avaliação sobre o assunto, a ACA, nossa respeitável entidade, a quem nos referimos como venerável senhora, alinhou um a um os argumentos que respaldam o direito e as necessidades logísticas, sociais, econômicas, culturais e educacionais da recuperação da estrada sem esquecer de destacar as falácias que dão suporte aos argumentos de seus oponentes. Subjacente ao conjunto de motivos de sua defesa do empreendimento, a ACA denuncia indiretamente a negligência da União com os interesses das populações regionais e o descaso crônico e perverso que nos faz sentir cidadãos de segunda classe. Entre o direito e a necessidade, a União ignora as seqüelas desse isolamento e impede que o Amazonas siga empunhando a bandeira de sustentabilidade que descreve seu modelo de crescimento, e que preserva mais de 96% de seu bioma original.

A Associação Vida Verde da Amazônia, que fabrica sabonetes, incensos e velas com essências naturais extraídas da floresta amazônica, em Silves, a 380 quilômetros de Manaus, despacha por avião, para o principal mercado consumidor, São Paulo, sua produção com todos os custos e transtornos operacionais e burocráticos que o aparato logístico disponível exige. Uma cooperativa que extrai racionalmente os insumos naturais da biodiversidade para gerar opções de bio-negócios, como tantos outros que podem atenuar a penúria social e econômica das populações ribeirinhas. Pois é...

Nesta semana, o mesmo Tribunal de Contas flagrou uma série de irregularidades com a recuperação da BR 317, que liga Boca do Acre a Rio Branco, incluindo a ausência das formalidades ambientais, apesar da absoluta indiferença da autoridade ambiental federal. Esta mesma autoridade, o ministério do Meio Ambiente, apesar dos rigorosos estudos de impacto ambiental de doutores renomados da Universidade Federal do Amazonas, brecou a recuperação da BR 319, uma atitude que a ACA sabiamente classifica de hipocrisia ambiental. E ela, não tenham dúvidas, tem autoridade para dizê-lo.

Zoom-zoom

• Os indicadores do IBGE – Merece uma reflexão acurada e uma mobilização imediata de todos os agentes públicos e privados do Estado a publicação dos indicadores sociais e econômicos do IBGE sobre o Amazonas, feitos na semana passada. Estamos ocupando na área educacional e de saúde os últimos lugares no ranking nacional. E isso pode e precisa mudar.

• Crescimento e distribuição - Mortalidade infantil, saneamento básico, analfabetismo, trabalho infantil e desempenho escolar deficitário são algumas das chagas sociais que exigem providências por parte do poder público e do conjunto da sociedade. Afinal, a economia do Estado foi a que mais cresceu na última década no ranking nacional. Sem distribuição de renda iremos a lugar algum.

• Norte Competitivo – A Confederação Nacional da Indústria contratou uma empresa especializada no setor logístico para mapear os nove estados da Região Norte na identificação das cadeias produtivas e seus embaraços de transporte e distribuição. Os técnicos estiveram em Manaus para coletar informações, conhecer projetos e identificar obstáculos. Eis uma chance de retomar a vitalidade dessa discussão.

• Custo X Benefício – Os estudos da CNI são extremamente claros em seus objetivos. Eles vão analisar os problemas e as soluções dadas pelo poder público e iniciativa privada para avaliar o melhor custo X benefício de cada cenário. Com esses preparativos milionários da Copa de 2014, nada como integrar ações e preocupações visando o Day after do evento.

(*) É empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas: belmirofilho@belmiros.com.br

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