quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A QUESTÃO AMBIENTAL NA DISPUTA ELEITORAL NO AMAZONAS


As eleições no Brasil para o próximo ano serão marcadas por acirradas discussões sobre as questões ambientais , não mais no sentido macro, mas referenciados nos projetos concretos que amparam as práticas das comunidades sustentáveis na Amazônia Brasileira incentivados pelas políticas públicas. O deslocamento da senadora Marina Silva do PT para o PV no tabuleiro da política nacional provocou uma cadeia de discussão com ecos nas eleições no estado do Amazonas para governador do Estado, deputados estadual, federal e senado da república.

No Amazonas, a primeira demonstração desse quadro pode ser muito bem analisada no cenário da Cúpula Amazônica de Governos Locais, que reune em Manaus, a partir da quarta-feira (07) até sábado (10), onde mais de mil prefeitos e representantes de municípios da Amazônia brasileira e internacional, além de outros dez países como Estados Unidos, África do Sul, Alemanha, Argentina e os do Pacto Amazônico. A Cúpula em Manaus agrega também pesquisadores, organizações governamentais ou não, para dicutir e formular propostas que combatam o aquecimento global do planeta respaldadas nas experiências locais dos Estados e Municípios com visibilidade e legitimidade.

Na abertura do evento, na noite de quarta-feira, o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes iniciou o seu pronunciamento formulando a seguinte pergunta – Se a Amazônia é tão importante para o mundo, por que até hoje ninguem ouviu a Amazônia sobre as questões ambientais, principalmente quanto ao aquecimento global?. A indação do prefeito anfitrião, que é um dos candidatos a governo do estado do Amazonas, foi feita com endereço certo, questionando a conduta do governador do estado, Eduardo Braga, que muito tem viajado pelo mundo para falar da Amazônia, deslocado das demandas populares, é o que se pode entender da fala do prefeito de Manaus.

Não satisfeito, Amazonino partiu para o quantitativo buscando justificar sua argumentação de palanque. Segundo ele, a Amazônia possui cerca de 40 milhões de habitantes espalhados em mais de sete mil municípios. “São pessoas que jamais tiveram suas vozes ouvidas por qualquer instituto ambiental que discute as mudanças climáticas no mudo”, afirmou. A inclusão da Amazônia nas propostas de preservação ambiental defendidas pelo Brasil, por pouco não ficou de fora do projeto que será apresentado no mês de dezembro, na COP 15, na Dinamarca. “Mais uma vez a Amazônia tinha ficado de fora das propostas ambientais defendidas pelo Brasil. É um absurdo”, criticou o prefeito. “Só fomos incluídos por que o presidente Lula ouviu nossas reivindicações e decidiu cancelar a entrega das propostas brasileiras até que a Amazônia fosse ouvida”, explicou o prefeito.

Na mesma esteira das falações, o governador do Amazonas, Eduardo Braga, defendeu, de forma messiânica, a necessidade de união de todos para a preservação do meio ambiente e a transformação do homem do interior em multiplicador de novos valores, durante a abertura da Cúpula Amazônica de Governos Locais, em Manaus.

Braga também destacou a necessidade da soma de esforços em torno de parcerias pautadas pelos princípios da sustentabilidade e lembrou que o combate às mudanças climáticas passa pela educação, pois por meio dela é possível conscientizar e ensinar ao homem do interior a preservar a natureza e agregar valor aos produtos da floresta. Ele também destacou a necessidade dos países desenvolvidos reconhecerem a importância da floresta em pé e pagarem pelos serviços ambientais por elas prestados.

A Cúpula Amazônica está trabalhando para construir uma proposta concreta que não apenas valorize o patrimônio natural do bioma, mas que possa ser inserida também nos mercados internacionais de carbono e possibilite aos habitantes da floresta a identificação dos melhores caminhos para dinamizar a conservação e o desenvolvimento sustentável.

Dois pretensos candidatos, dois discursos em posição de confronto no tabuleiro da política local. Confronto, mas não antagônico. Portanto, no primeiro momento, as feridas serão abertas e depois conforme os interesses eleitorais forem se definindo, os blocos se juntam e partem para o fortalecimento de grupo sob pretexto da preservação da Amazônia, minimizando os interesses coletivos em favor de grupos privados.

Enquanto isso não ocorre, virão à tona as práticas de parceria internacional, que em vez de ser mediada pelo Estado tem sido feita por empresas privadas, faltando com transparência e soberania. Além de se reclamar também do governador do Estado, Eduardo Braga, quanto ao seu posicionamento relativo à pretensa construção do Terminal Portuário das Lajes, instrumentalizando o Instituto de Proteção Ambiental do Estado, como órgão licenciador, para avalizar o projeto em discussão junto ao Movimento Social, que é frontalmente contra a construção do Terminal Portuário das Lajes, nas proximidades da Tomada de Água da Zona Leste, bem como nas imediações do nosso magnífico Encontro das Águas.

O processo eleitoral já começou, resta saber até quando o governador Eduardo Braga, que pretende fazer o seu sucessor no Estado e concorrer ao Senado Federal, irá agüentar o desgaste em defender esta construção, que põe em risco a saúde dos homens, mulheres e do próprio meio ambiente. Talvez, ainda não esteja convencido da importância da questão ambiental na Agenda Política. No entanto, quando tomar consciência de sua responsabilidade – fora do governo - talvez seja tarde para recompor as perdas sofridas em seu índice eleitoral, fragilizando, sobretudo, o grupo político que pretende assegurar no poder frente ao governo do Amazonas. Os ladinos da política ensinam que uma andorinha só não faz verão, que eleição é grupo, é bom que se aprenda antes de tudo ser consumado.

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