quarta-feira, 21 de outubro de 2009

VIVER, CONVIVER E COMPARTILHAR


Belmiro Vianez Filho *

É desconcertante a sofisticação do individualismo, e suas manifestações grosseiras no cotidiano de quem vive em Manaus, justamente aquela que já foi definida como Cidade Sorriso, graças à hospitalidade de sua gente e seus modos afetuosos e civilizados de tratamento. É prosaico, porém oportuno, lembrar que o visitante aqui desembarcado há poucas décadas sentia-se em casa no instante seguinte, e ao indagar um endereço, era conduzido pessoalmente pelo informante, com atenção e respeito, pelo simples prazer dos nativos em servir e cativar. Na rotina urbana do novo milênio, entretanto, com 2 milhões de habitantes, o caos do trânsito - reflexo absoluto da ausência de respeito as leis que controlam o trafego de veículos - é a melhor tradução desta Manaus que se transformou num assustador salve-se quem puder. Cada um faz o que bem entende, estaciona onde convém sua pressa e interesse, não importa a lei nem o desconforto, risco ou prejuízo causado ao outro, seu semelhante, que por sua vez se sente livre e motivado para adotar o mesmo padrão de conduta que reforça o desvario urbano com fachada de convívio social.

É proibido pedir licença, dizer muito obrigado, aguardar um vizinho atrasado pra pegar o mesmo elevador, pedir desculpas por um esbarrão involuntário, dar a vez aos idosos e deficientes, no trânsito, nas filas, nos estacionamentos..., manter a cidade limpa, zelar pelo patrimônio público, afinal, público quer dizer simplesmente que pertence a todos nós, para uso e guarda de toda gente.

Com todo respeito ao propósito de reafirmação da identidade e exaltação do sentimento nativista, incomoda a campanha de sacralização do “Orgulho”, seja amazonense, brasileiro ou lusitano. Orgulho é derivação da arrogância e do individualismo, uma confrontação do ego exacerbado com a conjugação do Nós da cumplicidade social de que tanto precisamos.

É preciso um olhar coletivo e um pacto cívico, pra arrefecer o ímpeto desse individualismo obtuso, causa imediata de tantas anomalias sociais, entre elas a violência, a exclusão social, a desarmonia familiar, institucional e por aí vai. Arriscamos dizer causa imediata na pressuposição de uma origem mais sistêmica dessa desagregação social. E não há como não especular a raiz primeira da deficiência educacional, dos descuidos atávicos, que se acumularam ao longo dos anos, e que a boa vontade dos governantes tem patinado no desafio de superar. A abolição das disciplinas filosóficas e sociológicas no regime militar e sua concepção pragmatista de ensino são apenas parte da raiz da deseducação nacional, reforçada – é bem verdade - pela gestão precária e deficitária dos investimentos no setor desde sempre. Iremos a lugar algum sem esse requisito de civilização e nobreza no trato social e educacional de nossas crianças e jovens. A tarefa é dos governos, mas não apenas, ela exige o envolvimento dos entes privados, dos meios de comunicação e instituições do tecido social. É do cidadão na relação com seus pares, e com ele mesmo, fundada na certeza e convicção de que do jeito que está fica cada vez mais difícil viver, conviver e compartilhar.

Zoom-zoom

• Importação recorde - No compasso de espera dos desdobramentos da crise, empresários do Pólo industrial definiram o plano de trabalho para as encomendas do fim do ano e provocaram a maior remessa de importação dos últimos 18 anos segundo a Alfândega, órgão vinculado à Receita Federal.

• Via aérea – E o recorde anotado se materializou no aeroporto Eduardo Gomes, que não registrava tantos produtos desde quando o governo abriu sua economia no governo Collor. A opção aérea reafirma o gargalo logístico, mas a boa notícia é de que este volume de 4,5 mil toneladas é a confirmação prática de que o fantasma da crise se dissipou, graças em parte à mobilização dos governos federal e estadual e a capacidade de negociação das empresas.

• Cúpula Amazônica – Em reunião com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, o presidente Lula propôs e foi aprovada a realização de uma reunião preparatória dos países que compõem a Amazônia Continental para apresentar uma posição conjunta da região na reunião de mudanças climáticas a se realizar em Copenhague, no mês de dezembro. Uma oportunidade imperdível de demonstrar os serviços ambientais da floresta na gestão climática do planeta e cobrar para as populações locais o pagamento dessa fatura.

• Biodiversidade – Em seu discurso, o presidente Lula falou da potencialidade e necessidade de aproveitamento do nosso banco genético amazônico para o Brasil superar seus níveis de pobreza. Seus ministros, entretanto, vacilam e protelam a urgência de funcionamento do CBA, o Centro de Biotecnologia, o embrião do pólo de bioindústria a que se referiu o presidente.

(*) É empresário e membro do Conselho Superior da Associação Comercial do Amazonas belmirofilho@belmiros.com.br

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