Ademir Ramos *
A pedagogia política de Thomas Hobbes fez do terror uma estratégia para a fundação do Estado moderno, fortalecendo o soberano, como forma de governo absolutista, prometendo garantir aos súditos a vida, liberdade e felicidade resultante do Pacto Social celebrado entre eles em favor do poder absoluto da realeza secular. Inaugura-se, portanto, a partir do século XVII, as bases da teoria política e do direito civil, ordenando as relações entre Estado e Sociedade, o que mais tarde ganhará outras feições no Contrato Social de Rousseau, constituindo os pilares da democracia.
A referência a Hobbes é apenas um pretexto contextual para se analisar o desgoverno que impera no Amazonas quanto à segurança pública. Em Manaus, as primeiras páginas dos jornais estampam os ilícitos de um ex-deputado estadual associado ao narcotráfico, aos meios de comunicação, bem como, o indiciamento de alguns agentes policiais que davam cobertura as práticas criminosas do então deputado midiático.
Soma-se a esse fato, a cassação de alguns prefeitos municipais e até mesmo a prisão, não só por malversação de verba pública, mas, também por práticas de pedofilia, o que faz um grande número de político buscar abrigo nas catedrais e no marketing das aparências, dando visibilidade ao seu comportamento familiar exemplar. Presos, continuam exercendo tamanha influência no campo político eleitoral e burocrático do Estado, garantindo para si as regalias de uma prisão-parque, onde os enjaulados usufruem de regalias, que fazem inveja a Fernandinho Beira-Mar e a outros super-star do crime no Brasil.
Não satisfeitos, os deputados estaduais do Amazonas resolveram obedecer cegamente os mandamentos da Câmara Federal, aprovando para si receituário no valor de R$ 22,8 a mais do salário, que é de R$ 12 mil. O custo de cada deputado do Amazonas somado a outras regalias chega, aproximadamente, a R$ 50 mil, com pagamento de extra no valor de R$ 1 mil por sessão, sendo repassado regiamente aos 24 deputados da Casa. Embora, a Câmara Federal, o Senado e a própria Câmara Municipal de Manaus já tenham banido de seus receituários. No entanto, na Assembléia Legislativa do Estado estima-se que os deputados receberam este ano mais de R$ 2 bilhões até agora só de extra.
Amazonense... isso que é um assalto legal. E o povo? – Como diria aquele larápio palaciano: - é apenas um detalhe. Mas, os crimes continuam ceifando vidas. Dessa vez o noticiário local registra também uma onda de assalto as Igrejas, as agências bancárias e ao cidadão comum, não tendo a quem recorrer para garantir as promessas do Estado e, principalmente, dos governantes oportunistas que pensam solucionar os problemas com rompantes messiânicos seguido de forte campanha na mídia.
Se no passado o terror justificou os fundamentos do Estado moderno, atualmente ameaça a própria democracia, porque em vez de imperar a Justiça como manifestação do poder constituído, impera a impunidade, o descrédito, a corrupção e a infelicidade. Mesmo assim os poderosos aliados com os governantes carreiristas nada fazem porque tem o braço armado do Estado para lhe proteger. Mas, se continuar nessa escala e suas propriedades tiverem ameaçadas e o dinheiro público não drenar mais para a garantia de seus privilégios, eles poderão recorrer às milícias particulares e o confronto será geral, emergindo novas formas de organização social e queira o povo, novas lideranças sob o controle das forças populares.
E quem sabe, numa nova perspectiva possamos viver Manaus com menos desigualdade social, mais cooperação sob a luz da Justiça, fazendo crer aos seus filhos e a todos aqueles que adotaram como pátria, o valor da governança como expressão da responsabilidade ética, cultural e ambiental. Assim sendo, façamos dessa cidade a nossa casa, celebrando muito mais do que os 340 anos das formalidades históricas impostas. Parabéns Manaus e que tua beleza tribal seja partilhada com todos que te amam traduzida em Justiça Social.
(*) É Professor, Antropólogo e Coordenador Geral do NCPAM/UFAM.
Um comentário:
Atiçado fui ao seu cantinho e vi o quanto é belo e recomendo aos parceiros, em particular aqueles que estudam a tradição oral... e cada vez mais me convenço que a nossa Amazônia é um livro aberto, que necessariamente deve ser preservada e conservada para que todos possam decodificá-la, megulhando em sua memória subeversiva para transformar os carações e mentes dos embrutecidos que só querem ver mais-valia (lucro) com tem falado o presidente do STF. Parabens pelo trabalho e conheça ainda as obras de Brandão de Amorim, Nunes Pereira e as narrativas tribais, o texto vai enriquecer muito mais e assim seremos todos pávulos.
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