segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A BELEZA DA JUVENTUDE E O DESAMPARO SOCIAL

Ademir Ramos (*)

Em situação os homens são bem diferentes, podem dissimular ou se afirmar frente à tragédia que a vida proporciona. Na semana que passou compartilhei da dor de uma família amiga por ter perdido seu filho de 16 anos, vitima de acidente automobilístico. É sem duvida desesperador vivenciar esse momento de separação violenta, em que pai, mãe e amigos se encontram para reconhecer o fato e ao mesmo tempo ritualizar a morte para o viver do cotidiano.

Os acidentes automobilísticos por todo mundo têm ceifado milhares de vida e, principalmente, dos jovens. O fenômeno, na verdade, já se transformou em caso recorrente, exigindo dos especialistas análises mais densas quanto à trama da matéria em seu contexto urbano e relacional.

Mas, por que os jovens? Quais seus determinantes culturais e sociais? Quais os limites da Família, do Estado e da Sociedade? O fato impõe uma série de indagações na perspectiva de se compreender o cenário em que esses atores estão envolvidos.

Em si mesmo o fato tem a sua especificidade local. No entanto, outras variantes denunciam a unidade significativa que representa o fenômeno na trama social. Por isso, deve-se ampliar a discussão nos meios de comunicação com envolvimento dos próprios jovens usuários do sistema viário urbano motorizado ou não para que conheçam a complexidade do ato e quem sabe possam se resguardar dos futuros acidentes.

Uma das formas de embrutecimento dos homens é a ignorância seguida do individualismo bestial. Comporta-se como se nada houvesse e nem tampouco fosse parte do problema. Tal atitude não contribui em nada para resolução das questões urbanas. Pois bem, como se sabe formas de violência como esta, têm sido constante nas estruturas sociais, independente de status ou classe.

O que tem ocorrido nesse processo é que os jovens entre 14 e 18 anos, tratando-se de uma situação hipotética, ampliam suas relações sociais, consolidando grupos naturais às vezes em conflito com os valores familiar. Dessa feita, os pais perdem o controle da situação e deixam o jovem à mercê do impulso do coletivo.

O conflito de valores e de práticas pedagógicas pode suscitar novas reflexões morais, quando se tem com quem dialogar. Na ausência desta prática o domínio do coletivo se faz pelo autoritarismo do fazer pelo fazer.

O grave de tudo é quando nessa circunstância tem-se acesso às drogas, bebidas e demais facilidades que o crime oferece para assegurar a participação do jovem na rede do tráfico.

O Estado por sua vez tem sido omisso frente às dificuldades que a família apresenta. Sua única atitude tem sido a repressão policia, quando ocorre. Portanto, indignado exige-se dos governantes formulações de políticas públicas em atenção à família e ao jovem cidadão, centrando na escola e nas oportunidades de trabalho, o combate efetivo à violência armada, salvaguardando a vida e a dignidade da juventude brasileira.

A tragédia vivenciada por milhares de famílias no Brasil tem que ser reparada por gestos concretos, que venham mobilizar a sociedade por meio de suas agências educacionais, profissionais, que promovam campanhas educativas e ofereçam novas oportunidades aos jovens como testemunhas vivas de nossa história.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM. (Tema recorrente).

Um comentário:

Wendel disse...

É interessante notar a sociedade covarde em que existimos, e acima de tudo o regulamentador dessa sociedade, o estado. Aonde iremos chegar, afinal já estamos bastante longe. Adolescente fumando crake num local em que todos sabem que existe e não fazem nada, jovens se traficando e até se prostituindo pela essa maldita droga e pessoas malditas que sabem disso e não fazem nada. O que precisamos é de políticas públicas certas e permanentes que dêem um resultado eficiente e eficaz. Não precisamos de políticos ladrões que só fazem roubar, ou de uma zona franca que faz enfraquecer mais e mais nossa economia. O que precisamos é verdadeiramente de educação e cultura, o resto é resultado.