domingo, 25 de outubro de 2009

HISTÓRIA DE MANAUS CONTADA DE PONTA CABEÇA

Por desvio de conduta de seus governantes algozes, a cidade de Manaus, capital do Amazonas, o maior estado da federação brasileira, concentra uma densa população traduzida em mais de dois milhões de habitantes. Nesse território circunscrito entre o Rio e a Floresta vivem homens e mulheres; crianças e jovens; negros, brancos e índios que misturados geraram novas matrizes culturais capazes de seduzir o mundo pela sua beleza e especificidade.

No passado, os povos indígenas com sua diversidade lingüística e cultural dominavam todo o cenário, mas não operavam politicamente controlando a força dos instrumentos de Estado, ficando sob a direção dos colonizadores e de uma nobreza provinciana subalterna, que até hoje se faz de morta para usufruir dos favores oriundos de Brasília ou dos interesses privados, particulares. Os colonizadores, tudo fizeram para desarticular a força dos povos indígenas nessa região, recorrendo sobremaneira às forças da Igreja e do braço armado do Estado por meio das tropas do sertão abrigada no Forte São José do Rio Negro fundado em 1669, em área estratégica desse território.

Mesmo assim, os povos indígenas resistiram e conseguiram varar o século se afirmando como povo determinado culturalmente frente às invasões coloniais e aventureiras que até hoje ocorrem em seus territórios. Contudo, Manaus não é mais somente uma cidade indígena, é também uma cidade caracterizada por sua diversidade de cultura oriunda de um processo migratório centrada na produção da indústria eletrônica implementada no Pólo Industrial, que foi inaugurado pela Zona Franca de Manaus, a partir de 1967.
No entanto, os que manejam os aparelhos do Estado e gerenciam a força do capital da indústria eletrônica, quando querem se afirmar frente aos nativos fazem questão de dizerem que não são manauaras, mas manauenses.

Essa semântica identitária do mandonismo local tem raízes coloniais. Pois, Manauaras, são os filhos da terra dos Manaós (Manaus) - designação lingüística do universo da Língua Geral Amazônica – por sinal, ainda muito falada na Região do Rio Negro. Enquanto, Manauense agrega o sufixo da língua portuguesa colonial, que até hoje sofre para exercer o domínio em todo o Estado devido o enfrentamento com as culturas indígenas locais.

A dominação se faz de diversas formas seja lingüística, histórica, geográfica etc. É o caso lendário do aniversário de Manaus – 24 de outubro -, que os burocratas da história positiva e lusitana do Estado do Amazonas resolveram decretar a origem da cidade sob a fundação do Forte São do Rio Negro - aparelho repressivo colonial promotor da guerra justa e redução dos povos indígenas nesse território -, negando de uma vez a tradição, a cultura e a história desses povos. Para eles, historiadores da corte palaciana, esses povos não tem história, tem somente etnografia. Dizem também que os povos indígenas não fazem Arte, mas sim artesanato. No entanto, para o trabalho escravo eram os fortes e robustos capazes de produzir a riqueza dessa elite provinciana aliada com aventureiros aptos à rapinagem e ao saque do patrimônio dos Manauaras.

Portanto, para os filhos dessa terra - nativo e adotado, que conhece e ama o Amazonas como sua pátria - nunca, jamais - devem aceitar o imperativo neocolonial da fundação da história do Amazonas ancorado na Fortaleza do Rio Negro (1669), tal façanha assemelha-se ao totalitarismo que reconta a história de ponta cabeça, a partir da criação dos seus heróis militares e ditatoriais, tentando apagar a memória do povo, que é o principal protagonista das lutas sociais.

No entanto, superado a insensatez das elites, a memória subversiva popular se manifesta na altivez de sua gente, gritando para o mundo ouvir, que essa terra tem dono e não aceita mais o império da desigualdade e exclusão social, permitindo que outros falem por eles. É hora de se resgatar a voz e se afirmar de forma soberano, garantindo a sustentabilidade e a integridade de seu patrimônio cultural, científico e ambiental para essa e futuras gerações.


Foto: Truduz vida, beleza e muita preocupação quanto ao futuro das crianças da Amazônia. Saiba também que Manuas é toda cortada por igarapé ( são braços do Rio Negro), por sinal pouco respeitado no conjunto das políticas públicas.

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