domingo, 11 de outubro de 2009
ENCONTRO DAS ÁGUAS: AINDA PODEMOS SALVÁ-LO
Tenório Telles*
A terra é a nossa casa e a natureza é o jardim e a fonte de nossas vidas. Maltratar a terra, agredi-la e devastá-la, significa por em risco a segurança de nossa morada, prejudicar o frágil equilíbrio que mantém vivos os rios, as florestas, os bichos e também os seres humanos. Movidos pelo egoísmo e arrogância, alguns homens têm feito exatamente isso: destruído o jardim que herdamos da providência para vivermos e nele sermos felizes. Transformaram o planeta num lugar ameaçador para a vida. E não contentes, apesar de todos alertas, seguem destruindo, queimando...
Essas criaturas que não merecem ser chamada de humanas carregam no peito não um coração, mas uma pedra. Não sentem e não se comovem com nada: falar com elas sobre flores, passarinho, rios, árvores, céu, estrelas, beija-flores... ou sobre o Encontro das Águas, é inútil. Insensíveis, não percebem a beleza que emana dessas coisas, vêem apenas cifrões e a possibilidade de levar vantagem.
Esse tipo de gente mente, intimida e destrói para alcançar os seus intentos, como têm feito em relação à insanidade de construir um porto no Encontro das Águas. Não compreende o significado de um lugar como esse – encontro de dois reios milenares que carregam em suas falas e suas águas a memória do passado, do que somos e do próprio tempo. Não percebem sequer a beleza desse lugar mágico. O pior é que não se comovem com o seu simbolismo, sua grandeza, o encanto de sua natureza divina. O argumento do dinheiro e do progresso obscureceu-lhe os olhos e os sentimentos.
Apaixonado que sou por esse santuário, que traduz a força e a exuberância de nossa terra e expressa a nossa identidade, fui ao Encontro das Águas. Num pequeno barco, naveguei-lhe as águas, maravilhei-me com a floresta de suas margens, os pássaros, as gaivotas, o silêncio e a paz que emanam desse espaço que mais que uma dádiva de Deus é uma benção. Queria me certificar de que não estava sendo inconseqüente ou irresponsável ao me posicionar contra a construção do porto das lajes.
Na verdade, eu não sou contra que o porto seja construído. Só não concordo que seja no Encontro das Águas e seu entorno. Esse patrimônio deve ser preservado para as próximas gerações. Para a nação, enfim para a humanidade. Ao voltar, emocionado com a beleza e grandiosidade dos dois rios que se embatem e se abraçam e resolvem se juntar para ser um só, concluí que pensaram o projeto errado para o lugar.
A região do Encontro das Águas deveria ser um centro turístico e de entretenimento, com espaços culturais, bosques públicos, com um grande teatro, um grande aquário com as espécies regionais e um centro de estudo e documentação da memória da Amazônia e sua gente. Seria uma maneira de gerar renda, aproveitar o potencial turístico do lugar, sem destruir esse patrimônio do povo amazonense. O Encontro das Águas não pertence à Log-In Logística Intermodal. O Encontro das Águas é um bem de nossa gente. A decisão de construir esse porto está na contramão dos debates e preocupações com a preservação da natureza.
A sociedade precisa tomar uma atitude para impedir essa estupidez antes que seja tarde. O governador Eduardo Braga, que assumir compromissos, perante a comunidade internacional, com o meio ambiente e com a defesa da Amazônia, precisa tomar uma atitude para impedir que essa insanidade seja cometida. A força da grana não deve prevalecer sobre os direitos da sociedade ou ser usada de forma irracional para destruir nosso patrimônio natural. O dever de salvar o Encontro das Águas é de todos. E ainda é tempo
(*) É Professor, escritor, editor de a Editora Valer, membro da Academia Amazonense de Letras e articulista do jornal A Crítica de Manaus.
Foto: Marisa Lima - manifestação das crianças na Audiência Pública na Colônia Antonio Aleixo.
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