terça-feira, 4 de agosto de 2009

AMAZÔNIA, DO BRASIL E DO MUNDO



Philip Martin Fearnside1;
Flávio J. Luizão1;
Henrique E.M.Nascimento2;
José Luis C. Camargo2;
Rita C.G. Mesquita1 &
Regina C.C. Luizão1


Conservamazônia*. Os serviços incluem a manutenção da biodiversidade, o ciclo hidrológico e os estoques de carbono, que evitam a emissão de gases de efeito estufa. Embora haja reconhecimento geral do fato que esses serviços têm um valor muito maior do que os lucros monetários A floresta amazônica fornece serviços ambientais de grande valor para a população humana da ganhos pela destruição da floresta para exploração madeireira e implantação de pastagens, o avanço contínuo do desmatamento na região reflete a falta de mecanismos para tornar os serviços ambientais uma alternativa competitiva nas decisões sobre usos da terra na maior parte da Amazônia hoje.

Há urgência em realizar uma transformação da economia regional para substituir a base destrutiva que predomina hoje por uma economia baseada no suprimento de serviços ambientais. Isto requer avanços em muitos campos, desde a esfera diplomática e política até a pesquisa científica. Visando contribuir a este esforço, a Sub-Rede CONSERVAMAZÔNIA, do Programa Piloto para Conservação das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), Fase II, focaliza as suas pesquisas sobre vários aspectos chave do funcionamento da floresta intacta, da floresta perturbada por fragmentação e mudança climática, e das áreas desmatadas. A Sub-Rede tenta integrar as informações de diferentes níveis, propondo ações que maximizam o fornecimento dos serviços ambientais das 12 florestas e da paisagem já desmatada, e interpretando diferentes escolhas para desenvolvimento futuro em termos das suas conseqüências para os serviços ambientais.

2. Métodos

Os métodos usados são variados dependendo de cada tipo de pesquisa. Medidas de biomassa envolveram amostragem destrutiva com pesagem completa de mais de 300 árvores no arco de desmatamento, medindo as dimensões físicas, densidade de madeira e outros parâmetros. Estudos de ciclagem de carbono e nutrientes em floresta envolveram amostragem de liteira e água e monitoramento de fluxos químicos em microbacias hidrográficas sob floresta e em área alterada, com pastagem e sucessão secundária.

Estudos de crescimento secundário envolveram monitoramento de 18 transetos (parcelas permanentes) com 4.500 árvores. Estudos da dinâmica populacional das árvores na floresta envolveram monitoramento das mais de 65.000 árvores que estão mapeadas e identificadas nas reservas do Projeto - Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF), ao norte de Manaus. Estudos de fenologia e propágulos envolveram monitoramento mensal da floração, frutificação e sucesso reprodutivo de árvores no PDBFF.

Divulgação dos resultados incluiu cursos de extensão e para tomadores de decisões, comunicação direta com órgãos estaduais relevantes, e exposição em palestras, entrevistas e ensino. Detalhes sobre os métodos e resultados se encontram nos sites dos grupos componentes da Sub-Rede: http://pdbff.inpa.gov.br; http://LBA.inpa.gov.br; e http://AGROECO.inpa.gov.br.

3. Resultados

A Sub-rede CONSERVAMAZÔNIA tem concentrado os seus esforços no Estado do Amazonas, que é um local crítico para o futuro rumo de desmatamento e de perda de serviços ambientais. Diferente de locais onde o processo de desmatamento já está em estágio avançado, como nos estados de Pará, Mato Grosso e Rondônia, grande parte do Estado do Amazonas ainda se encontra sob floresta intacta devido à dificuldade de acesso a partir das fontes de migração. Tudo isto está prestes a mudar se forem construídas as 13 estradas planejadas no Estado, começando com a rodovia BR-319 (Manaus-Porto Velho) (Fearnside & Graça, 2008).

Uma modelagem do avanço do desmatamento na Área de Limitação Administrativa Provisória (ALAP) da BR-319 indica o rápido avanço do desmatamento em áreas fora de Unidades de Conservação após a abertura da estrada. As áreas protegidas planejadas teriam um efeito importante na redução de desmatamento na ALAP, estabelecendo a diferença entre um cenário de “conservação” e de “negócios como sempre” totalizando 310 milhões de toneladas de emissão de carbono.

