quarta-feira, 7 de outubro de 2009

FRONTEIRAS E DESAFIOS COMERCIAIS


Belmiro Vianez Filho*

A aproximação da temporada eleitoral no Brasil costuma alterar substantivamente planos, metas e cronogramas da ação pública e adiar a materialização de alguns projetos e programas de extrema relevância ao interesse público. Entre as relevâncias imediatas e que padecem de protelação sistemática está a conexão rodo-fluvial entre Manaus e os parceiros do Pacífico, uma emergência estratégica que reduziria o tempo e o custo nas importações de insumos da Ásia para a Zona Franca de Manaus e ampliaria as fronteiras comerciais de exportação entre o Brasil e os países alcançados por esta promissora conexão. A começar pela economia equatoriana e demais vizinhos que buscam a integração de negócios no Continente. Com eles, o Brasil tem ampliado seus investimentos através do BNDES, o que facilita entendi mentos. Trata-se da sonhada e esquecida rota multimodal ligando Manaus-Manta (Equador), por intermédio do município de Tabatinga, uma opção que reduz em 15 dias os atuais 45 de percurso entre Manaus e os países asiáticos.

No pico do esvaziamento da via comercial da Zona Franca de Manaus, ocorrido com a abertura da economia na era Collor, do início dos anos 90, o varejo da ZFM gerava 80 mil empregos e assentava a estrutura de comunicação, energia, transportes e de serviços que iria consolidar o modelo industrial. De quebra, com o turismo de compras, o Brasil começara a conhecer a Amazônia, degustar seus sabores e inebriar-se com seus mistérios, condição de viabilidade da integração nacional pela qual tanto temos lutado. Desde então, entidades de classe e agentes públicos de desenvolvimento buscam modernizar e profissionalizar a atividade comercial nos moldes de outros centros alfandegados bem sucedidos, Panamá à frente. Eizof, ajustes na legislação, armazéns alfandegados... tudo se pensou e quase nada se encaminhou no resgate e ampliação desse filão de emprego, renda e oportunidades. Empenhados em apagar incêndios, viramos bombeiros por improvisação e descuidamos a vocação de pedreiros, dispostos a calçar estradas de desenvolvimento econômico e prosperidade social.

O ministério dos Transportes já abriu brecha para o dever de casa do Brasil, cuja contrapartida estimada é investimento na ordem de US$750 milhões em infra-estrutura com a construção do porto de Tabatinga, melhorias no aeroporto do município e a construção de um entreposto comercial, inicialmente para atender acordos com a economia sul-coreana. Entre Peru e Equador, que vão acessar o Atlântico e os negócios que aí os esperam, estima-se um investimento de US$ 2 bilhões em estradas e dragagens. A outra opção de conexão ao Pacífico passa direto pelo Peru, na cidade de Paita, que inclui 955 quilômetros de estrada até os rios amazônicos. Tanta obviedade assim incomoda as expectativas do cidadão, cuja ironia lenitiva indaga, ao mesmo tempo em que teme a resposta: é por isso que é mais fácil ceder à tentação de legalizar o contrabando do Paraguai?

Zoom-zoom

Trilhos e periferia –Vaidades e bom senso, ou pitadas conjuntas desses dois ingredientes, acabaram pondo um fim na indefinição dos transportes coletivos
de 2014. O monotrilho do Estado vai integrar-se com BRT da prefeitura, com tarifa única e a esperança de que nova era de civilização vai começar. Em compartilhando tudo floresce...

Bus Rapid Transit – Com o monotrilho do Estado, a opção municipal do BRT integra classes sociais, centro e periferia, através de 52 quilômetros de atendimento nas Zonas Leste, Norte e Oeste, principalmente. Um sonho do cidadão e o resgate oportuno de uma divida urbana e social... É só ter um pouco mais de paciência.
Aeroporto e Entreposto – Ainda dá tempo de incluir na proposta de ampliação e modernização do aeroporto de Manaus, Copa do Mundo de 2014, o projeto do entreposto aduaneiro que adormece nos escaninhos da Suframa por falta de recursos e parceiros. No aquecimento para os 3 jogos da FIFA de 2014, porque não colocar em campo os negócios perenes do comércio de importados que tantos avanços propiciou à economia local ?

O tripé da ZFM – Quando o amazonense Artur Amorim, amigo, parceiro e chefe de gabinete do ministro Roberto Campos, juntos desenharam o modelo legal da ZFM, na metade dos anos 60, eles deram pesos equivalentes ao comércio, indústria e serviços, um tripé de equilíbrio e estruturação perene da economia regional. É importante meditar sobre essa premissa sempre e quando avaliarmos o modelo, seus avanços, fragilidades e demandas. Uma perna não pode ser desproporcional às demais... Não é?

(*) Empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas - belmirofilho@belmiros.com.br

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