quinta-feira, 15 de outubro de 2009

UM POUCO MAIS SOBRE O NOBEL DE ECONOMIA 2009


Khemerson Melo Macedo (*)

A entrega do Prêmio Sveriges Riksbank em Ciências Econômicas em Memória de Alfred Nobel (popularmente conhecido como Prêmio Nobel de Economia) causou frisson na comunidade internacional e na imprensa local pelo fato de uma das contempladas ser mulher, o que comprova um desvirtuamento do tema, visto que o trabalho da cientista política Elinor Ostrom nos apresenta uma nova perspectiva, no que diz respeito à gestão dos recursos naturais serem gerenciados não pelo Estado ou pela Iniciativa Privada, mas pelos próprios comunitários. Esta análise insere-se nas discussões a respeito da economia do pós-crise onde a capacidade gerencial das grandes corporações e do próprio Estado estão sendo postos cada vez mais em discussão, na medida em que os velhos modelos passam a não responder mais às demandas surgidas neste novo cenário.

Na esteira dos acontecimentos globais como a escassez dos recursos naturais (especialmente os pesqueiros), desmatamento e a preocupação constante com a organização dos espaços gerenciados por comunidades tradicionais, o trabalho da cientista política Elinor Ostrom insere-se num contexto onde novas visões se incorporam à idéia de que o conhecimento tradicional de determinadas comunidades pode sim servir de base para a auto-gestão de seus próprios recursos naturais, a partir da organização e participação comunitária, uma vez que se valorizam os conhecimentos tradicionais destes indivíduos e a capacidade que estes têm de responder às novas demandas sem interferência externa, além de adotarem no processo, mecanismos de controle e distribuição dos recursos em jogo.

Numa época em que o tema da sustentabilidade dita as políticas públicas de diversos governos, Ostrom tem a coragem de desafiar a Teoria Econômica clássica com uma nova abordagem, dando-nos um recado de que o meio ambiente será cada vez mais protagonista nas discussões políticas e econômicas do mundo. E legar aos indivíduos a capacidade destes gerenciarem seus próprios recursos é, obviamente, uma importante mudança de perspectiva, uma vez que estes passam, cada vez mais, a protagonistas de suas próprias Histórias. Mas, fica a pergunta: em que momento esta perspectiva passará da teoria a prática? É a pergunta que passa a ecoar a partir de agora. Ostrom apenas iniciou o debate, agora é a vez de levar adiante a questão.

(*) Graduando de Ciências Sociais e Coordenador de Pesquisa do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

Khemerson Macedo disse...

Em tempo: Elinor Ostrom foi uma das referências analisadas pelo mestre em sociologia Tiago Jacaúna em sua dissertação "A Ressignificação dos Comuns", demonstrando o diálogo da UFAM com os principais centros de pesquisa do mundo, dando qualidade ao trabalho supracitado e inserindo a sociologia nas principais discussões internacionais a respeito da economia, meio ambiente e da própria sociologia.