sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O (des) ENCONTRO DAS ÁGUAS



Belmiro Vianez Filho (*)

Leio nos jornais a movimentação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para o tombamento do Encontro das Águas. Seria, a propósito, aberto um processo licitatório visando à contratação de um geólogo e um antropólogo para “... promover estudos aprofundados sobre a potência geológica e a referência cultural e simbólica do fenômeno natural, que é objeto de um processo de tombamento como Patrimônio Natural e Cultural do Brasil”. Não sou especialista nessas filigranas conceituais, mas salta aos olhos do cidadão das ruas – todos nós que pagamos impostos e sustentamos generosamente os gestores públicos – a estranheza da metodologia de análise, e a oportunidade, digamos curiosa, da iniciativa, que dispensa a convocação do conjunto dos atores envolvidos para tratar a magnitude da questão. A empreitada coincide com proposta semelhante da deputada Vanessa Grazziottin, que percebeu a tempo seu açodamento e retirou da pauta do Congresso a propositura.

Ninguém de bom senso é contrário à conservação e, mais ainda, à divulgação do esplendor natural que este fenômeno representa, um verdadeiro orgulho da tribo e dos que aqui aportaram e se envolveram com a geografia e a sociologia local. O assunto, pois, é de relevância coletiva e não cabe em licitação nem se esgota na avaliação técnica de especialistas da academia. A discussão precisa ser abrangente, representativa, e dela devem fazer parte os interesses da coletividade, sua base cultural, social e infraestrutura econômica. Sem esta, particularmente, não dá para levar qualquer prosa adiante. A dispensa desses fatores vai reprisar graves equívocos e danos, como o que foi recentemente protagonizado pelo próprio IPHAN e a prefeitura municipal de Manaus, a propósito da revitalizaçãoão e recuperação do Mercado Adolpho Lisboa. Um conflito de vaidades inaceitável com graves seqüelas ao bem comum.

Neste exato momento de discussão, ou falta dela, envolvendo o gargalo logístico do modelo ZFM e sua perda crescente de competitividade, o tombamento do Encontro das Águas está sendo transformado em problema, quando na verdade poderá ser uma saída. O fenômeno, fonte de irresistível atração turística, já dispõe de legislação estadual específica através de uma significativa Área de Proteção Ambiental, que assegura os cuidados que o objeto requer, sob a responsabilidade do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas. O que se vislumbra, entretanto, e muito claramente sob o véu das manobras de cunho preservacionista, é a tentativa de boicotar as saídas desenhadas pela Suframa, entidades de classe e poder público estadual para deter o oligopólio portuário a que estamos submetidos. Um desencontro maroto e preocupante em nome da poesia e da estética fluvial que nos deveria unir e mover e não nos desarticular...

Zoom-zoom

Gralhas e macacos – As forças do atraso e do interesse menor contrárias ao enfretamento do gargalo logístico do modelo ZFM são semelhantes à descoberta súbita e fortuita de gralhas e subespécies de macacos em processos de ameaça de extinção na área de influência da rodovia BR 319. Um ambientalismo oportunista e tremenda inversão de valores e prioridades na escala da cadeia evolutiva e da relevância universal.

Desarticulação – Não apenas com relação à recuperação da estrada Manaus-Porto Velho, a BR - 319, o que se anota no desempenho da representação política do Amazonas, em Brasília, é a mais preocupante desarticulação e falta de alinhamento. Energia, comunicação, reforma tributária, liberação de indústrias exclusivas do pólo industrial em outros estados, por exemplo, produtos eletrônicos....são questões que deveriam manter os parlamentares em estado de vigília permanente. E isso pouco acontece.

V FIAM – a preparação de mais uma feira de divulgação e atração de empreendimentos se propõe a investir na ampliação, diversificação e interiorização do modelo Zona Franca e não pode ser deixada sob a inteira e exclusiva responsabilidade da Suframa. As entidades de classe dos diversos setores precisam interagir com a autarquia, propor alternativas, metodologias e apoio à iniciativa. Dizem os especialistas em mercado, que o maior desafio da Amazônia é justamente mostrar a diversidade e a magnitude de suas oportunidades. A hora é esta.

Prêmio Jabuti – E no que diz respeito à divulgação de nossa identidade, valores, crenças e demandas, os escritores da tribo têm marcado presença na passarela literária do país. Milton Hatoum, Mirna Feitoza, Lúcia Santaella e José Luís Campana foram destaques no prêmio Jabuti de Literatura. Felicitações especiais para nossos escribas.

(*) É empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas belmirofilho@belmiros.com.br

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