Este carbono tem um valor considerável, e as diversas considerações no calculo do valor deste serviço ambiental constituam um dos principais assuntos na economia ecológica hoje. Essas considerações incluem os efeitos de vazamento, incerteza, permanência e o valor atribuído ao tempo. Pesquisas sobre a biomassa da floresta têm reduzido a incerteza sobre os valores das emissões de carbono provocadas pelo desmatamento, melhorando os dados sobre a variação espacial da densidade da madeira, do conteúdo de água, da altura e outras características alométricas das árvores, da contribuição relativa das copas das árvores e das árvores pequenas no total da biomassa (Nogueira et al., 2008). Estas melhorias, sobretudo no arco de desmatamento, têm diminuído, por exemplo, a estimativa para emissão em 2004 em 24 milhões de toneladas de carbono, quantidade equivalente ao triplo da emissão anual da cidade de São Paulo (Nogueira et al., 2007).

Estudos do ciclo de carbono na floresta natural estão ajudando a resolver uma das grandes controvérsias da última década sobre o papel da região no clima global, isto é, o grau em que a floresta funciona como um sumidouro de carbono, retirando gás carbônico da atmosfera. As pesquisas indicam um fluxo substancial de carbono fixado pela floresta sendo transportado pelos pequenos cursos d’água em forma de carbono dissolvido e particulado, o que implica neste carbono sendo oxidado e lançado de volta ao ar, quando chega ao Rio Amazonas e outros rios e lagos, onde um processo de oxidação maciço já foi estimado (Luizão, 2007).

O número de queimadas sucessivas nas pastagens mostrou ter o efeito de retardar a recuperação dos serviços ecossistêmicos da 14 decomposição da matéria orgânica e da disponibilização dos nutrientes no solo. Verificou-se um acúmulo considerável de carbono a baixas profundidades nos baixios arenosos de floresta, em forma lábil e, então, potencialmente susceptível à liberação para a atmosfera em forma de CO2.
Entre as árvores potencialmente reprodutivas, 80,7% reproduziram na floresta contínua comparada com apenas 56,5% no fragmento florestal, indicando uma ameaça adicional, até agora desconhecida, da fragmentação que acompanha o desmatamento na Amazônia.

4. Discussão e Conclusão

Entender a ciclagem de nutrientes na floresta é essencial para entender a persistência da floresta e a sua resiliência ou fragilidade frente a mudanças como a fragmentação, a exploração madeireira, os incêndios e as mudanças climáticas (Bohlman et al., 2008; Laurance et al., 2006, in press; Luizão et al., in review; Nascimento et al., 2006). Entre estes, os efeitos estudados foram os impactos da fragmentação na reprodução das árvores.

O processo de produção de sementes e arvoretas na floresta é importante para o esforço de reflorestamento e para desenvolvimento de sistemas agroflorestais. O enriquecimento de capoeiras com frutíferas e essências madeireiras ajuda a manter as funções ecológicas da floresta enquanto gera produtos com valor comercial.

Estas medidas são especialmente importantes na área de Manaus, onde há extensas áreas de vegetação secundária em risco de invasão se a rodovia BR-319 for aberta, trazendo os processos e atores do arco de desmatamento para a Amazônia Central. Para a floresta primária ainda intacta, os serviços ambientais oferecem o potencial mais valioso e mais sustentável para manter as populações tradicionais na região (Fearnside, 2008).

5. Referências Bibliográficas

Bohlman, S.A.; Laurance, W.F.; Laurance, S.G.; Nascimento,
H.E.M.; Fearnside, P.M. & Andrade, A. 2008. Importance of
soils, topography and geographic distance in structuring central
Amazonian tree communities. Journal of Vegetation Science 19:
863-874.


*Artigo-síntese da sub-rede CONSERVAMAZÔNIA - A conservação da biodiversidade e dos serviços ambientais da floresta como base para o desenvolvimento sustentável da Amazônia: resultados da sub-rede. Autorizado por Philip Martin Fearnside.

(1) Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (pmfearn@inpa.gov.br)

(2) Associação de Levantamento Florestal do Amazonas.

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